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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

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Elis Regina - Fascinação (1978)

Mulher

Mulher!
Regina Barros Leal
Eu senti um gosto de cereja em minha boca sedenta
Cortei as rosas brancas para fazer um buque
E me presenteei
Avermelharam-se com minhas lágrimas de amor distribuído
Corri então pelos campos e varri a areia dos meus olhos de esmeralda
Ardiam e não me deixavam ver o sol nutrindo a terra de possibilidades.
Passei as mãos calejadas de luta pela liberdade na tentativa de romper a escuridão
Nas frestas do espaço construído pelas ilusões, adentrei nas bolhas de sonhos coloridos.
Encontrei minhas duvidas cortantes, minhas paixões alucinantes, meu Eu, minha agitação.
Vi-me mulher! Combativa! Desiludida. Esperançosa.
Laçando esperanças na estrada e com a espada dilacerava a terra em sulcos profundos
Forte e frágil, triangulo e quadrado, nada e plenitude.
Observei e sorri! Grande e pequena, meiga e cruel, mas mulher.
Aí vi a diferença de nem sei o que!
Gostei e se eu pudesse nasceria de novo.
Com a alma diluída nos fluidos amorosos
A feminilidade umedecida de quimera, do complexo e do real.
Mulher simplesmente mulher

Ao redor


Olho a noite da janela do meu quarto aconchegante
Respiro languidamente e o percorro com um olhar sedento de inspiração
Ao meu redor vejo os quadros, frutos de mãos e mentes criativas
Vejo a jangada, a rede de pescar, o barco, os peixes, o samburá e as iscas
Homens e mulheres do mar, despenteados, emagrecidos
A Maria Fumaça com sua magia de trem a vapor num passeio sem rumo
No lado esquerdo, um comboio arrastando-se ao som do tempo
E o jarro de flores na mesinha de madeira? Posta-se à frente da estante de madeira de lei
Perto, logo junto a janela, uma rua estreita com andantes da noite, solitários errantes da vida.
De repente, paro e controlo meus pensamentos, pois jorram memórias em suas telas
Ouço gargalhadas e gritos de surpresa! Ruidosos de entusiasmo da arte final
Quedo-me diante da indizível emoção! Compartilhei, por um segundo um tempo diluído
É noite!
E madrugada adentro continuo pasmada diante do inusitado.
Vejo-me diante da beleza do estético cenário e descansei o espírito
Dormi ao chegar o dia...

domingo, 9 de novembro de 2014

Um dia….

Um dia….
                           
     Regina Barros Leal


            Retirava do guarda roupa vestidos os mais variados, e nada dava certo. Sentia-se desajeitada. Os braços enormes e o rosto mais largo. Não podia ser assertiva naquele momento de dúvida. Seu interior sangrava . Mas não entendia o porquê.
            A solidão bravejava, e ela calava ! Esse sentimento de desconforto assolava o seu peito e não sabia  o que era. Sentada no banco de madeira com os  olhos marejados. Nada conseguia parar o súbito  pranto.  E ai?. Era como se nuvens negras acenassem uma tempestade.
                O céu escureceu e a profunda  tristeza veio junto.


Mal-estar

Mal-estar

                                               Regina Barros Leal

Uma sensação de queimação no estômago me incomoda. Bebo leite na esperança de amenizar o fogo que sobe à garganta e, aflita, sinto um gosto amargo na boca. O coração bate de tal forma que o tenho em minhas mãos pedindo liberdade. Ah! É difícil conviver com o mal-estar que encurva o corpo deixando-o vergado como uma árvore ressequida, seca, murcha e feia.
         Sento-me à mesa e deparo-me com um prato de sopa cheio de farelos de pão. Coisa do João, que quase sempre deixa o rastro de sua presença gulosa. Olho ao lado e só vejo a domesticidade entranhada nas paredes, na geladeira, no fogão. Um ar de feminino tempero, cheiro de comida feita e de leite derramado. Não sei como entornou a xícara na toalha branca.  Levanto-me para apanhar o pano de prato e enxugar mas,  escorrego numa pequena poça de xixi da cadelinha do meu filho.  A danada vive sujando o piso! Mas é tão achegada. Pula de alegria solicitando atenção quando começa a chegança do trabalho. Faz carreira, rola no cão, pula e late fino. É uma alegria só.
Espreguiço o corpo que geme por descanso. Olho minhas mãos e percebo que a pele está seca. Preciso de creme. Eu sempre sou muito distraída. Elas precisam de cuidados. Vou tentar amanhã começar o tratamento. É sempre assim.
Sinto-me fogo, ardendo dentro de mim e bebo muita água e a quentura não passa. Vou ao armário onde guardo os remédios de urgência. Pronto, um antiácido. Olho o relógio e escuto seu ritmo. Tic tac. Ritmo de vida de muita gente. Tic tac. Compassado... Igual... Sistemático... Padronizado. Fico profundamente triste ao confundir-me com o relógio. Tic tac. Será que sou assim? Eu rejeito qualquer semelhança. Eis que, por mais que tente. De quando em vez, lá estou como o relógio. Tic Tac Tic Tac. Minha tristeza se agudiza pela sensação de desconforto. Lembrei-me dos dias em que ao mergulhar no mar revolto, perco o equilíbrio e bebo água misturada com terra. É uma sensação de desespero. Aquela terra entrando e rasgando a garganta incomodada,também, pelo sal. Quente, um  mal estar! Olhos irritados e o corpo doído. Vai e vem. O mar requebra-se em ondulações incertas e traiçoeiras. Lembrei-me de muitas pessoas. Mergulhei com algumas e as molhei com água salgado do mar. Um pouco de vingança imaginária. Logo depois as banhei com a serenidade de águas tranquilas. Perdoei e repudiei os pensamentos mesquinhos.
Respiro e inspiro, desejando aliviar o desconforto. Ainda tenho a sensação de sol quente, ardendo e fogo na mata. O ardor continua forte. Levanto-me, desta vez, para dissipar o mal entendido entre a azia e o meu ser em infortúnio. Bebo leite morno com canela. Ah! Delicioso. Alguns minutos e sinto que o fogo abrandou e meu estômago tomou jeito. Graças a Deus.  A calmaria.
 O silêncio e a cumplicidade de um copo. Embrenhei-me naquela realidade noturna da sala de jantar iluminada por lâmpadas fluorescentes.









Instante

Instante
                                               Regina Lucia Barros


Corpos que se enlaçam num abraço mudo...Silêncio. Infindáveis murmúrios. Corpos quentes, suados, sôfregos de prazer... Ah! O prazer do êxtase de quem sente o infinito. Nesse jogo paradoxal onde a ternura e a violência se diluem em gestos inconstantes, nos encontramos. Meio que zangados, mas, enternecidos com o encontro. Os dedos ágeis se misturam na busca de cada canto e recanto de nossos corpos. O quarto, cúmplice silencioso, acolhe nossas buscas...Cada vez mais insolentes. Ah! De quanta insolência o amor se veste e se descobre no desnudamento das nossas resistências! E, nesse instante de desvairado amor, ouvimos nossos sussurros cada vez mais inconvenientes se escutados fora da noite e do nosso quarto. Suados. Cansados e intrépidos não paramos e nesse tempo circunstante de delírio, nos despedaçamos de amor, prolongando-se indefinidamente naquele momento. Desnudados nos fartamos em mil infinitos prazeres. Ah! Que espécie de graça nos oferece a natureza! O gozo... O encontro de quem faz amor e sexo sem censura. Percebo que o tempo, naquele momento, pára... Eterniza-se num segundo e, então, é que descubro a mortalidade do prazer sentido quando ele se desvanece.


















Tempo

Tempo
                          Regina Barros Leal
           
            Foi-se o tempo de encontros infinitos. Foi-se o momento da revelação sublime. A cotidianidade permitiu o desvanecimento dos sonhos infindáveis. Ah! Quem sabe o que virá depois? Eternos gestos de cumplicidade vãs ou finitos sentimentos de perdas recorrentes? Não sei se a vida se nos revela como uma incógnita perdida na irremediável capacidade de sonhar. Há tantas coisas que não se compreende pela racionalidade humana, bem como tantas outras que se explicam. Veja, se a dor que nos acompanha não se resguardasse nos recantos de nossa alma, como poderíamos ser felizes, nem que fosse por um instante?  Viver significa morrer a cada dia, mesmo assim insistimos, e é a aventura de viver e a capacidade de nos sentirmos eternos que marca e singulariza a existência humana.
           Creio ser hoje um daquelas ocasiões em que nos reconhecemos frágeis, infinitamente frágeis pela certeza de nosso tempo finito. Percebo que este momento me faz pensar em outros que virão e, é essa certeza que me permite continuar sendo. Mesmo assim, infindáveis indecisões me acercam a alma atribulada pela dúvida e por não tocar as estrelas e sentir o indecifrável revelado no sentido cósmico.
            Tanta racionalidade e emoções efêmeras quando da constatação da irremediável partida. A consciência do limite me embaça os olhos e não me deixa ser tranquila neste instante. Choro a convicção da perda, da saudade e do sentimento de ausência dos que se fizerem presentes em minha existência.
            Nem sei se deveria escrever sobre tal emoção doída, mas como negar o que se passa n ‘alma? Um lamento silencioso se espalha e encontra refúgio, e não sei ao certo onde ele se esconde.

            É tempo de dor, de alegria, de sentimentos contraditórios! É tempo de reconhecer um tempo que esvairá no tempo. A temporalidade existencial é farta de significados humanos. Não é só a cronologia que define o tempo, mas, sobretudo o valor que a emoção lhe confere. O tempo de hoje, para mim em especial, tornou-se um tempo envolvido de dúvidas, da certeza das incertezas, de um tempo que ainda não defini. Não será essa perplexidade que faz do tempo uma eternidade?

Desconforto


Desconforto

                                   Regina Barros Leal

Sentimento inquietante
Imenso desprazer
Embora por um instante
Mesmo que pare o vento o seu coração se faz ventania
Mas não sabe ao certo
Desespero que surge e a deixa atônita
Aventurar-se nos sonhos cálidos do gesto terno de quem ama calmamente
Quem sabe?
Mergulhar nas ondas insinuantes da acanhada ternura escondida na timidez adolescente
Desconforto imenso se acerca e inebria a lucidez.
Desnuda a insensatez e gestos impensados de quem não aprendeu a dissimular
Revela a insensatez dos punhos cerrados a mostra
Mas, tudo se desvanece no momento que finda.
Desencanto
Desconforto.
Ausência do porto seguro
Âncora presa ao abandono
Insinuante sentimento que entontece
Atordoa.
E por que o seu desassossego?

 

Conforto

                                                     Regina barros Leal

           
                  Dizia para si mesma. Seu consolo estava na crença do que fazia sentido em sua vida. Sim, fazia sentido mesmo o que parecia não ter. Buscar o nexo das situações, das coisas que acontecem é buscar o seu significado. Seriam a mesma coisa? Seria a essência?  Aí então percebia a incomensurável disposição do ser humano em descobrir elos que parecem esquecidos. Viver é jogar-se na plenitude do tempo sem esquecer a natureza do relativo e do finito. Multiplicidade e entrelaçamento de espaço e tempo. Diálogo entre ordem e desordem. Como então sentir o infinito na compreensão do ser finito?  Como compreender o devir, o ser, quando sequer temos a consciência do tempo humano? O que fazer com o tempo se ele se reveste de uma dimensão não alcançável pela finita natureza humana?  Incógnita?  O homem. O tempo. O inalcançável. A humanidade do homem.
Conforta-me saber que não estou só na imperscrutável penumbra desses pensamentos. A buscas do sentido dá significado a existência do homem. O estar sendo. O devir.  Desconstruir para reconstruir significados temporais. Quem não busca? Por mais difícil que seja, o homem ao pensar sobre a sua existência, expressa um movimento, uma andança que pode ser uma trajetória de sonhos. Ou pesadelos?
O que alivia? Gosto de saber que a vida é um mistério, um belo dia bem vivido, uma dor aparada, um sentimento de amor. Ah! A beleza da generosidade dos homens. E porque tanta angústia?
        Não sei.







A mesmice


A mesmice
                                   Regina Barros Leal

            Essa angústia que oprime o peito diante do caos que se apresenta avassalador carregando o ânimo de lutar.
            Ao visitar uma amiga, Lúcia deparou-se com sua companheira lamentando-se da vida, da inalterabilidade do dia a dia.
 O quarto estava na penumbra, uma pequena luz mal iluminava o ambiente. Um móvel antigo compunha o austero ambiente. Sentia a amargura desprendendo-se das paredes e espalhando-se pelos objetos do aposento.
           Enquanto percorria o olhar pelo ambiente, ouviu sua amiga dizendo:

-                     É tudo sempre tão igual! As mesmas brigas, o mesmo ambiente acinzentado preenchido de senões infindáveis que me deixam tonta e quase não consigo raciocinar. Às vezes me vejo enroscada por fios invisíveis que me aprisionam em suas intricadas voltas, como um novelo em desalinho. Sinto que o tempo é longo, se eterniza em cada situação de desalento. E assim, me arrasta, rasgando minha alma aflita pelo desencanto.

-          Minha amiga, esse sentimento faz parte da vida. O que gostaria de fazer? Pergunta Lúcia.

-            Gostaria de poder mudar tudo. Recomeçar e pensar em flores colhidas ainda molhadas pelo orvalho da madrugada e sentir a alegria de uma adolescente descobrindo o amor, com o peito arfando de desejos. Queria ter esperança. Doce esperança que torna e faz da vida uma permanente e infindável rede de momentos cheios de ternura e descoberta.

-          Compreendo. Disse ao escutá-la

-                   Sabe Lúcia, mesmo que os conflitos existam, estes não podem abarrotar as existências humanas, a tal ponto que sufoque os nossos sentimentos. Às vezes, sinto-me cansada dos dias penosos, mas, contraditoriamente, percebo meu espírito teimosamente jovem, contrastar com o peso e a carga de tantas responsabilidades. Ah! Este sentimento forte de amar é que termina afastando o mau humor que teima em impregnar minha alma de desilusão.  Hoje é mais um dos dias em que reconheço que os medos são superáveis. Enfim, é um paradoxo!
E dizendo isso, abraçou Lúcia forte, como que procurando um porto seguro.
 Lucia disse:
-  Tais sentimentos são temporários, transitórios, ocasionais. Tudo passa.  Ela observou que dissera algo que lhe pareceu senso comum.
            Passou um bom tempo com ela.  Sua atormentada amiga, deitada em uma rede, balançando-se continuava a falar de suas perdas, dos ganhos na vida, dos sonhos perdidos, das grandes e angustiantes desilusões.

             Durante um tempo, longo, demorado, carregado de dor, Lúcia tentava aliviar sua alma atormentada. O intento falseava a realidade. Só ela poderia mudar. Foi uma delongada conversa e Lúcia pode perceber feridas, ressentimentos, mágoa e desilusão. Ela insistia na tristeza que a consumia.. Depressão! Uma dor diferente! Ela comentava que, por mais que se esforçasse ela voltava. Implacável. Indiferente a sua vontade. Algo indecifrável. Só sabe quem sente. E não disse mais nada. Fechou os olhos e ficou a pensar. Adormeceu.
            Márcia saiu de mansinho. Depois telefonaria...











O desencanto

O desencanto

                                           Regina Barros Leal

Espreguiça seu corpo extenuado de esperar um sono que não chega. Passa as mãos pelo rosto com um certo jeito de inquietação. Nesse dia Márcia tivera uma contrariedade que embaciou o seu senso de humor. Avassaladora emoção que comprime o peito e embrenha-se no seu corpo inteiro.Desalento. Raiva. Aflição. Forte turbulência. Não sabe. Só constata seus sentimentos

Puxa vida, mais uma vez estava diante do quase inevitável. Essa impressão de impotência a aborrecia. Tal circunstancia lhe enchia de indignação. Deu-se conta  da presença da mediocridade nas falas e  a procura de soluções insensatas por aqueles que não percebem as  sutilezas subjetivas do outro. São tão distraídos!

Márcia não conseguira ainda aceitar o ocorrido, e percebia o que estava oculto na norma social. Gostaria de romper com a formalidade que amarra e engessa as emoções e que, em  nome dela os indivíduos regem suas vidas. Bolas, quando aprenderia a dissimular?  Imaginava-se em m casulo artificial onde nada o romperia. Seria possível, já que não conseguia renegar seus sentimentos, nem tampouco, escondê-los.
 Ainda sentia o gosto amargo da decepção. Ah! Esse ardor queimante da dor irada! Da lágrima retida. Uma dor que golpeia a existência.
          Aquela noite seria densa de conflitos , quanto todas as outras em que se depara com sua impulsividade traiçoeira. Incrível! Rumina a decepção.  É tedioso saber que a transparência da emoção humana incomoda uma sociedade de falsas aparências. A dúvida acastelada não se manifesta como que para preservar a norma válida. E seu insensato modo de dizer a palavra solta, depreendida da regra? Reconhece o desatino, a imprudência, o jeito destemperado de preservar o justo. Mas, quem a poderá julgar? 

 Meu Deus! Quanto tempo ainda de desatinada atitude? Quantos momentos ainda de contida emoção? Quantas horas seriam suficientes, desta vez, para acalmar sua inquietante certeza do gosto travento do desencanto.



Conflitos


Conflitos

                  Regina Barros Leal                             

É noite! Mais uma daquelas situações de embaraço em que Márcia sente-se molestada pelo desassossego. É quando se percebe inclinada a escrever. Frente ao computador transgride a norma do descanso e inicia uma relação diferente com a máquina, mormente se o que pretende produzir, foge a regra do técnico e do acadêmico, na tentativa de expressar os seus medos e angústias, bem como, suas alegrias e descobertas outras.
Assim escorrega seus dedos irrequietos pelo teclado. Quem sabe sua alma mergulhada nos pensamentos sobre a existência, buscando respostas para os seus significados, terminará por encontrar saídas e afugentar sentimentos vãos?  Quem sabe, consiga espalhar os risos silenciosos de quem ama a vida e que, em determinada circunstancia, não partilhou a alegria rara dos que conseguem se enternecer com o tempo.
Busca o relaxamento. Mentaliza... E as imagens fluem e se contorcem em oscilações criativas. Deleita-se com sua imaginação e entrever um imenso vale, tão vasto que não se extingue no olhar de quem procura os seus limites. Percebe-se sentada escutando a musicalidade do instante construído na num momento particular. Cria asas e na sua docemente  viaja sobre os vales e montes. Respira o ar puro das alturas imponderáveis, escuta os sonoros acordes dos ventos, que matreiramente a arrastam como uma folha perdida. A sensação de leveza a envolve e se aconchega nas brancas nuvens desenhadas pela fantasia irreverente.
E é sempre assim, gosta de registrar sobre suas inefáveis fantasias e, sobretudo as descobertas reveladas na sua louca e absurda incompreensão sobre a vida. Ah! A vida! Pudera, é tão fugaz e ao mesmo tempo, tão duradoura por sua temporalidade singular de eternidade e pelo medo da morte. Márcia a afugenta, porque a vida lhe parece ser abundante. Esta é salvação e é o que permite continuar sonhando, desejando e abrindo-se para a aventurar o viver.
            Cogitando ainda, sobre as inquietações presentes nesta noite analisa o fato.
Surpreende-se com a descoberta de uma resistência inflexível que tem ao lidar com certas situações de poder. Não convive bem com o autoritarismo. Talvez, porque nele encontre-se em algumas circunstancias. Essa é uma situação de descontentamento que termina fragilizando-a. Outro dia passava por um momento em que a emoção a envolveu e rompendo os grilhões normativos da convivência humana, veio truculenta, não com o outro, mas consigo mesma. Sofreu a constatação da pouca ou quase nenhuma tolerância a isso. Deu-se conta de seus temores e, sobretudo resgatou o sentimento do deleite pela descoberta amadurecida de tudo isso.
Márcia soube que não é fácil lidar com imperfeições humanas, por outro lado, muito mais doloroso e mais confuso é lidar com as suas fragilidades, os seus medos, as suas dúvidas. Pior ainda, lidar com o que é velado, o não dito, os mecanismos sutis da estratégia do poder não declarado.
Perguntava ao seu colega de universidade, um professor amigo que o admira por sua capacidade de reflexão e amparo.- Por que algumas pessoas têm dificuldade de conviver com o poder? Referia-se a debilidade de caráter daqueles que, deslumbrados pelo fascínio que o poder confere, negam idéias e ideais.  Ele refletiu sobre o seu mal-estar causado por essas experiências, destacou as seqüelas da situação, fruto de confronto de idéias, da presença do conflito não administrado. Percebeu, então, que o fato a abalara e a afetara. Sentiu que não é simples coexistir com a hipocrisia e é complexo aceitar tais dificuldades. Mas o que ser hipócrita? Perguntava-lhe. Não seríamos todos? Tomou consciência do efeito do desencanto quando se faz necessário o doce encantamento do diálogo, da aceitação do outro, da humilde e da graciosa ternura expressa por quem sabe partilhar.
Foi uma boa conversa, simples, apropriada, necessária ao instante dolente.  Ela sentiu o quanto vale a pena saber que há amigos e que eles são imprescindíveis, mesmo que não saibam. Conversaram bastante. Saiu confortada por reconhecer que um sentimento quando compartilhado possibilita uma reflexão mais profunda de nossas ações e de nossos anseios sobre a vida.















Outra vez...

Outra vez...
 
       Regina Barros Leal                              

Lá estava ela a refletir sobre os infindáveis e intricados porquês que lhe roubavam o sono. Sentia uma dor íntima e enroscava-se em  seus pensamentos confusos, num turbilhão de idéias. Pobres idéias efêmeras que não preenchiam o vazio daquele momento. A respiração trancava-se por entre os lábios numa amarga e ressequida dor. Desgrenhados sentimentos de inutilidade se avizinhavam. Sentia uma dor n’ alma que mais se assemelhava à exaustão. Estava triste, uma tristeza vinda de onde ela não sabia... Procurava encontrar a resposta exata ao infindável cansaço que adormecia o corpo. Nada. Só a indignação de quem não aprendera com os erros e os acertos da vida. O que fazer então? Não tinha a resposta e de novo a dor vermelha e penetrante que lhe rasgava o peito. O coração batia em compassos descompassados. O corpo amolecia e entregava-se ao desânimo. O tempo passava... A madrugada, como de quando em vez, vem gorda de agonias. O peso do tempo desatento ao ritmo sufoca os mais leves pensamentos. Debruçada sobre si mesma, pesa-lhe a cabeça, e pasmada olha o chão de pedra envelhecida e gasta, por um olhar já embaçado pelo amargo dissabor. Um gosto sem gosto. Desgosto. O que poderia mudar? Não sabia. Só sentia. Não compreendia, só percebia...E como percorrer este trajeto encorpado de folhas secas com se fossem mil existências perdidas. Quantas trilhas não percorridas. Quanto abandono dos sonhos de uma vida. Não se apaga o indelével. Como destruir o indestrutível?  Tantos desencontros, e quantos fragmentos de falas incompreensíveis. Onde anda a verdade que sossega e o alento que acalma? Como sugar do chão seco a seiva da vida? O que fazer quando se vem perdendo o sentido e o significado do significante? Não sabia, pois ainda navega em mares revoltos. Buscava a paz do infinito numa finita e pesada existência. Quem sabe, rasgue o pesado véu que impede de sentir o prazer da vida e encontrar o verde da relva, o brilho prateado das águas da cachoeira e banhar-se sem medos, desnudada pela alegria e possuída pelo prazer de viver.





Não sei ao certo...

Não sei ao certo...
                                        Regina Barros leal
                  

Um grande vazio me acerca e sinto-me perdida no indecifrável. Solitária escorrego meu olhar pelos cantos da sala e só vejo objetos, não mais que objetos sem sentido. Parece que nada me ampara nesse instante adoecido. Pois me vejo tão só carregando o fardo do mundo. Sim, profundamente solitária. Perdida, tento arrancar o ar que me parece raro e fugidio. Deito-me sobre mim mesma porque não consigo levantar-me. Não sei... Apenas não sei ao certo o que é. Essa inquietação muda...Silenciosa...Vai me consumindo sem pedir sequer licença. Nem bate a porta e sem alarde, me subtrai a vontade, quase que a vida. Esquivada da alegria, da ambição, do prazer de existir sinto as forças enfraquecidas. Mas, a dor que hoje me persegue não me deixa atônita, pois que tem sido ela, minha companheira nesses últimos tempos. Hoje me vejo qual folha seca ao vento, sem rumo, sem destino, impotente diante da ventania...Folha fria e anônima. Ressequida, mirrada.  E essa sensação do inexistente? É  tão desalentador.
Mas, creio que em breve encontrarei novamente a paz e voarei com meus pensamentos soltos, leves tocando as estrelas em busca da emoção que brilha e ilumina os caminhos dos que não se deixam abater. Acredito no riso, no prazer do sorvete de chocolate e no gosto adocicado da sangria na hora do almoço. Penso na noite de luar, no brilho da lua refletida na água, Sinto cheiro de mato verde, de coco ralado e, sobretudo escuto pássaros e um teimoso galo cantando nas manhãs que nascem todos os dias. Percebo que esses silentes momentos de angustia se esvaem e se  diluem- num tempo de alegria. É nessa esperança que me agarro, qual náufrago perdido em sua solitária resistência.

 

 

 









quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Fui te buscar


Fui te buscar
                                   Regina Barros leal
Fui buscar na noite o teu rastro
Olhei o mar, o céu e a terra.
Senti a brisa do teu olhar perdido
E ai encontrei vestígios do amor
E os nossos sonhos encheram a noite de estrelas mágicas
Encontrei a lua nos meus longos cabelos de rosas
Sorri diante do inevitável encontro com o tempo do amor
Ah! Senti então meu corpo brilhando com as estrelas
Iluminada, subi nas asas dos meus sonhos
Busquei a magia do vôo da águia para além do horizonte
E te encontrei nas passagens de meu bater de asas

Pura fantasia de amor!

Efemeridade de um sonho

Efemeridade de um sonho

                                   Regina Barros Leal

Como desejaria alugar minha alma
Para alguém cuidá-la
Conservá-la limpa
Sem manchas
Sem sombras
Imaculada na esperança
Plena no tempo do devir
Estreita na efemeridade dos sonhos vãos
Ah! Que me dera repousar nas águas das cachoeiras
Banhar os cabelos
Molhar o corpo
E, enquanto outros trabalham
Eu descanso na fantasia



O Casarão revisitado
                                 Regina Barros Leal
                                                          
            Silêncio no casarão. Tínhamos ido repartir os objetos: porcelanas, lustres pintados. Ah! Aquela mesinha de vidro. Telefones antigos, retratos, espelhos, cadeiras, dentre outros, que fizeram parte de nossa história. Estávamos desajeitados. A ampla sala, palco de muitos encontros, desnudada, refletia o abandono. O casarão tinha sido comprado e certamente seria demolido.
             Sentamos e olhamo-nos como que perguntando por onde começar.  Um tempo silencioso... Marejado de reminiscências. Depois, como que para quebrar o gelo, iniciamos a partilha. Contingência. Tivemos que nos desfazer do casarão. Era uma satisfação miúda, misturada à melancolia, mas sutilmente afugentada pela satisfação de outras necessidades resolvidas.
            Enquanto meus irmãos conversavam, subi ao meu antigo quarto, colcha branca, protetora e repousante, refúgio de júbilo e aflições não ditas. As janelas descortinadas deixavam entrar os últimos raios de sol daquele fim de tarde. Recordei passagens singulares Comecei a rebuscar minhas lembranças infantis: estórias povoadas de fadas, bruxas, princesas, piratas, fantasmas. Evocações permeadas de uma alegria medrosa. Coisas de criança. Buliçosamente, entrevi meu passado povoado de fantasias.
            Insisti. Reencontrei minha infância, saudável, naquele casarão, com minha família, onde vivi minhas experiências de criança privilegiada. Não faltavam chocolates, doces, brinquedos, nem tampouco amor. Que lembranças! Jogando “mãos ao alto” com meus irmãos, brincando de adulto, organizando peças de teatro. Eu, então, alegrava-me muito ao cantar. Naquela época, meus pais armavam um palco numa garagem bastante espaçosa, com cortina de veludo vermelho, tablado, tudo a que se tinha direito, e convidavam a família. Meus tios elogiavam a atuação dos seus pequenos artistas, alguns meio atrapalhados, pequenos iniciantes amadores. Era um momento mágico onde a fantasia corria pelos campos da imaginação. Quase indescritível.
            Como saboreava aquelas tardes compridas que se encontravam com a noite que chegava de mansinho! O entardecer.  Recordo-as, nitidamente.  Foram de uma beleza, ímpar porque permeados pela magia dos sonhos e dos folguedos infantis. Rir, saltar, correr, pular de corda, andar de bicicleta... Tudo isso naquele espaço enorme onde meu pai construíra o casarão. Ah! Meu pai. Homem inteligente. Personalidade marcante. Sujeito avançado, criativo, lépido e determinado. Seu legado de força influenciaria nossas vidas para sempre. Ele se eternizou em cada um de nós.
            As recordações brotam. Meus 15 anos! Adolescência. Os fortuitos namoros, as mãos trêmulas, os medos, as primeiras descobertas, o primeiro beijo. As serenatas!  As canções apaixonadas e os corações saltitando sob as camisolas de seda. Janelas descerradas e olhares de paixão. . Ali escutávamos os trovadores juvenis Minha mãe, doce criatura, compartilhava de nossas emoções. Sua presença confundia-se com a beleza da noite. Afetuosa mulher
             18 anos! O caminho das rosas que perfumam e ferem as almas com seus voos vazantes. Descobertas adultas e corpo de mulher. Pensamentos e sonhos impudentes!  Tempo dos ventos de verão, das tormentas, do paraíso florido pelos sonhos fartos e generosos. Fred, Marcelo povoavam meus devaneios. Mas a efemeridade os jogou pelas fendas do tempo.  Lembrou Victor Hugo: “Sede como os pássaros que, ao pousarem um instante sobre ramos muito leves, sentem-nos ceder, mas cantam! Eles sabem que possuem asas”. Iria voar nas asas das quimeras e adentrar os momentos de fragilidade e transcender o cotidiano na preciosa imaginação e na singular fantasia. 
             Na penumbra do quarto, repassei minha vida e chorei!  Não só pela despedida do casarão, mas pelo adeus ao tempo, aos tropeços da meninada, as esgarçadas relações que se diluíram na distancia. Chorei pelos amores perdidos, as intrigas não resolvidas, os perdões esquecidos. Entretanto sorri, gargalhei com a primavera dos amores correspondidos, sorri com a chuva de prata dos dias de lua cheia em que namorávamos escondidos, das sessões da tarde, das missas assistidas. Éramos felizes.
            Ouvi alguém me chamando:
-           Lucia, estamos esperando, desça. Era meu irmão mais velho. Senti sua voz trêmula, inconfundível. Ele sempre foi muito emotivo.
-           Já estou indo! Respondi um pouco desorientada pelo brusco retorno ao presente.
            Fui descendo a escada de mármore. Era tão bem cuidada por minha mãe! Aquele mármore branco, reluzente, já desfeito pelo desgaste do desuso.
            Olhei para todos e percebi o quão estavam perturbados. Quem sabe, não fizeram o mesmo percurso? Meus irmãos, crianças de outrora, companheiros de brincadeiras. Hoje, parceiros da saudade.
            Saímos devagar. Ronceiros. Despedidas murmuradas. Rostos entristecidos. Gestos vagarosos.
            Chegando a casa fui guardar os objetos, testemunhos silenciosos de minha história. Não foi fácil vender o casarão, herança de nossos pais, local vivo de muitas recordações. Nós, inquilinos do passado, pagamos um melancólico tributo pela nossa despedida.

             Nessa noite, quase não dormi.  

Sem rumo certo

Sem rumo certo
                                                           Regina Barros Leal
                Vinha andando distraída consigo mesma. DE quando em vez, envolvida em seus pensamentos perdia direção do rumo certo. Surpreende-se com o lugar. Com certeza não era este o seu destino. Mas, veio à tona uma vontade de conhecer o local, até então desconhecido. Parou o carro. Olhou em volta e deu-se conta. Era um daqueles bairros desolados pelo abandono. Pessoas perambulando. Chamou-lhe atenção uma velhinha simpática e sorridente cantando uma bela musica. Rosa.  Percebeu... Fazia tempo que não via uma cadeira de balanço ocupada por alguém cantarolando, sobretudo na calçada.  Parou extasiada diante da cena. Márcia aquietou-se e ficou ouvir àquela senhora de cabelos brancos amarelados pelo mau trato. Depois de certo tempo, alguém apareceu e fitou Márcia com um olhar assustado, diante da cena: uma jovem senhora, bem vestida, de saltos altos, saia e blusa de linho branco e com um perfume de rosas.  Diante da cena, algumas pessoas pararam e começou um vozerio. Foi quando ela, a senhora que cantarolava viu Márcia e deu-lhe a mão pedindo ajuda para levantar-se. Assim ela o fez. A velhinha entrou de mansinha na casa ao lado. Findou o tempo.

                Márcia saiu silenciosa.

O inusitado

 INUSITADO
Regina Barros Leal

Era uma daquelas noites de insônia... Estava inquieta, com vontade de descansar, mas o sono, tão avidamente desejado, não chegava. Tentando afastar minha irritação que tendia perigosamente a exacerbar-se, procurei refúgio em minhas recordações. E foi acontecendo... lembranças muitas, da infância, da adolescência, dos meus tempos no colégio. Ah! Que saudade! Presente na doce reminiscência do meu tempo juvenil senti as afáveis memórias de quando era adolescente!
E assim fui-me aventurando nessa caminhada no tempo. Ria pelo inusitado da descoberta de emoções esquecidas, mas não perdidas. Lembrara-se da queda na calçada, com o sorvete respingando na blusa branca de seda, da farda de gala do colégio... Que rubor!

Meu corpo foi relaxando e invadiu-me uma sensação de conforto. Eis que de repente o fato se achega. Aproxima-se, eu o acolho e resgato a emoção da circunstância vivida. Recordava o local, os detalhes, a hora, o constrangimento. Saltei da cama, já em desordem pelos movimentos de desassossego. Olhei para o relógio. Eram 2 horas da manhã de quarta-feira do dia 17 de março de 1998. Guardei o dia, pois se tornaria, dali em diante, um marco em minha vida, embora somente o soubera depois...
Vi o computador. Puxa vida! Lancei um olhar atrevido e gostei de saber que poderia utilizá-lo no tempo certo. Eu tinha a decisão. Comecei, então, a escrever. O mais interessante é que tudo fluía de uma forma tal que, em algumas vezes, me atrapalhava, em face da enxurrada de lembranças.
Entranhada no passado fui, aos poucos, me reconhecendo. Os dedos febris, saltitavam nas teclas numa velocidade até então desconhecida; eu não podia perder segundos dos preciosos registros da memória. Perplexa, fui deixando acontecer e o texto foi se arrumando. Desconcertada pelo que acontecia, parava algumas vezes, mas por frações de segundos, pois logo me via impelida a continuar. E assim aconteceu. Foi pulsante. Ao terminá-lo, tive uma sensação agradável de realização. Descobrira que o prazer tomara conta de mim e que essa situação destacava-se de tantas outras por sua diversidade singular. Eu encontrara, em mim, algo, a satisfação de escrever, não os escritos acadêmicos, técnicos, mas um texto especial; outro modo de me expressar. Gostei do que fiz. E naquela noite produzi minha primeira crônica: “Desencontro”. Voltei para a cama e dormi serenamente.
De lá para cá não consigo parar. Não sei ao certo se é pelo entusiasmo que me envolve, ou, talvez, por encontrar refúgio de tantos sentimentos, mas sinto uma vontade frenética de escrever. O quê? Quem sabe? Mas, sei que vou continuar...
Ah! Disso tenho a mais sincera convicção.

Estranhamento

 Estranhamento
                            Regina Barros Leal
Márcia pensava sobre as ondas fugazes do tempo que passam e nem conseguimos alcança-las. São movimentos velozes que nos deixam perplexos! 50, 60 anos chegam tão rápidos!
Ouvia o vento uivando na janela semiaberta do quarto! Percebia as folhagens irrequietas enroscando-se nos jarros da varanda bem cuidada.  Sentada e olhando a singular circunstancia ela presenciava o momento fascinante.
Os ventos de verão na irreverência da natureza, balançavam a estante de madeira, os jarros de flores, os enfeites da mesinha de vidro. Como se todos reverenciassem sua majestosa e fascinante presença. Legítima beleza! Os objetos moviam-se com as rajadas de seus suspiros. Era madrugada e a janela da sala estava aberta deixando que invadissem o recanto com seu perfume natural e a selvagem forma de adentrar o ambiente.
Solitária, com os braços enroscados em si mesma, sentia o corpo estremecer de frio. Não agasalhara-se naquela noite. Desatenta ao tempo, pousara aventureira na sala, como as borboletas que em voos errantes ferem suas belas asas, as quais machucadas, perdem o brilho colorido em sua forma original. Pobres seres distraídos!
Lia avidamente o romance intrigante e, de repente, ouviu o som ruidoso vindo de seu quarto. Aflita levanta-se e, mais do que rapidamente subiu os degraus de madeira, adentrando impulsivamente no quarto azul de cortinas coloridas, leves e esvoaçantes!
Susto! Notou o belo afresco de Siqueira, que tanto gostava, esparramado no chão, juntamente com o vazo de cristal com as belas orquídeas que recebera de presente. O vento os derrubara violentamente, sem mesuras ou qualquer outro cuidado. O vento que tanto amava!
Sentada no chão chorou, não pelos artefatos caídos e espedaçados, mas por seus sentidos afetivos. Como a tempestade veem sem aviso, suas lagrimas banharam seu rosto aflito. Meu Deus! O quadro que concebia a essência do pintor, do amigo que já se fora. O jarro de cristal, lembrança terna de sua mãe que partira sem dizer adeus. Convulsivamente deixara-se tomar pelo pranto e soluçava. Nem sabia se era pela forte emoção da saudade, do significante da circunstância ou porque naquele dia não se percebia plena.
Marcia, perplexa alcançou uma lembrança.  Seu avô contava sobre uma experiência ao precipitar-se no açude perto de sua casa situada numa pequena cidade do interior. Viu-se enrolado em galhos verdes, vegetação traiçoeira no cenário do medo. Em pânico e sufocando não conseguia subir à margem. Seu irmão o salvara do afogamento iminente.
Recordando do fato adentrou no silencio. Ah! Aquele silencio do finito, do não descrito, da perda, do inevitável. Durou segundos! Levantou-se e olhando-se no espelho percebeu sua agonia e refez-se.

E ai? Foi um estranha emoção. 

Patricia

Patrícia
            Noite agradável. Os ventos de verão assobiavam nas janelas e, ao penetrarem no ambiente derrubavam objetos mal colocados. Cantavam, choravam, como uma orquestra afinada. Clarisse fundia-se no clima solto dos ventos e sonhava.
            Como de costume abriu a caixa e retirou um colar colorido de carnaval de sua caixa de lembranças. Patrícia sempre a chamava para irem aos clubes em Laranjeiras. Tinha um grupo de amigas que brincavam e, ela, divertia-se com aqueles sons de batuque dos negros na passarela e as marchinhas. Laranjeira enchia-se de bandeiras coloridas e confetes, As praias lotadas de foliões, os bares e restaurantes tocavam constantemente, buscando a animação carnavalesca.
            Os pais de Clarisse amavam os bailes de máscaras e não perdiam a folia. Muita festa, alegria e lança perfume. Os clubes lotavam e os carnavalescos animam a cidade.
            Nas praças, à tarde, a bagunça dos foliões do  mela ..mela. Uma de loucura total. Clarisse levava os filhos e Ronaldo detestava O palco das ruas bagunçava-se de maizena, ovos quebrados e, confetes.
            E as escolas de samba do Rio de janeiro? Festa deslumbrante que enchia os olhos de magia e encantamento. A letra de cada escola e o motivo escolhido quase sempre destinava-se aos artistas famosos da Globo, aos temas impactantes do país. Ronaldo a acompanhava, muito embora não tivesse paciência. Quase sempre dormia.
            Vestida de Odalisca, Patrícia arriscou a sair do clube Atlântico com um rapaz que conhecera na festa. Não avisou aos pais. Meia noite e ela aparece completamente alcoolizada. Desmaiou e foi levada às pressas ao hospital por seus pais, Amália e Rogério. Entrou em como alcoólica. Um grande susto que deixou todos atormentados A festa acabou para ambas famílias. Carnaval que não findou na quarta feira de cinzas. Frustação.
            Ao voltar para casa, Patrícia, envergonhada, pediu suas desculpas e fechou-se para os amigos. Seus pais a castigaram por seis meses. Não participou de festas, nem de aniversários aos domingos, dos familiares. Castigo cumprido.  
            O que mais aborreceu sua família foi saber que o rapaz era um aventureiro, marginal que entrara no clube como penetra e a seduziu com seu sotaque estrangeiro. No outro dia a polícia descobriu que ele era um assaltante  fichado na cidade vizinha,



Mulher

Mulher!
                        Regina Barros Leal

Eu senti um gosto de cereja em minha boca sedenta
Cortei as rosas brancas para fazer um buque
E me presenteei
 Avermelharam-se com minhas lágrimas de amor distribuído
Corri então pelos campos e varri a areia dos meus olhos de esmeralda
Ardiam e não me deixavam ver o sol nutrindo a terra de possibilidades.
Passei as mãos calejadas de luta pela liberdade na tentativa de romper a escuridão
Nas frestas do espaço construído pelas ilusões, adentrei nas bolhas de sonhos coloridos.
Encontrei minhas duvidas cortantes, minhas paixões alucinantes, meu Eu, minha agitação.
Vi-me mulher! Combativa! Desiludida. Esperançosa.
Laçando esperanças na estrada e com a espada dilacerava a terra em sulcos profundos
Forte e frágil, triangulo e quadrado, nada e plenitude.
Observei e sorri! Grande e pequena, meiga e cruel, mas mulher.
Aí vi a diferença de nem sei o que!
Gostei e se eu pudesse nasceria de novo.
Com a alma diluída nos fluidos amorosos
A feminilidade umedecida de quimera, do complexo e do real.
Mulher simplesmente mulher


                                              


Quem sou eu

Minha foto
Fortaleza, Ce, Brazil
Sou uma jovem senhora que gosta de olhar o mundo de um jeito diferente, buscando encontrar o indecifrável, o indescritível, o inusitado, bem como as coisas simples e belas da vida.