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sexta-feira, 26 de julho de 2013

EU SEI


Eu sei, mas não devia
Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.


A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.


A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Acostuma-se a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Marina Colasanti
nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.



DISCURSO LANÇAMENTO DO LIVRO :JOGOS COPERATIVOS COM ANNATÁLIA GOMES

Boa noite a todos

É com um carinho especial que lançamos o livro JOGOS COOPERATIVOS, uma obra feita em parceira com minha amiga Annatália. Foram muitas horas de compartilhamento, e não poderia ser diferente. O que nos mobilizou a escrevê-lo foi, sobretudo a crença no sonho, na solidariedade e no coletivo.

Aqui lembro o mestre Paulo Freire, citado pelo educador  MÁRIO SÉRGIO CORTELA

Afinal, o que fez o nosso mestre foi engravidar milhares de homens e mulheres pelo mundo afora com sonhos e idéias, entre as quais a principal de que a finalidade da educação é proteger e manter a vida.

Nada melhor então do que ensinar a cooperação, o respeito ao outro, a ética solidária, a aprender a viver juntos, quer seja na escola, na universidade, no trabalho, com os amigos, na família.
O fundamental é exercitar a solidariedade numa sociedade que privilegia a competição desenfreada e excludente. Não somos contra a competição, mas somos a favor da alegria, da vida, do jogo cooperativo como alternativa pedagógica.

Cito o poeta

Quem não corre o risco de viver com a ousadia do fazer juntos, vive na penumbra do individualismo...
Quem não se deixa tocar pelo amor desaprende o sentido da vida;
Quem nega o significado do coletivo, fenece na solidão e no vazio de si mesmo;
Quem não reconhece a vastidão do universo e suas possibilidades desacreditam nos sonhos e não compreende a esperança

Concluo afirmando que este livro expressa a crença , na amorosidade, na construção do respeito ao outro .
 Jogar é próprio do homem, e esta obra propõe o jogo que une, que integra,  que prioriza a troca e a partilha.
Enfim, agrademos a todos os presentes a gentileza em compartilhar conosco esse momento tão especial.
Muito obrigada


Discurso livro: FAGULHAS LITERÁRIAS

Discurso livro: FAGULHAS LITERÁRIAS                            

 

Caros amigos

         
             Às vezes a vida nos brinda com situações venturosas, repletas de carinho e alegria. Hoje é um desses dias.
     Durante anos cultivei a escrita em minha vida.  Na vivência de várias situações de nossa família, eu costumava escrever para meu marido e filhos, ao sentir culpa dor, entusiasmo, alegria, outras emoções. Sempre gostei da palavra, da narrativa. Escrevia cartas, bilhetes colocando-as em bolsas, pastas do colégio, debaixo de travesseiros, nas gavetas, em vários lugares. A minha vida misturou-se as falas ditas e não ditas, porque houve também muito silencio em diferentes momentos.

          Fagulhas Literárias começou a ser escrito há uns 6 anos. Nele, eu faço um caminho de volta. É, sobretudo, um livro de memórias, onde resgato emoções que se eternizaram na minha história. A capa do livro tem um significado bem particular. É o casarão onde morávamos, pegado ao Cine Atapu.  A casa onde nasci. Cenário de especiais acontecimentos.

           Escrevi o livro timidamente.  Aventurei-me a mostrar ao Arley, meu marido, meus primeiros relatos, redigidos nas madrugadas. Tempo de insônia. Ele gostou, e ao ler Desencontros e A Visita, me instigou para que eu continuasse. Dizia ele: Você é uma escritora, seja exigente, faça com esmero. De outro modo, os meus queridos filhos, Geovanna, Giordano e Arley. Manifestavam - Mãe está ótimo... Gostei muito.. É tocante... Que legal !!!

           Assim, iniciei meu trajeto literário, e a cada crônica, humildemente, além da família, escolhia alguém para ler um texto. Era agradável partilhar. Lembro-me de João Jorge, divertindo-se com A festa de casamento, dando boas gargalhadas no pátio da Unifor; Batista de Lima lendo os escritos com a paciência que lhe é característica - Você tem sensibilidade Regina, continue. Fez a gentileza de prefaciar o livro, citando em algum trecho 

          - Regina é detalhista e retém na mente, todos os contornos dos espaços que palmilhou um dia. Desses espaços, a casa é o mais vasculhado. A autora, que viu a sua casa de moradia da infância e da adolescência ser demolida pela especulação imobiliária, agora ergue aquela construção com todas as suas fundações, na arquitetura textual.
          Ana Julita, Karine, Jô, Rosendo, Angela Araújo, Lina De Gil, Célia, Grace, Núbia, José Bastos e outros parceiros dessa história Eles me estimulavam a continuar. Recordo-me do Oscar dizendo: – Gostei amiga, tem estética e conteúdo - referindo-se a crônica Desencontros.
 Rose, companheira do Encontro da Quartas, se entusiasmou com A estréia de Gabriela e aceitou fazer a revisão do livro.
 Quanta emoção de meus irmãos ao leram O Casarão. Especialmente o meu irmão César, a quem publicamente presto o meu reconhecimento, não só por ter me ajudado nas primeiras crônicas de Fagulhas Literárias, mas por ter, sobretudo revisado, com muito carinho, o livro Memorial em Dinâmica de Grupo. Horas roubadas de seu precioso tempo, ao meu lado, compartilhando a revisão. Instantes significativos de nossa história! Agradeço de coração.
Tatiana, minha sobrinha, filha de Amadeu, telefonou-me para expressar seu sentimento ao ler o Casarão - Tia eu amei, quase chorei de emoção. Meus irmãos: Vladimir, comovido dizia- Lindo Regina! Gostei da passagem: Meus irmãos, hoje parceiros da saudade. Amadeu- Minha irmã fiquei emocionado, revivi nosso tempo de criança. Cléa, Ricardo e a Heloísa que sempre me estimulou e a quem convidei especialmente para escrever a contra capa do livro.
  
 Fui percorrendo um trajeto particular. Temerosa, retirei então, os relatos pessoais, intimistas, na verdade, umas 30 crônicas.  Daí o livrou encurtou, afinou.... Mas era prudente fazê-lo. Essa seleção me fez escrever Itinerários, já no prelo: fruto das minhas inquietações humanas, femininas.

Não poderia deixar de me referir à colega Francilda, escritora reconhecida, que me inspirou, sem saber, com sua irreverência feminina sobre a envelhecência, a escrever Efeito cruzado. Singular ocasião.
A minha querida D. Mirtes, e o saudoso Dr. Lauro, pais de Dayse, Vera, Norminha, Vânia, Mirtinha, companheiras de infância e adolescência, inspiradoras da crônica As tertúlias.  Memoráveis festas.  As minhas primas Margarida, Madá, Célia, presentes em Ida e Vindas. Irmão, tios, sobrinhos em O Susto e em muitas outras narrativas.
Ah! São tantas as pessoas! Desculpem-me por não citá-las nominalmente, mas tenham a certeza que está presente, de uma maneira peculiar, no meu universo afetivo.
Aos meus queridos pais, já falecidos, inspiradores da nossa vida, saudosamente os homenageio por tudo que representaram e representam em nossas histórias pessoais. A eles, minhas lágrimas, meu canto nostálgico e o nosso inexplicável sentimento de amor.
Obrigada ao Arley, meu querido marido, aos meus amados filhos: Arley, Geovanna e Giordano e aos queridos netinhos: Arley, Victor, Adriano e Gustavo, aos meus irmãos, aos meus amigos e amigas, alunos, professores, funcionários que hoje me prestigiam. Com certeza não podem avaliar o tamanho da minha satisfação em tê-los aqui, nesse evento tão especial.

 Meus agradecimentos à Direção da Unifor pela consideração e o incentivo à minha vida acadêmica. Esta universidade, que eu gosto um recanto de tantos encantos e alegrias. 

Expresso o meu reconhecimento à Célia Felismino, minha preciosa amiga das letras que escreveu carinhosamente a orelha do livro, espargindo sensibilidade:

 É que suas experiências, seus momentos de alegria forte ou pesar estão mediados pela palavra, sendo esta, em seu livro, não apenas instrumento de descrição, de relatos de acontecimentos, mas, sobretudo, de revelação do ser....
A ela, o meu muito obrigado por sua generosa atenção.
        
Expresso ainda, os meus sinceros agradecimentos a Xênia, Coordenadora do Curso de Pedagogia por sua gentileza e sua cumplicidade estética na organização dessa noite.
 
 Minha gratidão particular ao mestre Batista de Lima, o escritor que não se furtou a ajudar a amiga iniciante.

Finalmente, concluo enunciando a todos que estou muito feliz. Agradeço especialmente a Deus, presença em minha vida de modo muito singular e se eu pudesse, os presentearia com mil flores perfumadas, de cores diferentes: vermelhas, brancas, amarelas, expressão de ternura, paixão, amizade e do meu sincero
                     
                            MUITO OBRIGADA.
                      

                           Fortaleza, 16 de março de 2004

.Efêmero momento

Efêmero momento



Olhavam-nos subitamente confrontados pela realidade que se descortinava aos nossos olhos inquietos. Doce instante! Inebriados pela onda de calor que nos acalentava e na noite fria nos aconchegamos compartilhando a efêmera ocasião, tão efêmera que noite adentro se desvanecera.
 Assim sonhávamos e percorríamos os atalhos das ilusões esquecidas retornando aos projetos venturosos. As nossas representações imaginárias tornavam-se reais e se desnudavam em nossas incríveis fantasias. Pudera, quem sabe? E se não acolhemos um tempo em que o significado perde-se na sua própria história? Mesmo assim navegamos atônitos pela maré quente e morna de nossas realizações.  Mergulhando fundo na crença de uma nova paixão fomos inteiros, um no outro, muito embora depois nos despedaçássemos em desencontros cotidianos.


O  CASARÃO
                                    Regina Barros Leal
                                                          
            Silêncio no casarão. Tínhamos ido repartir os objetos: porcelanas, lustres antigos pintados. Ah! aquela mesinha de vidro... telefones antigos, retratos, espelhos, cadeiras, dentre outros, que fizeram parte de nossa história.Estávamos  desajeitados. A ampla sala, palco de muitos encontros, desnudada, refletia o abandono. O casarão tinha sido comprado e certamente  seria demolido.
             Sentamos e olhamo-nos como que perguntando por onde  começar.  Um  tempo silencioso... marejado  de reminiscências. Depois, como que para quebrar o gelo, iniciamos a partilha. Contingência. Tivemos que nos desfazer do casarão. Era uma satisfação miúda, misturada à melancolia, mas sutilmente afugentada pela satisfação de outras necessidades resolvidas.

            Enquanto meus irmãos conversavam, subi ao meu antigo quarto, colcha branca, protetora e repousante, refúgio de júbilo e aflições não ditas. As janelas descortinadas deixavam entrar os últimos raios de sol daquele fim de tarde. Recordei-me de passagens interessantes. Comecei a rebuscar minhas lembranças infantis: estórias povoadas de fadas, bruxas, princesas, piratas, fantasmas. Evocações permeadas de uma alegria  medrosa. Coisas de criança. Buliçosamente, entrevi meu passado povoado de recordações...
            Insisti. Reencontrei minha infância, saudável, naquele casarão, com minha família, onde vivi minhas experiências de criança privilegiada. Não faltavam chocolates, doces, pirulitos, brinquedos, nem tampouco amor. Que lembranças! Jogando bila com meus irmãos, brincando de guisado, organizando as peças de teatro. Eu, então, alegrava-me muito  ao cantar. Naquela época, meus pais armavam um palco numa garagem bastante espaçosa, com cortina de veludo vermelho, tablado,  tudo a que se tinha direito,  e convidavam a família. Meus tios elogiavam a atuação  dos seus pequenos artistas, alguns meio atrapalhados. 
            Como saboreava daquelas tardes compridas que se encontravam com a noite que chegava de mansinho! Recordo-as, nitidamente.  Foram  de uma beleza, ímpar porque permeados pela magia dos sonhos e das folguedos infantis. Rir, saltar, correr, pular de corda, andar de bicicleta... tudo isso naquele espaço enorme onde meu pai construíra o nosso lar. Ah! Meu pai. Homem inteligente. Personalidade marcante. Sujeito avançado, criativo, lépido  e  determinado. Seu legado de força influenciaria nossas vidas para sempre. Ele se eternizou em cada um de nós.
            As recordações brotam. Meus 15 anos! Adolescência. Os fortuitos namoros, as mãos trêmulas, os medos, as primeiras descobertas, o primeiro beijo. 18 anos. As serenatas! Minha mãe,  doce criatura, mulher sensível, compartilhava intensamente os nossos devaneios juvenis. Quando íamos às tertúlias, abria a porta devagarinho, serenamente, na ponta dos pés,  para não acordar meu pai. Em silêncio, ela nos guiava e nos acompanhava para saber das novidades. A ternura espalhada por sua presença, ora sentida, confundia-se com a beleza da noite nascida. Nossa mãe companheira brindou-nos com sua sensatez e com seu carinho. Doce mulher!  Generosa e amiga de todos, principalmente dos que a ajudavam nas tarefas domésticas.   
             Na penumbra do quarto, repassei os divertidos  finais de semana  ao chegarem os primos. Eram muitos. Ainda  mais os vizinhos, nossos companheiros de algazarra. Jogávamos ping pong, voleibol,  íamos à praia, ao cinema. Que folia!
            Vizinho ao casarão havia o cinema. Lembro-me das grandes filas, dos filmes, como: O Ébrio; Tarzan, o Rei das Selvas; Por Quem os Sinos Dobram; Os Três Mosqueteiros; além das famosas sessões de faroeste, dos longas metragens produzidos pela  Atlântida, reino de  Grande Otelo, Oscarito, Adelaide Chioso e Emilinha Borba. Como me lembro do escurinho do cinema, dos intervalos, dos namoricos! 
Éramos felizes.
            Ouvi alguém me chamando:
-           Minha irmã, desça, estamos de saída. Era meu irmão mais velho. Senti     
      sua voz trêmula, inconfundível. Ele sempre foi muito emotivo.
-           Já estou indo... respondi um pouco desorientada pelo brusco retorno ao presente.
            Fui descendo a escada. Era muito bem cuidada por minha mãe.
            Olhei para todos e percebi o quão estavam perturbados. Quem sabe, não fizeram o mesmo percurso? Meus irmãos, crianças de outrora, companheiros de brincadeiras. Hoje, parceiros da saudade.

            Saímos devagar. Ronceiros. Despedidas murmuradas.Rostos entristecidos. Gestos vagarosos.
            Chegando a casa fui guardar os objetos, testemunhos silenciosos de minha história. Não foi fácil vender o casarão, portentosa herança de nossos pais, local vivo de muitas recordações. Nós, inquilinos do passado, pagamos um  melancólico tributo pela nossa despedida.

             Nessa noite, quase não dormi. 


Apresentação do livro " RASCUNHOS DE UM TEMPO "

BOA NOITE A TODOS OS PRESENTES

EM PRINCÍPIO EXPRESSO MINHA ALEGRIA EM PARTICIPAR DESSE EVENTO TÃO ESPECIAL EM QUE SÁVIA FERRAZ APRESENTA A OBRA LITERÁRIA RASCUNHOS DE UM TEMPO NUMA CIRCUNSTANCIA PARTICULAR DE REGOZIJO. 
MEUS DIZERES SÃO DIRIGIDOS Á MULHER, Á ESCRITORA, A MÃE, ENFIM, Á AMANTE DA VIDA.
 PARA ELA O BRILHO, OS APLAUSOS, OS SORRISOS, AS REVERÊNCIAS!
INICIO MINHA FALA AFIRMANDO: SÁVIA É UMA CRONISTA E COMO TAL, SE INSPIRA NOS ACONTECERES DO COTIDIANO, NOS CENÁRIOS PARTICULARES, OS QUAIS NÃO ESCAPAM Á SUA CURIOSIDADE FEMININA.
SÁVIA CONTA EXPERIÊNCIAS INUSITADAS, LEMBRANÇAS AVIGORADAS PELA EMOÇAO, REVELANDO INTELIGÊNCIA, ARGUMENTAÇÃO E SENSIBILIDADE.
TRANSBORDA DE AMOR AO ESCREVER SOBRE OS AMORES DE SUA VIDA
RASCUNHOS DE UM TEMPO- PERCORRE O ITINERÁRIO DA MULHER QUE NARRA FATOS CORRIQUEIROS, CENÁRIOS IRREVERENTES, AS INCONTIDAS EMOÇÕES, O PRIMEIRO BEIJO, A SENSUALIDADE FEMININA, OS MEDOS, AS ANGÚSTIAS, AS PRINCIPAIS DESCOBERTAS E OS SOBRESSALTOS DIANTE DO INEXORÁVEL.
A CRONISTA RASCUNHA A VIDA INSERINDO TEMPOS DIFERENTES, TEMAS DÍSPARES, ARTICULANDO EXPERIÊNCIAS, ESTÓRIAS DE VIDA, TESTEMUNHOS E ESPERANÇA NO DEVIR. 
SÁVIA ATRAVESSA AS EMOÇÕES COM UM OLHAR FUNDANTE.
NA APRESENTAÇÃO DE SEU LIVRO ELA DESPONTA SUA AUTENTICIDADE AO EXPRESSAR:
             SEI QUE O QUE ESCREVO REPRESENTA MUITO DE MINHA VIVÊNCIA,
ASSIM, INTRODUZ O LEITOR ÀS SUAS VIVÊNCIAS, QUESTIONA, CRIA, RECRIA, REINVENTA A VIDA, SURPREENDE, AGUÇANDO A CURIOSIDADE DO LEITOR.
É UMA ESCRITA PERMEADA DE TRAVESSURAS, CONJECTURAS, REFLEXÕES E QUESTIONAMENTOS.
 NA CRÔNICA REPENSANDO REGISTRA;
IMPOSSÍVEL AFASTAR-SE DA REALIDADE DO COTIDIANO. DEIXAR DE VER, DE ESCUTAR, DE PERCEBER ATRAVÉS DOS SORRISOS E DOS OLHARES, DAS EXPRESSÕES DE ENFADO, DAS GARGALHADAS RUIDOSAS A VIDA ACONTECENDO A NOSSA VOLTA.
CORAJOSAMENTE DESCREVE, Á SUA MANEIRA, SITUAÇÕES VIVENCIADAS DE FORMA ATRAENTE, COMPARTILHA OS MOMENTOS DE SOLIDÃO, EXPRESSA SUAS DORES, SUAS ANGUSTIAS, ALEGRIAS E DESEJOS SINGULARES.
SE A MORTE ME PEGAR DESPREVINIDA NÃO QUERO QUE FAÇAM GRANDES CENAS DE DOR
SÁVIA, EM SUAS NARRATIVAS REVELA UM OLHAR EMPÁTICO AO ACOLHER OS AMIGOS, AS PESSOAS PRESENTES EM SUA EXISTENCIA.
SUAS CRÔNICAS DESTACAM REMINISCÊNCIAS, ABRE FENDAS NO TEMPO E VISUALIZA MOMENTOS DE AMOR, DE GARGALHADAS E SAUDADES DE OCASIÕES PECULIARES.
RASCUNHANDO O TEMPO - É A OBRA DE UMA MULHER RUIDOSA, PERTINENTE E IMPERTINENTE. AO HISTORIAR SITUAÇÕES DO COTIDIANO, ELA MANIFESTA A AGONIA DA SOLIDÃO, O INUSITADO DO INDESCRITÍVEL  BEM COMO ESTÓRIAS IMPREGNADAS DE SENTIMENTOS PARADOXAIS E INSTIGANTES.
AS IDAS E VINDAS DA MENINA DO INTERIOR QUE AGARRA A VIDA COM TENACIDADE E ENFRENTA A CIDADE, O NOVO, DE UMA FORMA CORAJOSA.
MÃE, PROFISSIONAL, COM VASTA EXPERIÊNCIA NA ÁREA SOCIAL, CRAVA RAIZES POR ONDE PASSA, ENFIM, UMA MULHER QUE TRANSCENDE O TEMPO.
A ESCRITORA PERCORRE O TRAJETO DA OUSADIA, DA CORAGEM AO DESNUDAR  SEGREDOS E EMOÇÕES PARTICULARES.
CONTA, DE FORMA SINGULAR O SEU MERGULHO LITERÁRIO, OS SEUS PRECIOSOS LIVROS, A SUA FOME PELAS LETRAS. DESCREVE QUE ATÉ BULAS DE REMÉDIO NÃO ESCAPARAM À SUA GULA.
ESCREVE E DEDICA SUA OBRA ÁS MULHERES, Á SIMONE DE BEAUVOIR EM PARTICULAR, DESTACANDO PERPLEXIDADE AO DESCOBRIR SUA PRÓPRIA FEMINILIDADE, SUA SENSUALIDADE E AO CRIAR SUAS FANTASIAS.
AS CRÔNICAS FAZEM UMA VARREDURA NO COTIDIANO QUE A ESCRITORA OBSERVOU E VIVENCIOU AO LONGO DE SUA HISTORIA E, DE FORMA PESSOAL, PARTICULARIZA SITUAÇÕES FAMILIARES, AMORES, O SENTIMENTO MATERNAL, OS ACERTOS E DESACERTOS EXISTENCIAIS, AS EXPERIÊNCIAS PARADOXAIS, EFÊMERAS, ETERNAS E DENSAS NA CIRCUNSTANCIA VIVIDA. DIANTE DA INEXORÁVEL FINITUDE HUMANA.
EU PODERIA ESCREVER MAIS SOBRE A ESCRITORA E SUA OBRA RASCUNHOS DE UM TEMPO, ENTRETANTO, VAMOS ESTENDER UM TAPETE VERMELHO E DAR PASSAGEM A ESCRITORA, A CRONISTA QUE TERÁ MUITO QUE DIZER, E, COM CERTEZA, SORVEREMOS SUAS PALAVRAS COMO UMA BELA TAÇA DE VINHO.
É A SUA NOITE!
PARABÉNS SAVIA.
                                               REGINA BARROS LEAL


Quimera
                               Regina   Barros leal                          
Subo arrojada em seu dorso queimante
Seguro firme as rédeas de minha fantasia
Audaciosa, cavalgo confiante pelos campos distantes
Soberbo, rugindo e sacudindo a crina
Meu cavalo alazão corre pela estrada aberta das minhas ilusões
Na cavalgada alucinante busco as estrelas
 Tocando-as descubro minha alma em êxtase
 Eufórica, vejo as nuvens pairando no céu de meus desejos
Atravesso os tempos e a ancestral visão do passado me atordoa por segundos
Respiro sorvendo o ar que enche meus pulmões de energia pulsante
Na impetuosa aventura vou cortando os edens de minhas quimeras
Delírios reticentes
 Abro fendas no tempo enfrentando as tormentas do medo
Seguro as rédeas do meu sonho para não cair no precipício da alucinação
O vácuo, a leveza do corpo me entontece.
 Suave sensação de liberdade!
Sorvo o vinho paradisíaco da magia do passeio encantador
Estou em paz e tudo se harmoniza
Acordo em sobressalto com o barulho dos ventos de verão


Delírio

Delírio

                                               Regina Barros Leal

Tão diferente do ontem!
O hoje e o  amanha.
Artimanhas do tempo!
 E eu o espreito.
Busco desvendar o insondável mistério do infinito
Mas não cabe no finito de minha compreensão
Sonho e em cada sonho me vejo surpreendida pelo inexplicável
Ao adentrar o imaginário encontro minhas loucas fantasias!
Brinco com as estrelas e escorrego nas lâminas do raio fulgurante
A luminosidade espalha-se na imensidão do mundo!
 Choro de alegria
Envolta no véu , rasgo as vestes frágeis do ceticismo que me obstrui a visão.
Limpo a areia dos meus olhos lacrimejantes e vejo as cores do universo
Não consigo segurar as rédeas de minha imaginação!
Um dia eu tocarei os ventos!
Quem sabe?


Quem sou eu

Minha foto
Fortaleza, Ce, Brazil
Sou uma jovem senhora que gosta de olhar o mundo de um jeito diferente, buscando encontrar o indecifrável, o indescritível, o inusitado, bem como as coisas simples e belas da vida.