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domingo, 9 de novembro de 2014

Mal-estar

Mal-estar

                                               Regina Barros Leal

Uma sensação de queimação no estômago me incomoda. Bebo leite na esperança de amenizar o fogo que sobe à garganta e, aflita, sinto um gosto amargo na boca. O coração bate de tal forma que o tenho em minhas mãos pedindo liberdade. Ah! É difícil conviver com o mal-estar que encurva o corpo deixando-o vergado como uma árvore ressequida, seca, murcha e feia.
         Sento-me à mesa e deparo-me com um prato de sopa cheio de farelos de pão. Coisa do João, que quase sempre deixa o rastro de sua presença gulosa. Olho ao lado e só vejo a domesticidade entranhada nas paredes, na geladeira, no fogão. Um ar de feminino tempero, cheiro de comida feita e de leite derramado. Não sei como entornou a xícara na toalha branca.  Levanto-me para apanhar o pano de prato e enxugar mas,  escorrego numa pequena poça de xixi da cadelinha do meu filho.  A danada vive sujando o piso! Mas é tão achegada. Pula de alegria solicitando atenção quando começa a chegança do trabalho. Faz carreira, rola no cão, pula e late fino. É uma alegria só.
Espreguiço o corpo que geme por descanso. Olho minhas mãos e percebo que a pele está seca. Preciso de creme. Eu sempre sou muito distraída. Elas precisam de cuidados. Vou tentar amanhã começar o tratamento. É sempre assim.
Sinto-me fogo, ardendo dentro de mim e bebo muita água e a quentura não passa. Vou ao armário onde guardo os remédios de urgência. Pronto, um antiácido. Olho o relógio e escuto seu ritmo. Tic tac. Ritmo de vida de muita gente. Tic tac. Compassado... Igual... Sistemático... Padronizado. Fico profundamente triste ao confundir-me com o relógio. Tic tac. Será que sou assim? Eu rejeito qualquer semelhança. Eis que, por mais que tente. De quando em vez, lá estou como o relógio. Tic Tac Tic Tac. Minha tristeza se agudiza pela sensação de desconforto. Lembrei-me dos dias em que ao mergulhar no mar revolto, perco o equilíbrio e bebo água misturada com terra. É uma sensação de desespero. Aquela terra entrando e rasgando a garganta incomodada,também, pelo sal. Quente, um  mal estar! Olhos irritados e o corpo doído. Vai e vem. O mar requebra-se em ondulações incertas e traiçoeiras. Lembrei-me de muitas pessoas. Mergulhei com algumas e as molhei com água salgado do mar. Um pouco de vingança imaginária. Logo depois as banhei com a serenidade de águas tranquilas. Perdoei e repudiei os pensamentos mesquinhos.
Respiro e inspiro, desejando aliviar o desconforto. Ainda tenho a sensação de sol quente, ardendo e fogo na mata. O ardor continua forte. Levanto-me, desta vez, para dissipar o mal entendido entre a azia e o meu ser em infortúnio. Bebo leite morno com canela. Ah! Delicioso. Alguns minutos e sinto que o fogo abrandou e meu estômago tomou jeito. Graças a Deus.  A calmaria.
 O silêncio e a cumplicidade de um copo. Embrenhei-me naquela realidade noturna da sala de jantar iluminada por lâmpadas fluorescentes.









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Fortaleza, Ce, Brazil
Sou uma jovem senhora que gosta de olhar o mundo de um jeito diferente, buscando encontrar o indecifrável, o indescritível, o inusitado, bem como as coisas simples e belas da vida.