O desencanto
Regina Barros Leal
Espreguiça
seu corpo extenuado de esperar um sono que não chega. Passa as mãos pelo rosto
com um certo jeito de inquietação. Nesse dia Márcia tivera uma contrariedade
que embaciou o seu senso de humor. Avassaladora emoção que comprime o peito e
embrenha-se no seu corpo inteiro.Desalento. Raiva. Aflição. Forte turbulência.
Não sabe. Só constata seus sentimentos
Puxa
vida, mais uma vez estava diante do quase inevitável. Essa impressão de impotência
a aborrecia. Tal circunstancia lhe enchia de indignação. Deu-se conta da presença da mediocridade nas falas e a procura de soluções insensatas por aqueles
que não percebem as sutilezas subjetivas
do outro. São tão distraídos!
Márcia
não conseguira ainda aceitar o ocorrido, e percebia o que estava oculto na
norma social. Gostaria de romper com a formalidade que amarra e engessa as
emoções e que, em nome dela os
indivíduos regem suas vidas. Bolas, quando aprenderia a dissimular? Imaginava-se em m casulo artificial onde nada
o romperia. Seria possível, já que não conseguia renegar seus sentimentos, nem
tampouco, escondê-los.
Ainda sentia o gosto amargo da decepção. Ah!
Esse ardor queimante da dor irada! Da lágrima retida. Uma dor que golpeia a
existência.
Aquela noite seria densa de conflitos , quanto todas as
outras em que se depara com sua impulsividade traiçoeira. Incrível! Rumina a
decepção. É tedioso saber que a
transparência da emoção humana incomoda uma sociedade de falsas aparências. A
dúvida acastelada não se manifesta como que para preservar a norma válida. E
seu insensato modo de dizer a palavra solta, depreendida da regra? Reconhece o
desatino, a imprudência, o jeito destemperado de preservar o justo. Mas, quem a
poderá julgar?
Meu Deus! Quanto tempo ainda de desatinada
atitude? Quantos momentos ainda de contida emoção? Quantas horas seriam
suficientes, desta vez, para acalmar sua inquietante certeza do gosto travento
do desencanto.
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