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sábado, 17 de outubro de 2015

O RITUAL


O RITUAL 

                                  Regina Barros Leal

         O portão de ferro abrindo-se. As pessoas chegando...O dia começara. Eram 8 horas da manhã. De cada um que entrava, ouviam-se variados cumprimentos: Oi!  Bom dia! Olá! Como vai? ... E outras, apenas manifestando gestos de aceno com as mãos, movimentos com o corpo inteiro, ora harmoniosos, ora desajeitados.... Elas encontravam um jeito peculiar de expressar sua chegança.

         Durante um determinado tempo observei, espreitei, e, aos poucos, fui me envolvendo com a atmosfera intrigante, vivenciando intensamente a experiência. Dei-me conta das expressões dos que chegavam: rostos alegres, sisudos, descontraídos e alguns ansiosos.... Outros rostos fechados e impenetráveis, alguns carregando um certo ar de cansaço, como quem passara uma noite insone.  Percebi, outrossim, trejeitos de quem acordou cedo e já fizera um montão de coisas e ao chegar, rapidamente, procurava assento, soltando o corpo pesadamente. À medida que ia aprofundado o meu olhar curioso, vi gestos familiares, reconheci hábitos e manifestações humanas, mesmo porque o rito do iniciar, do começar o dia, acontece em todos os lugares, embora em tempo, em cantos e formas culturalmente diversas.

         Remeto-me ao passado. Revivi também o amanhecer no casarão.... Que lembranças! O galo cantando anunciando o amanhecer; o cheiro de leite mugido, o barulho dos patos no tanque ao lado, as portas e as janelas sendo abertas, deixando o sol entrar e banhar o ambiente da energia do calor matinal. Grandes e pesadas portas abrindo-se para dar passagem ao dia que chegava. Uma prática cotidiana inconfundível!

         Meus pais, embora urbanizados pelo tempo na cidade e pela contenda diária, não deixaram de cultivar os hábitos do campo e conseguiram mantê-los em família. Recordo-me do café da manhã: uma mesa sempre farta de cuscuz, bolo de milho, canjica, queijo, pamonha, leite fresco bem-fervido e a coalhada que meu pai não dispensava de sua primeira refeição. E o café! Ah! Um café gostoso, torrado no pilão! Ainda consigo sentir aquele especial cheiro que invadia o casarão.

         Na cozinha espaçosa, no grande fogão, as grandes chaleiras fervendas. Os panos limpos de coar café, segurados por pequenas varetas de madeira roliça, eram arrumados de um jeito especial, colocados dentro de uma panela para não se sujarem. Questão de zelo e higiene! Muitos dos que lá trabalhavam faziam o desjejum no casarão.

         No quintal, o canto dos pássaros. A beleza das plantas orvalhadas... Era a natureza que cumprimentava a humanidade. O grande quintal era um local prazeroso, com frutas variadas: seriguela, caju, mamão, coco, banana prata, goiaba e outras mais.

Além disso, tínhamos duas vacas, dois bezerros e o mais curioso era ao amanhecer o dia, a criançada, cada um com um copo de alumínio (gravado o nome), esperando a sua vez para tomar o leite mugido. Obrigação. Meus irmãos e primos, tanto quanto eu, não gostávamos da ordem paterna. Ali estávamos postados na fila do leite. Essa cena se faz nitidamente presente em minha memória.

Consigo, ainda, com nitidez, rever as imagens daquelas manhãs.

           Compondo o quadro, as moças trabalhadeiras, pois eram umas cinco, já de vassouras nas mãos e aventais coloridos se espalhavam pelo casarão iniciando as suas atividades domésticas. Em cima de uma mesa redonda, com tampa de mármore e pés de ferro e a pintura de duas negras de tranças amarradas com fitas coloridas, colocavam-se grandes tachos de cobre cheios de goiabas brancas e vermelhas, devidamente separadas e descascadas. Um ritual semanal, os preparativos.

 Depois, no pátio ao lado, os grandes tachos eram colocados em fogões de carvão, improvisados para a feitura do doce. Jamais esquecerei as borbulhas do doce cozinhando e as enormes colheres de pau manuseadas pelas meninas em gestos circulares. O aroma agradável! Olho, e visualizo a imagem da jeitosa Justina: moça branca, bonita, uma das responsáveis pela cozinha. Grata imagem de um tempo que se foi!

 Minha mãe, com seu jeito manso, porém firme, coordenava todos no começo do dia. No espaçoso quarto da casa, organizadas impecavelmente em cima da cama de casal, encontravam-se as roupas de meu pai: camisas, gravatas, meias, lenços de linho branco dentre outros acessórios. Ao lado da cama, os sapatos, quase todos pretos, estavam sempre bem lustrados. Meu pai era um homem franzino, pequeno, mas, elegante e vaidoso. Tudo lhe era dado. Minha mãe, a prestimosa mulher, fazia-lhe festas e gentilezas. Era um homem especial! Na mesa, o peito de frango, aliás, os melhores pedaços, sempre lhe foram reservados. Tudo nos parecia natural e aceitável. Era o chefe da casa.

 E a grande mesa redonda! Revolucionária para a época, porque tinha um expositor giratório. Não pedíamos os pratos e bandejas de comida, apenas rodávamos a redonda tábua giratória e lá estavam os quitutes de Justina. Na hora do almoço, a atenção respeitosa, a famosa hora da conversa, da prestação de contas, das novidades do dia, das traquinagens da criançada, inclusive. Um ritual familiar inesquecível.

         Revejo, também, o pátio avarandado. Naquele lugar, tão cuidadosamente construído, armávamos redes, jogávamos damas, dançávamos quadrilha, e brincávamos de tudo que pertencia ao nosso universo lúdico. Belas recordações!

          De repente, alguém me chama:
-       A reunião vai começar, você não vem?
-       Claro que vou. Respondi à minha atenciosa e pequenina amiga.
Levantei-me, e segurando os meus alfarrábios, fui caminhando lentamente para a sala. Todos já estavam acomodados: os que chegaram entreolhavam-se e acolhiam a pequena senhora, a intrusa do dia. Mas, por ter sido bem-recebida, compartilhei. Não sei ainda por que... mas senti-me estranha naquela manhã...

          Daí, resolvi escrever.



quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Florbela Espanca- a mulher

Florbela Espanca- a mulher
                                                                       Regina Barros Leal



            Início minha reflexão sobre a escritora Florbela Espanca que gemeu de dor, derramando-se em gotas de amargura, mas de uma beleza etérea em seus versos sofridos, como numa das estrofes de “Silêncio!”.
No fadário que é meu, neste penar/Noite alta, noite escura, noite morta,/Sou o vento que geme e quer entrar,/Sou o vento que vai bater-te à porta...

Não vou historiar sobre a biografia de Florbela Espanca, sobretudo porque já existem fascinantes estudos sobre a poeta que, ao despedir-se tão jovem da vida, aos trinta e seis anos, encerrou sua magnifica obra literária.
 Escolhi discorrer sobre os sentidos, a resistência, a beleza e o significado que a poetisa deixou como legado para os que apreciam o seu estilo e sua força telúrica. Seus poemas retratam a mulher, o ser angustiante, a depressão que chega ao lirismo na sua expressão genuína.
Florbela Espanca me chamou atenção há certo tempo. Seus poemas, a leitura do Livro de Mágoa” me instigou a ler mais sobre a autora, sua biografia, sua obra. Pasma diante de extasiante beleza, de tamanha amargura, quedei-me a fascinação de seus versos idiossincráticos. Fui lendo...lendo e à medida em que lia apaixonava-me pela mulher resistente aos preconceitos e normas. Vi um ser diferente que, ao contrariar códigos, mudou o rumo de sua vida nascente. Apaixonou-se perdidamente, vivenciou dores intensas em sua curta vida, de tal forma singular que a concluiu entregando-se à morte.
Não vou discorrer sobre suas escolhas, suas dores particulares, mas sobre como e quando seus versos me tocaram a alma, os sentidos e os significados para quem leu Florbela Espanca na maturidade da vida. Busquei ao conhecê-la, no sentido profundo que transcende a leitura biográfica, encontrar   minha essência feminina e poética,
 Expresso, pois, emoções pessoais. Li a autora procurando compreender o finito e o infinito do ser, numa procura do indecifrável, da definição do abismal sentimento de solidão. Foi ela, a mulher, a sua saudade sufocante, o amor que a envolveu e a dominou, a rejeição, a desilusão, a dor expressa de maneira inexplicavelmente bela e suas diferentes vestimentas que me aproximaram da poetisa. A mulher que cultivou a paixão no seu extremo, o amor em sua grandeza, a amargura na sua força devastadora, sem perder a beleza estética de sua narrativa.
Desejava descobrir um registro literário de emoções humanas avassaladoras, de atitudes femininas transgressoras, da rebeldia manifesta contra os esgarçados preconceitos, as perdas existenciais e sociais retratadas poeticamente.
  ‘Vacilando entre a moral e o preconceito e a beleza própria do poema, a poesia de Florbela teve um frio acolhimentodurante sua vida. Constatamos a história, “a relação mecanicista vida e obra, que se desenrolou em torno da poeta; tudo muito bem contado, com a base sólida da pesquisa séria de Maria Lúcia Dal Farra em Poemas de Florbela Espanca (Martins Fontes Editora). Retratou  Gerana Damulakis.


Encantada com sua obra enveredei pela leitura de seus poemas e encontrei retornos pessoais, encontros inusitados entre a leitora e a autora, instigada e entusiasmada pela beleza que, ela, tão singularmente nos faz encontrar em seus versos doídos.
Amar
Eu quero amar, amar perdidamente! / Amar só por amar: Aqui... além.../ Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente.../ Amar! Amar! E não amar ninguém! / / Recordar? Esquecer? Indiferente! / Prender ou...
Tédio
Que diga o mundo e a gente o que quiser! /-O que é que isso me faz? ... o que me importa? ... /O frio que trago dentro gela e corta /Tudo que é sonho e graça na mulher! / O que é que isso me importa?! Essa tristeza / É menos dor intensa que frieza, /É um tédio profundo de viver!


Florbela Espanca não participou dos movimentos revolucionários como outros poetas famosos da época o fizeram, entre eles Fernando Pessoa.  O seu tempo angustiante a submergiu, percorrendo sua interioridade nostálgica, a densa fenda do inconsciente que tornara-se permanente em sua cruel agonia. Aprisionada em suas dores rompe em seus sonetos a intensidade aflitiva de seus sentimentos.
                                                          
A maior tortura        
Na vida, para mim, não há deleite. / Ando a chorar convulsa noite e dia .../ E não tenho uma sombra fugidia /Onde poise a cabeça, onde me deite ! /E nem flor de lilás tenho que enfeite /A minha atroz, imensa nostalgia! ... /A minha pobre Mãe tão branca e fria /Deu-me a beber a Mágoa no seu leite!
 Quanta sensibilidade atravessada pela dor espiritual, pela ausência lavrada em seus versos. A mulher solitária, nostálgica, inconformada por sua incompletude, inconsolável pelo amor não correspondido, pelos fracassos, as desventuras existenciais. Sofrimento desconcertante!
               Nessa jornada encontrei uma dor tão grande...tão grande...que chega a ser incompreensível por quem não a passou ou a sentiu. Foi esse sentimento que apreendi, que confirmei ao ler a poeta. O não dito pela impossibilidade de dizer...  Refiz conceitos e reorganizei ideias e as certezas despencaram pela incerteza cruel da idiossincrasia do outro, àquela que nunca chegaremos a conhecer. Esse instante que não foi fugaz e marcou minha experiência com Florbela Espanca e não teria como descrevê-la, por ser indescritível.
  Escrevo então sobre o que não tenho como fazê-lo. Grande paradoxo! Mas a jovem poeta me deixou como legado a sua incrível originalidade, a sua fecunda visão da dor e que eu, na minha maturidade, pude perceber. Foi lindo e sofrido. Entretanto, indizível no mistério do outro.
Este trabalho, portanto, não é um ensaio sobre Florbela, um estudo sobre sua genialidade poética. Levaria páginas e páginas, pois são tantos os ângulos e abordagens! É uma fonte de pesquisa e estudos intermináveis. Não tive, em nenhum instante, essa intenção, mesmo porque teria que mergulhar densamente, por mais um longo tempo sobre sua obra magnífica.  Não sei se a alcançaria.

Registro tão somente minha mais profunda admiração, meu encontro com o inexplicável, que inexplicavelmente me tocou e, assim, continuo a ler Florbela e em cada leitura, em cada poema, encontro sentido e significado por me fazerem refletir sobre a finitude e o infinito do tempo. Não morremos, nos diluímos em versos da vida.
Minha noite 
                        Regina Barros Leal

Perdida na substância do medo, quedo-me diante da dor
Tento romper o invólucro dos meus pensamentos em desalinho
Busco me alcançar e rasgo pedaços de mim em busca da inteira razão
Descubro-me na noite abissal da solidão humana
 A depressão me veste em sua forma insensível e avassaladora
 Não encontro nenhuma saída no insensato desespero
E minha alma despedaça-se pelo esforço da busca de mim mesma
Temo a vastidão infinda do desamor
 Encontro-me em regiões desérticas, ressequidas e sem cor.
Um pranto sem fim.
Remédios, copos vazios, cabeceira desarrumada e meu pente em desuso.
E a angústia penetra lancinante no meu corpo já extenuado
Madrugada a dentro enrosco-me em pensamentos delirantes
Encontro a escuridão dos tempos e a aflição n’alma   
Migalhas de vida em desassossego
Onde estão as rosas que enternecem e os amores que me preenchem?
E o perfume das tâmaras distantes? O sorriso da criança? Os beijos dos amantes?
O sol vermelho? Os ventos de verão?
Movida por algo indecifrável ainda alcanço a janela do quarto
Esforço desmesurado. Exaustão.
É dia.
O sol banha meus cabelos brancos despenteados
A manhã nasce exalando o perfume das rosas do jardim bem cuidado
A janela aberta e o cheiro da terra
Na mesa de cabeceira, os vestígios...
Será que um dia cantarei a melodia dos anjos?

De repente o sorriso
                                                               Regina Barros Leal

A primavera chega
O sorriso das crianças orvalha a varanda da casa
Correndo os duendes surgem com suas artimanhas malucas
A sonora gargalhada da menina fujona ecoa no salão de festa
O sol adentra o sobrado em sua soberania
Maria corre em alvoroço pela estrada larga
Afoita tenta apanhar os raios de sol que se espalham
Busca  colher os sonhos que esperou durante o inverno
Rigoroso, maltratou os peixes do aquário antigo
Ressecou as papoulas do portão de ferro da velha casa
Machucou as plantas em sua forma gélida, branca e endurecida
E os sonhos se perdem no espaço, quebrados, esvaídos
Maria sorrindo despede-se da brancura da neve
 e abre alas para a primavera vestida de cores.

Lançamento livro UM olhar sobre o tempo

Boa noite caros amigos e familiares
Em primeiro ligar agradeço a Reitora Dra
. Fátima Veras por sua gentil colaboração, afável em suas palavras e suas atitudes e  especialmente o Vice reitor de graduação professor Henrique Sá por sua brilhante apresentação da obra. Meu amigo e parceiro de trabalho. Obrigada
Agradeço a colaboração de meus amigos professores, Carlos Velasquez, Coordenador do Curso de Artes e Carlos Bittencourt, coordenador do curso de Jornalismo e Propaganda, que nos presentearam com a musicalidade, a sonoridade da música que nos enleva a alma.
A Diretora do Centro de Ciências Humanas, Erotides Honório por ter me estimulado a publicação da obra, sempre atenta e buscando a excelência;
As atrizes do Grupo Mirante da Universidade de Fortaleza por declamar alguns poemas numa apresentação apreciável apresentação artística
À Universidade de Fortaleza que sempre nos apoiou em nossas investidas literárias  
Ao meu amigo Batista de Lima que prefaciou o livro e a minha querida amiga Célia Filismino, por suas gentis palavras,
A minha companheira a acadêmica e escritora e amiga Revia Herculano que competentemente escreveu a quarta capa do livro.
Agradeço, em especial, aos meus alunos, parceiros desse momento. O Anderson, brilhante aluno de Jornalismo, a Mariana, a Marta e Hermania, minhas caras alunas  que tanto colaboraram para que essa noite fosse distinta e alegre;
Aos diretores, coordenadores, professores, aos  pareceirois  da Academia Cearense de Lingua portuguesa  e amigos em geral por dividirem, conosco, esse singular momento.
Agradeço, em especial, a minha família amada: meu marido Arley, meus filhos Geovanna e Giordano, Arley e aos meus netinhos queridos. Arley, Victor, Adriano e Gustavo que estão tornando essa noite mais brilhante com suas presenças;
Aos meus irmãos Cesar, Amadeu, Heloisa, Ricardo, Vladimir e Cléa por serem meus companheiros de tantas ocasiões especiais e, sobretudo, aos meus pais que já se foram e continuam eternizados em meu coração.
Agradeço em especial a minha doce amiga Ana , por existir em minha vida, companheira fiel de leituras e comentários sobre meus escritos.
Enfim agradeço a todos que aqui estão por se fazerem presentes e, já, peço desculpas pelos esquecimentos que acontecem numa noite como essa.
            Inicio minha fala afirmando que sou afoita e corajosa, uma vez que é meu primeiro livro de poemas e, acredito, não será o último. Gostei de escrever poesia. Lembro-me do primeiro Certamente que sei- ele resgata minha doce infância. Percebi que a visão sobre o tempo está presente em tudo que escrevo,  da crônica ao poema. Sou saudosista, mas seleciono as boas passagens da vida e volto ao presente com a mesma rapidez em que em envolvo no tempo que se foi.
             Esse livro revela minha reflexão sobre o tempo, sua infinita natureza e nossa finitude humana. Esse paradoxo me deixa em desalinho, e ao mesmo tempo, tenho o riso solto para tentar compreender e aceitar o inexorável tempo.
            Sou uma mulher simples, sonhadora, amante da boa música, da bela canção e da boa leitura. Gosto de fazer amigos e expresso essa atitude que tenho diante da vida, através de minhas obras.
Cito Cecília Meireles quando fala de amor. Ela me inspira!
Ah! O amor
É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os
fortes.
            Penso que escrever é sentir-se apaixonada, é olhar o mundo sob outra perspectiva, é ver as pessoas em suas diferenças e aceitá-las, admirar a natureza. Acredito que ao escrever, aprendo a dialogar comigo mesma , com o amigo ausente, o leitor interessado, Sei lá, penso tantas coisas! Foi assim que me senti ao produzir UM OLHAR SOBRE O TEMPO.
            Ao reler o livro, gostei. Essa postura me agrada, porque me senti viva, apaixonada pelo poema a Insensatez do prazer Amordaçado, Possibilidades do amanhã orvalhado,  Um passado presente  e Sonhei com minha alma de névoa.
Lembrei-me de Drummond quando expressou em versos
Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida.

             O interessante, meus amigos, e que o poeta confirma o que penso.           
            Destaco, creiam-me   que não alcancei o resgate do mesmo sentimento de quando escrevi o poema,  pois foi uma circunstância, um sentimento, um momento que não se repete. Mas percebi a sutileza dos versos que dizem tanto de mim, da vida e de tantos outros que se fizeram presentes em minha existência comum.
            Esse livro é o primeiro de outros, muito embora esteja tateando na produção de um romance, o que é bastante novo para mim, os poemas continuam aflorando minha cabeça, poesias sobre tantas coisas! Sutis desassossegos, esperança, sonhos, medos inexplicáveis, mesmice,  e...Só Deus sabe.
            Assim, na minha maturidade descobri esse grande prazer! Narrar, contar estórias, fazer poesia, cantar a natureza e  escrever sobre o cotidiano e o imponderável.
            Espero que gostem, mas, sobretudo, peço tolerância e paciência para comigo, pois percorri um itinerário desconhecido, fiz percursos inusitados, agradáveis. Em alguns, denunciei, censurei, repudiei, em outros, amei, descobri,sonhe e acordei.
Beijo fraternalmente cada um de vocês.
Muito obrigada e boa noite




Lamento de uma alma ferida




Lamento de uma alma ferida

                                                         Regina Barros Leal


Dor que se espalha rastreando luz
Inquieto sentimento de um coração aflito
No tormento de quem foi esquecido
Mas, a certeza da gratidão traz a esperança
Um dia de luz
Quem sabe chegará à hora em que aliviará seu coração magoado
Resta o sabor da doce lembrança das noites compartilhadas
Invadidas por zelo e ternura
Que encantam...Inebriam e enternecem
 Sim! É o que faz esquecer o momento em que sangrou sua alma
 E  acreditou no amanhecer
 Na esperança do devir
 Outros momentos se construirão no tempo
O tempo! 
Ah! A sabedoria do tempo!
 Mesmo que o lamento exista, o tempo cura.
Um tempo sem idades, sem fronteiras.
Um tempo do infinito










e ai?

E aí?

                                                               Regina Barros leal

                E ai inicie um percurso diferente. Olhei para as pessoas ao meu lado e resolvi sair. As conversas eram tão vazias! Deus me perdoe por julgar, mas não tive paciência de ouvir tanta mediocridade.

          Então resolvi pensar sobre outras coisas. Hun! Veio-me à mente o livro de Saramago “As Intermitências da morte”. E ai pensou: Que inteligência rara. A trama apresentada por ele, a morte, a intolerância humana, os falsos moralismos, o poder. Pensei na senilidade exposta de uma forma aflitiva, sem dó nem piedade. Veio o medo de envelhecer! Da exclusão social, do expurgo, de enfrentar a mediocridade humana. E os moribundos? Quanta solidão e quanto desprezo à humanidade. Saramago conseguiu azucrinar meu juízo! Fiquei indignidade e comecei a pensar na velhice. Inexorável o tempo.  O que será que o mundo irá me aprontar?Sorri pensando nos filhos. 

Lançamento do livro Rascunhos de um tempo de Maria Sávia Ferraz






EM PRINCÍPIO EXPRESSO MINHA ALEGRIA EM PARTICIPAR DESSE EVENTO TÃO ESPECIAL EM QUE SÁVIA FERRAZ APRESENTA A OBRA LITERÁRIA RASCUNHOS DE UM TEMPO NUMA CIRCUNSTANCIA PARTICULAR DE REGOZIJO. 

MEUS DIZERES SÃO DIRIGIDOS Á MULHER, Á ESCRITORA, A MÃE, ENFIM, Á AMANTE DA VIDA.

 PARA ELA O BRILHO, OS APLAUSOS, OS SORRISOS, AS REVERÊNCIAS!

INICIO MINHA FALA AFIRMANDO: SÁVIA É UMA CRONISTA E COMO TAL, SE INSPIRA NOS ACONTECERES DO COTIDIANO, NOS CENÁRIOS PARTICULARES, OS QUAIS NÃO 
ESCAPAM Á SUA CURIOSIDADE FEMININA.

SÁVIA CONTA EXPERIÊNCIAS INUSITADAS, LEMBRANÇAS AVIGORADAS PELA EMOÇAO, REVELANDO INTELIGÊNCIA, ARGUMENTAÇÃO E SENSIBILIDADE.

TRANSBORDA DE AMOR AO ESCREVER SOBRE OS AMORES DE SUA VIDA
RASCUNHOS DE UM TEMPO- PERCORRE O ITINERÁRIO DA MULHER QUE NARRA FATOS CORRIQUEIROS, CENÁRIOS IRREVERENTES, AS INCONTIDAS EMOÇÕES, O PRIMEIRO BEIJO, A SENSUALIDADE FEMININA, OS MEDOS, AS ANGÚSTIAS, AS PRINCIPAIS DESCOBERTAS E OS SOBRESSALTOS DIANTE DO INEXORÁVEL.

A CRONISTA RASCUNHA A VIDA INSERINDO TEMPOS DIFERENTES, TEMAS DÍSPARES, ARTICULANDO EXPERIÊNCIAS, ESTÓRIAS DE VIDA, TESTEMUNHOS E ESPERANÇA NO DEVIR. 

SÁVIA ATRAVESSA AS EMOÇÕES COM UM OLHAR FUNDANTE.
NA APRESENTAÇÃO DE SEU LIVRO ELA DESPONTA SUA AUTENTICIDADE AO EXPRESSAR:
             SEI QUE O QUE ESCREVO REPRESENTA MUITO DE MINHA VIVÊNCIA,
ASSIM, INTRODUZ O LEITOR ÀS SUAS VIVÊNCIAS, QUESTIONA, CRIA, RECRIA, REINVENTA A VIDA, SURPREENDE, AGUÇANDO A CURIOSIDADE DO LEITOR.
É UMA ESCRITA PERMEADA DE TRAVESSURAS, CONJECTURAS, REFLEXÕES E QUESTIONAMENTOS.

NA CRÔNICA REPENSANDO REGISTRA;
IMPOSSÍVEL AFASTAR-SE DA REALIDADE DO COTIDIANO. DEIXAR DE VER, DE ESCUTAR, DE PERCEBER ATRAVÉS DOS SORRISOS E DOS OLHARES, DAS EXPRESSÕES DE ENFADO, DAS GARGALHADAS RUIDOSAS A VIDA ACONTECENDO A NOSSA VOLTA.

CORAJOSAMENTE DESCREVE, Á SUA MANEIRA, SITUAÇÕES VIVENCIADAS DE FORMA ATRAENTE, COMPARTILHA OS MOMENTOS DE SOLIDÃO, EXPRESSA SUAS DORES, SUAS ANGUSTIAS, ALEGRIAS E DESEJOS SINGULARES.
SE A MORTE ME PEGAR DESPREVINIDA NÃO QUERO QUE FAÇAM GRANDES CENAS DE DOR

SÁVIA, EM SUAS NARRATIVAS REVELA UM OLHAR EMPÁTICO AO ACOLHER OS AMIGOS, AS PESSOAS PRESENTES EM SUA EXISTÊNCIA.

SUAS CRÔNICAS DESTACAM REMINISCÊNCIAS, ABRE FENDAS NO TEMPO E VISUALIZA MOMENTOS DE AMOR, DE GARGALHADAS E SAUDADES DE OCASIÕES PECULIARES.

RASCUNHANDO O TEMPO - É A OBRA DE UMA MULHER RUIDOSA, PERTINENTE E IMPERTINENTE. AO HISTORIAR SITUAÇÕES DO COTIDIANO, ELA MANIFESTA A AGONIA DA SOLIDÃO, O INUSITADO DO INDISCRITIVEL, BEM COMO ESTÓRIAS IMPREGNADAS DE SENTIMENTOS PARADOXAIS E INSTIGANTES.

AS IDAS E VINDAS DA MENINA DO INTERIOR QUE AGARRA A VIDA COM TENACIDADE E ENFRENTA A CIDADE, O NOVO, DE UMA FORMA CORAJOSA.

MÃE, PROFISSIONAL, COM VASTA EXPERIÊNCIA NA ÁREA SOCIAL, CRAVA RAIZES 
POR ONDE PASSA, ENFIM, UMA MULHER QUE TRANSCENDE O TEMPO.
A ESCRITORA PERCORRE O TRAJETO DA OUSADIA, DA CORAGEM AO DESNUDAR  SEGREDOS E EMOÇÕES PARTICULARES.

CONTA, DE FORMA SINGULAR O SEU MERGULHO LITERÁRIO, OS SEUS PRECIOSOS LIVROS, A SUA FOME PELAS LETRAS. DESCREVE QUE ATÉ BULAS DE REMÉDIO NÃO ESCAPARAM À SUA GULA.

ESCREVE E DEDICA SUA OBRA ÁS MULHERES, Á SIMONE DE BEAUVOIR EM PARTICULAR, DESTACANDO PERPLEXIDADE AO DESCOBRIR SUA PRÓPRIA FEMINILIDADE, SUA SENSUALIDADE E AO CRIAR SUAS FANTASIAS.

AS CRÔNICAS FAZEM UMA VARREDURA NO COTIDIANO QUE A ESCRITORA OBSERVOU E VIVENCIOU AO LONGO DE SUA HISTORIA E, DE FORMA PESSOAL, PARTICULARIZA SITUAÇÕES FAMILIARES, AMORES, O SENTIMENTO MATERNAL, OS ACERTOS E DESACERTOS EXISTENCIAIS, AS EXPERIÊNCIAS PARADOXAIS, EFÊMERAS, ETERNAS E DENSAS NA CIRCUNSTANCIA VIVIDA. DIANTE DA INEXORÁVEL FINITUDE HUMANA.

EU PODERIA ESCREVER MAIS SOBRE A ESCRITORA E SUA OBRA RASCUNHOS DE UM TEMPO, ENTRETANTO, VAMOS ESTENDER UM TAPETE VERMELHO E DAR PASSAGEM A ESCRITORA, A CRONISTA QUE TERÁ MUITO QUE DIZER, E, COM CERTEZA, SORVEREMOS SUAS PALAVRAS COMO UMA BELA TAÇA DE VINHO.
É A SUA NOITE!
PARABÉNS, SAVIA.

O desencanto

                                                   Regina Barros Leal

Espreguiça seu corpo extenuado de esperar um sono que não chega. Passa as mãos pelo rosto com um certo jeito de inquietação. Nesse dia Márcia tivera uma contrariedade que embaciou o seu senso de humor. Avassaladora emoção que comprime o peito e embrenha-se no seu corpo inteiro.Desalento. Raiva. Aflição. Forte turbulência. Não sabe. Só constata seus sentimentos

Puxa vida, mais uma vez estava diante do quase inevitável. Essa impressão de impotência a aborrecia. Tal circunstancia lhe enchia de indignação. Deu-se conta  da presença da mediocridade nas falas e  a procura de soluções insensatas por aqueles que não percebem as  sutilezas subjetivas do outro. São tão distraídos!

Márcia não conseguira ainda aceitar o ocorrido, e percebia o que estava oculto na norma social. Gostaria de romper com a formalidade que amarra e engessa as emoções e que, em  nome dela os indivíduos regem suas vidas. Bolas, quando aprenderia a dissimular?  Imaginava-se em m casulo artificial onde nada o romperia. Seria possível, já que não conseguia renegar seus sentimentos, nem tampouco, escondê-los.
 Ainda sentia o gosto amargo da decepção. Ah! Esse ardor queimante da dor irada! Da lágrima retida. Uma dor que golpeia a existência.
        Aquela noite seria densa de conflitos , quanto todas as outras em que se depara com sua impulsividade traiçoeira. Incrível! Rumina a decepção.  É tedioso saber que a transparência da emoção humana incomoda uma sociedade de falsas aparências. A dúvida acastelada não se manifesta como que para preservar a norma válida. E seu insensato modo de dizer a palavra solta, depreendida da regra? Reconhece o desatino, a imprudência, o jeito destemperado de preservar o justo. Mas, quem a poderá julgar? 

 Meu Deus! Quanto tempo ainda de desatinada atitude? Quantos momentos ainda de contida emoção? Quantas horas seriam suficientes, desta vez, para acalmar sua inquietante certeza do gosto travento do desencanto.













Conflitos
                                                                        Regina Barros leal           

É noite! Mais uma daquelas situações de embaraço em que Márcia sente-se molestada pelo desassossego. É quando se percebe inclinada a escrever. Frente ao computador transgride a norma do descanso e inicia uma relação diferente com a máquina, mormente se o que pretende produzir, foge a regra do técnico e do acadêmico, na tentativa de expressar os seus medos e angústias, bem como, suas alegrias e descobertas outras.

Assim escorrega seus dedos irrequietos pelo teclado. Quem sabe sua alma mergulhada nos pensamentos sobre a existência, buscando respostas para os seus significados, terminará por encontrar saídas e afugentar sentimentos vãos?  Quem sabe, consiga espalhar os risos silenciosos de quem ama a vida e que, em determinada circunstancia, não partilhou a alegria rara dos que conseguem se enternecer com o tempo.
Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
Florbela Espanca
Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.
 Clarice Lispector

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Olhando o tempo!

Olhando o tempo


                                             Regina Barros Leal

Ela estava sentada olhando o tempo. Viu sua amargura enfrentar a noite e com ela o rasgado da dor lancinante que oprimia seu peito. Mais uma vez a perda. Dos sonhos? Do dia ensolarado naquelas manhãs sonhadas há tanto tempo? Seu olhar perdido misturava-se a noite na sua negritude. Tudo era diferente diante da noticia. Não. Uma palavra que proferida em momento inoportuno, incomoda, machuca, fere. Não precisava ser tão enfático, mas dissera e ela, quieta diminuíra-se diante da negação. Ainda sentia o batimento do coração perturbado. O corpo doía e sua cabeça ardia. Naquele dia conhecera o sentido da negação, do ressequido olhar negativo, pois não esperava a palavra dita.

Levantou-se e saiu andando pelo corredor da casa grande e olhando o estreito caminho identificou-se com o percurso daquele momento. Estreito e sem portas e nem atalhos possíveis. Um Não... Bem dito sem tempo para refutação. Continuou sua andança sem intento. Atravessou a porta que dava para a varanda maior do casarão e lá ficou a espreitar o tempo da noite silenciosa na tentativa de encontrar alento. Serenou seu corpo e?
Abandono?
                                                  Regina Barros Leal
Não sabe...
A cada dia, horas… minutos...segundos...
Percebe a distância de um caminho sem fim...
Tão Longe de si !
Sofre!
Amargurada diante da tristeza absurda! Incompreensível!
As lágrimas surgem e não consegue detê-las.
Autocomiseração, será?
Não faz seu estilo, nem imagina seu rosto encrespado de dor
Gosta do seu jeito de ser, da simplicidade, da sensibilidade
Apropriou-se há tempos!
Lembranças de um momento de afetos, de um trajeto sereno
Dos turbulentos conflitos humanos.
Acontecem...
 São os desejos consumidos, as perdas esquecidas, as saudades corrompidas,
Constatação da sociedade de consumo que consome até a ternura, o amor
Destrói caminhos, enrijece as velhas mãos empastadas de creme...
Abate as arvores do amor.
Derruba as pontes de afetos
Mas não desiste de percorrer o trajeto da ternura

Vive a intensidade do agora

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Agosto


                        Regina Barros Leal

        Julho está quase findando, e ai vem Agosto, conhecido como o mês do desgosto.  Deus queira que não se confirme o dito popular. Espero que Agosto venha trazendo emoções exultantes. Aguardo mais ternura, coragem de enfrentar os desassossegos cotidianos, capacidade de brilhar no céu vestido de estrelas, deliciar-me com banhos no mar encrespado de ondas, e atravessar o tempo sem tropeços maiores.
        Agosto poderá trazer risos, gargalhadas sonoras, viagens incomuns, desejos, e muita vida! Encher de rosas o caminho que percorro, quem sabe? Perfumando e embelezando meu itinerário errante. Nem sempre, óbvio. Mas o que é o óbvio? Nem sei. Não traz dúvidas, embora possa ser cheio de dúvidas para outros. Paradoxo. Percepções e viventes diferentes.

         Assim montada no meu cavalo alazão, vou criando sonhos impensáveis, galopando e cortando o céu, ora azul vibrante, ora vermelho ardente. Setembro vem por ai e com ele a esperança de melhores dias, mais abraços, mais gente preenchendo a vida e muito amor nas noites de lua cheia. A vida é uma poesia!

TEMPO CHUVOSO

TEMPO CHUVOSO
                                               REGINA BARROS LEAL


MEU CORAÇÃO NO TEMPO CHUVOSO
ENTRISTECE NO TEMPO CHUVOSO
ALEGRA-SE NO TEMPO CHUVOSO
CONTRADIZ-SE NO TEMPO CHUVOSO
AMARGURA-SE NO TEMPO CHUVOSO
REJUVENECE NO TEMPO CHUVOSO

Reencontro inefável!

Reencontro inefável!
                                                             Regina Barros Leal

Entrei na carruagem dos meus sonhos
Corri pelas nuvens e arrojada rasguei o tempo, abrindo gretas no passado
Reencontrei a mulher, a mãe, a proteção, a meiguice.
Sorvi o seu sorriso inconfundível e deixei-me invadir pelo inefável encontro
Abracei-a e alcancei o calor materno, o aconchego generoso
Seu perfume de rosas, seu olhar penetrante e sua severidade terna fundiram minha alma em seu amor incondicional.
Segurei suas mãos generosas. Sabe?  Àquelas que ofertam ternura!
Minha mãe, Já faz tempo que só a encontro nos meus sonhos coloridos!
Consigo sorrir, brincar, dançar e chorar ...lagrimar de saudade ao acordar
Essa é a esperança que me torna forte…auspiciosa.
Eu sei que posso sonhar, se a realidade não permite o encontro
Se o inevitável nos condena
Se o finito nos limita
Voltar a sonhar...sonhar e deixar-me envolver nessa dimensão de possibilidades.
Vale à pena!


Conforto

 

Conforto

                                          Regina Barros Leal


                  Dizia para si mesma. Seu consolo estava na crença do que fazia sentido em sua vida. Sim, fazia sentido mesmo o que parecia não ter. Buscar o nexo das situações, das coisas que acontecem é buscar o seu significado. Seriam a mesma coisa? Seria a essência?  Aí então percebia a incomensurável disposição do ser humano em descobrir elos que parecem esquecidos.

            Viver é jogar-se na plenitude do tempo sem esquecer a natureza do relativo e do finito. Multiplicidade e entrelaçamento de espaço e tempo. Diálogo entre ordem e desordem. Como então sentir o infinito na compreensão do ser finito?  Como compreender o devir, o ser, quando sequer temos a consciência do tempo humano? O que fazer com o tempo se ele se reveste de uma dimensão não alcançável pela finita natureza humana?  Incógnita?  O homem. O tempo. O inalcançável. A humanidade do homem.

Conforta-me saber que não estou só na imperscrutável penumbra desses pensamentos. A buscas do sentido dá significado a existência do homem. O estar sendo. O devir.  Desconstruir para reconstruir significados temporais. Quem não busca? Por mais difícil que seja, o homem ao pensar sobre a sua existência, expressa um movimento, uma andança que pode ser uma trajetória de sonhos. Ou pesadelos?

O que alivia? Gosto de saber que a vida é um mistério, um belo dia bem vivido, uma dor aparada, um sentimento de amor. Ah! A beleza da generosidade dos homens. E porque tanta angústia?
        Não sei.







Perplexidade!
       
                        Regina Barros Leal

Olho a noite da janela do meu quarto aconchegante
Respiro languidamente e o percorro com um olhar sedento de inspiração
Ao meu redor vejo os quadros, frutos de mãos e mentes criativas
Observo a jangada, a rede de pescar, o barco, os peixes, o samburá e as iscas
Homens e mulheres do mar, despenteados, emagrecidos e empobrecidos.
 A Maria Fumaça com sua magia de trem a vapor num passeio sem rumo
No lado esquerdo, um comboio arrastando-se ao som do tempo
E o jarro de flores na mesinha de madeira?
 Posta-se à frente da estante de madeira de lei.
Perto, logo junto a janela, uma rua estreita com andantes da noite, solitários errantes da vida.
De repente, paro e controlo meus pensamentos, pois jorram memórias em suas telas
Ouço gargalhadas e gritos de surpresa! Ruidosos de entusiasmo da arte final
Quedo-me diante da indizível emoção! 
Compartilhei, por um segundo um tempo diluído numa dimensão expandida.
 É noite!
E madrugada adentro continuo pasmada diante do inusitado.
Vejo-me diante da beleza do estético cenário e descanso o espírito
Dormi ao chegar o dia.


              

Quem sou eu

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Fortaleza, Ce, Brazil
Sou uma jovem senhora que gosta de olhar o mundo de um jeito diferente, buscando encontrar o indecifrável, o indescritível, o inusitado, bem como as coisas simples e belas da vida.