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domingo, 27 de novembro de 2011

DISCUSO DE POSSE NA ACADEMIA CEARENSE DA LÍNGUA PORTUGUESA








ACADEMIA CEARENSE DA LÍNGUA PORTUGUESA – ACLP
REGINA LUCIA BARROS LEAL DA SILVEIRA –
DISCURSO DE POSSE
FORTALEZA, 01 DE SETEMBRO DE 2011
      
 Boa noite a todos.
Aos integrantes da mesa, aos acadêmicos e a todos os presentes, minha saudação fraterna, que estendo, de modo especial, ao ilustre Presidente da Academia Cearense de Língua Portuguesa, Ítalo Gurgel
         Agradeço ao Batista de Lima o apoio reiterado que me tem concedido ao longo dos anos, prefaciando livros meus e, agora, honrando-me com um belo e precioso discurso de recepção a esta Academia. Louvo a amizade que nos vincula e, no mesmo passo, celebro seu talento literário.
         Sou grata à acadêmica Revia Herculano por seu incentivo. Ao acreditar em mim, estender-me a mão em confiança, você, querida amiga, tomou assento permanente em meu universo afetivo.
          Ao Arley, companheiro fiel, o tributo a seu amor de esposo e pai, perpetuado em gestos de carinho e atenção.
         Aos filhos e netos, fonte de alegria e inspiração, meu afeto irrestrito, meu amor incondicional que arrebata minha alma  para o infindo e eterniza-se na finitude de minha existência. Drumonnd fala por mim:
A cada dia que vivo mais me convenço que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, que perdemos também a felicidade
         Aos caros irmãos, parceiros de sonhos e relembranças, de amores e dissabores, um renovado agradecimento. Tomo a liberdade de dizer ao querido e afetuoso irmão César, membro da Academia Cearense de Letras: Muito obrigada! Sua sabedoria, seu empenho e sua determinação têm sido um norte em minha vida.
Aos amigos, que nem sequer imaginam o quanto me são importantes, ofereço um fragmento da poesia de Vinicius de Moraes para sinalizar o que sinto neste exato instante:
“Eu talvez não tenha muitos amigos, mas os que eu tenho são os melhores que alguém poderia ter.” (Vinicius de Moraes)
Prossigo, registrando que o tempo confere credibilidade às instituições na medida de seu desempenho. Desde sua fundação, em 28 de outubro de 1977, a Academia Cearense de Língua Portuguesa tem exercido, nas terras de Alencar, um inestimável papel histórico, na medida em que tem zelado pela beleza e aprimoramento de nossa língua pátria.
 O Presidente da Academia, Italo Gurgel, em seu discurso de posse, verbalizou:

As academias são eternas. Passam as modas e os modismos, vão-se as escolas, desfilam em ondas fugazes os movimentos, tendências e estilos. As academias, porém, trafegam com desenvoltura pelas veredas do tempo, porque edificadas com a matéria prima da verdadeira imortalidade.

Esse sentido de sua missão se fortaleceu no curso dos anos e lhe assegurou reconhecimento pela seriedade de seu compromisso institucional.
         Passo a pertencer a este sodalício com particular enlevo e disposição para haurir estímulos e ensinamentos. Confesso temores. Afinal, pertencer a Academia Cearense da Língua Portuguesa constitui uma enorme responsabilidade. É honraria que poucos têm. Mas este receio é superado pela gentileza e afabilidade dos seus membros.
 Recorro a Clarice Lispector:
"As pessoas mais felizes não
têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das
oportunidades que aparecem
em seus caminhos.
A felicidade aparece para
aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam
e tentam sempre.”
Na circunstância do novo, busco aprender e aperfeiçoar experiências, assumindo o nobre compromisso. O cenário de respeito e sua amável acolhida me tranquilizaram e piso forte neste chão histórico, envolvida no encantamento. Decido escutar, prosseguindo como aprendiz. Aspiro sabedoria, com vagar, como se sorvesse a taça do melhor vinho. Participei de uma reunião anterior da Academia e lhes confesso que me faltam palavras para expressar a sensação que tive naquele momento singular.
Tomo posse da cadeira 24, que tem como Patrono Laudelino Freire e antecessor Adalgiso de Almeida Paiva.
         Laudelino Freire foi um dos maiores investigadores dos estudos clássicos e filológicos no Brasil. Membro da Academia Brasileira de Letras. Professor catedrático do Colégio Militar, lecionou  várias disciplinas.  É o autor do Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa  no período de 1939-1944, de publicação póstuma, em cinco volumes. Autor, igualmente, de A defesa da língua nacional (1920), Verbos portugueses (1925), Seleta da língua portuguesa (1934). Advogado, jornalista, professor, político, crítico literário, critico de arte, também escreveu Um século de pintura, obra de pesquisa sobre o desenvolvimento da arte no Brasil.
             Por sua vez, Adalgiso de Almeida Paiva, professor da Escola Técnica de Comércio Padre Champagnat, lecionou várias disciplinas em colégios de Fortaleza. De temperamento reservado, cumpriu, sem alarde, seu papel de acadêmico, zelando pela norma culta e dando exemplo de humildade e sabedoria.
Queridos amigos, ao redigir este discurso, quis tocar  corações, despertar interesse em minha fala. Como expressar meus sentimentos sem resvalar por um texto longo e cansativo? Tomei a decisão: Expressaria o que aprendi ao longo de minha formação pedagógica, procurando não abusar da generosa paciência dos que me ouvem. Serei breve.
        
Recorro a Paulo Freire em sua proposta de Educação Libertadora. Paulo Freire abraçou a concepção do papel político do professor, ressaltou o valor da construção de uma ética solidária no exercício da prática docente, do diálogo, do saber-fazer, permeado das dimensões éticas, culturais, sociais, políticas e humanas. Enfatizou, ainda, a leitura da palavra em seu sentido significante e contextual, possibilitando ao aprendiz adulto, desvendar o mundo, entender a acepção política de sua existência social e compreender a palavra em sua concretude histórica e cultural.     
Concordo com o grande mestre ao agregar que para ser professor não é suficiente conhecer as regras, os conteúdos, a ciência. É necessário ter alma de educador, voltando-se para a vida e as utopias. Encantar-se e ser esperançoso. Não desistir da nobre missão.
Como educadora de formação, durante anos, professora do ensino fundamental, médio e superior, estudo propostas educacionais e ministro cursos de Docência do Ensino Superior, Psicologia da Aprendizagem, Teorias e Técnicas de Intervenção Grupal, tanto na graduação como na pós-graduação, neste sedutor itinerário do aprender a aprender.
Quando trabalhei na escola pública, orientei docentes de diferentes áreas, especialmente os professores de português, no exercício do diálogo com os alunos, no uso de métodos e técnicas criativas e desafiadoras.
 Nos cursos de formação docente, procuro divulgar o valor da dimensão didática, uma vez que o ensino da língua portuguesa, bem como o de outras áreas, exige o uso de metodologias ativas e estratégias problematizadoras.
Assim espero contribuir com reflexões dessa natureza, sobre os aspectos didáticos, as nuances pedagógicas e os recursos técnicos presentes na docência do vernáculo.
         Não quero deixar, porém, neste momento, de imprimir meu jeito de ser. Sou romântica e gosto de escrever, narrar fatos, fazer poesia, contar estórias, fantasiar o presente, mergulhar no passado, enveredando por caminhos não explorados e abrindo fendas no tempo. São circunstâncias que invadem de significados minha história de vida. São estas marcas do indelével, contidas na singularidade da essência humana, na temporalidade da vida, que me seduzem em ponto grande. Alçar voos, perseguindo o eterno no infinito do tempo: eis uma das razões maiores de minha efêmera existência.
Concluo, manifestando meu agradecimento aos que compareceram a esta solenidade e reiterando, com ênfase, o orgulho pessoal por ingressar na Academia Cearense da Língua Portuguesa.
 Obrigada.

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Sou uma jovem senhora que gosta de olhar o mundo de um jeito diferente, buscando encontrar o indecifrável, o indescritível, o inusitado, bem como as coisas simples e belas da vida.