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domingo, 9 de novembro de 2014

Conflitos


Conflitos

                  Regina Barros Leal                             

É noite! Mais uma daquelas situações de embaraço em que Márcia sente-se molestada pelo desassossego. É quando se percebe inclinada a escrever. Frente ao computador transgride a norma do descanso e inicia uma relação diferente com a máquina, mormente se o que pretende produzir, foge a regra do técnico e do acadêmico, na tentativa de expressar os seus medos e angústias, bem como, suas alegrias e descobertas outras.
Assim escorrega seus dedos irrequietos pelo teclado. Quem sabe sua alma mergulhada nos pensamentos sobre a existência, buscando respostas para os seus significados, terminará por encontrar saídas e afugentar sentimentos vãos?  Quem sabe, consiga espalhar os risos silenciosos de quem ama a vida e que, em determinada circunstancia, não partilhou a alegria rara dos que conseguem se enternecer com o tempo.
Busca o relaxamento. Mentaliza... E as imagens fluem e se contorcem em oscilações criativas. Deleita-se com sua imaginação e entrever um imenso vale, tão vasto que não se extingue no olhar de quem procura os seus limites. Percebe-se sentada escutando a musicalidade do instante construído na num momento particular. Cria asas e na sua docemente  viaja sobre os vales e montes. Respira o ar puro das alturas imponderáveis, escuta os sonoros acordes dos ventos, que matreiramente a arrastam como uma folha perdida. A sensação de leveza a envolve e se aconchega nas brancas nuvens desenhadas pela fantasia irreverente.
E é sempre assim, gosta de registrar sobre suas inefáveis fantasias e, sobretudo as descobertas reveladas na sua louca e absurda incompreensão sobre a vida. Ah! A vida! Pudera, é tão fugaz e ao mesmo tempo, tão duradoura por sua temporalidade singular de eternidade e pelo medo da morte. Márcia a afugenta, porque a vida lhe parece ser abundante. Esta é salvação e é o que permite continuar sonhando, desejando e abrindo-se para a aventurar o viver.
            Cogitando ainda, sobre as inquietações presentes nesta noite analisa o fato.
Surpreende-se com a descoberta de uma resistência inflexível que tem ao lidar com certas situações de poder. Não convive bem com o autoritarismo. Talvez, porque nele encontre-se em algumas circunstancias. Essa é uma situação de descontentamento que termina fragilizando-a. Outro dia passava por um momento em que a emoção a envolveu e rompendo os grilhões normativos da convivência humana, veio truculenta, não com o outro, mas consigo mesma. Sofreu a constatação da pouca ou quase nenhuma tolerância a isso. Deu-se conta de seus temores e, sobretudo resgatou o sentimento do deleite pela descoberta amadurecida de tudo isso.
Márcia soube que não é fácil lidar com imperfeições humanas, por outro lado, muito mais doloroso e mais confuso é lidar com as suas fragilidades, os seus medos, as suas dúvidas. Pior ainda, lidar com o que é velado, o não dito, os mecanismos sutis da estratégia do poder não declarado.
Perguntava ao seu colega de universidade, um professor amigo que o admira por sua capacidade de reflexão e amparo.- Por que algumas pessoas têm dificuldade de conviver com o poder? Referia-se a debilidade de caráter daqueles que, deslumbrados pelo fascínio que o poder confere, negam idéias e ideais.  Ele refletiu sobre o seu mal-estar causado por essas experiências, destacou as seqüelas da situação, fruto de confronto de idéias, da presença do conflito não administrado. Percebeu, então, que o fato a abalara e a afetara. Sentiu que não é simples coexistir com a hipocrisia e é complexo aceitar tais dificuldades. Mas o que ser hipócrita? Perguntava-lhe. Não seríamos todos? Tomou consciência do efeito do desencanto quando se faz necessário o doce encantamento do diálogo, da aceitação do outro, da humilde e da graciosa ternura expressa por quem sabe partilhar.
Foi uma boa conversa, simples, apropriada, necessária ao instante dolente.  Ela sentiu o quanto vale a pena saber que há amigos e que eles são imprescindíveis, mesmo que não saibam. Conversaram bastante. Saiu confortada por reconhecer que um sentimento quando compartilhado possibilita uma reflexão mais profunda de nossas ações e de nossos anseios sobre a vida.















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Fortaleza, Ce, Brazil
Sou uma jovem senhora que gosta de olhar o mundo de um jeito diferente, buscando encontrar o indecifrável, o indescritível, o inusitado, bem como as coisas simples e belas da vida.