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sexta-feira, 26 de julho de 2013

EU SEI


Eu sei, mas não devia
Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.


A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.


A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Acostuma-se a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Marina Colasanti
nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.



DISCURSO LANÇAMENTO DO LIVRO :JOGOS COPERATIVOS COM ANNATÁLIA GOMES

Boa noite a todos

É com um carinho especial que lançamos o livro JOGOS COOPERATIVOS, uma obra feita em parceira com minha amiga Annatália. Foram muitas horas de compartilhamento, e não poderia ser diferente. O que nos mobilizou a escrevê-lo foi, sobretudo a crença no sonho, na solidariedade e no coletivo.

Aqui lembro o mestre Paulo Freire, citado pelo educador  MÁRIO SÉRGIO CORTELA

Afinal, o que fez o nosso mestre foi engravidar milhares de homens e mulheres pelo mundo afora com sonhos e idéias, entre as quais a principal de que a finalidade da educação é proteger e manter a vida.

Nada melhor então do que ensinar a cooperação, o respeito ao outro, a ética solidária, a aprender a viver juntos, quer seja na escola, na universidade, no trabalho, com os amigos, na família.
O fundamental é exercitar a solidariedade numa sociedade que privilegia a competição desenfreada e excludente. Não somos contra a competição, mas somos a favor da alegria, da vida, do jogo cooperativo como alternativa pedagógica.

Cito o poeta

Quem não corre o risco de viver com a ousadia do fazer juntos, vive na penumbra do individualismo...
Quem não se deixa tocar pelo amor desaprende o sentido da vida;
Quem nega o significado do coletivo, fenece na solidão e no vazio de si mesmo;
Quem não reconhece a vastidão do universo e suas possibilidades desacreditam nos sonhos e não compreende a esperança

Concluo afirmando que este livro expressa a crença , na amorosidade, na construção do respeito ao outro .
 Jogar é próprio do homem, e esta obra propõe o jogo que une, que integra,  que prioriza a troca e a partilha.
Enfim, agrademos a todos os presentes a gentileza em compartilhar conosco esse momento tão especial.
Muito obrigada


Discurso livro: FAGULHAS LITERÁRIAS

Discurso livro: FAGULHAS LITERÁRIAS                            

 

Caros amigos

         
             Às vezes a vida nos brinda com situações venturosas, repletas de carinho e alegria. Hoje é um desses dias.
     Durante anos cultivei a escrita em minha vida.  Na vivência de várias situações de nossa família, eu costumava escrever para meu marido e filhos, ao sentir culpa dor, entusiasmo, alegria, outras emoções. Sempre gostei da palavra, da narrativa. Escrevia cartas, bilhetes colocando-as em bolsas, pastas do colégio, debaixo de travesseiros, nas gavetas, em vários lugares. A minha vida misturou-se as falas ditas e não ditas, porque houve também muito silencio em diferentes momentos.

          Fagulhas Literárias começou a ser escrito há uns 6 anos. Nele, eu faço um caminho de volta. É, sobretudo, um livro de memórias, onde resgato emoções que se eternizaram na minha história. A capa do livro tem um significado bem particular. É o casarão onde morávamos, pegado ao Cine Atapu.  A casa onde nasci. Cenário de especiais acontecimentos.

           Escrevi o livro timidamente.  Aventurei-me a mostrar ao Arley, meu marido, meus primeiros relatos, redigidos nas madrugadas. Tempo de insônia. Ele gostou, e ao ler Desencontros e A Visita, me instigou para que eu continuasse. Dizia ele: Você é uma escritora, seja exigente, faça com esmero. De outro modo, os meus queridos filhos, Geovanna, Giordano e Arley. Manifestavam - Mãe está ótimo... Gostei muito.. É tocante... Que legal !!!

           Assim, iniciei meu trajeto literário, e a cada crônica, humildemente, além da família, escolhia alguém para ler um texto. Era agradável partilhar. Lembro-me de João Jorge, divertindo-se com A festa de casamento, dando boas gargalhadas no pátio da Unifor; Batista de Lima lendo os escritos com a paciência que lhe é característica - Você tem sensibilidade Regina, continue. Fez a gentileza de prefaciar o livro, citando em algum trecho 

          - Regina é detalhista e retém na mente, todos os contornos dos espaços que palmilhou um dia. Desses espaços, a casa é o mais vasculhado. A autora, que viu a sua casa de moradia da infância e da adolescência ser demolida pela especulação imobiliária, agora ergue aquela construção com todas as suas fundações, na arquitetura textual.
          Ana Julita, Karine, Jô, Rosendo, Angela Araújo, Lina De Gil, Célia, Grace, Núbia, José Bastos e outros parceiros dessa história Eles me estimulavam a continuar. Recordo-me do Oscar dizendo: – Gostei amiga, tem estética e conteúdo - referindo-se a crônica Desencontros.
 Rose, companheira do Encontro da Quartas, se entusiasmou com A estréia de Gabriela e aceitou fazer a revisão do livro.
 Quanta emoção de meus irmãos ao leram O Casarão. Especialmente o meu irmão César, a quem publicamente presto o meu reconhecimento, não só por ter me ajudado nas primeiras crônicas de Fagulhas Literárias, mas por ter, sobretudo revisado, com muito carinho, o livro Memorial em Dinâmica de Grupo. Horas roubadas de seu precioso tempo, ao meu lado, compartilhando a revisão. Instantes significativos de nossa história! Agradeço de coração.
Tatiana, minha sobrinha, filha de Amadeu, telefonou-me para expressar seu sentimento ao ler o Casarão - Tia eu amei, quase chorei de emoção. Meus irmãos: Vladimir, comovido dizia- Lindo Regina! Gostei da passagem: Meus irmãos, hoje parceiros da saudade. Amadeu- Minha irmã fiquei emocionado, revivi nosso tempo de criança. Cléa, Ricardo e a Heloísa que sempre me estimulou e a quem convidei especialmente para escrever a contra capa do livro.
  
 Fui percorrendo um trajeto particular. Temerosa, retirei então, os relatos pessoais, intimistas, na verdade, umas 30 crônicas.  Daí o livrou encurtou, afinou.... Mas era prudente fazê-lo. Essa seleção me fez escrever Itinerários, já no prelo: fruto das minhas inquietações humanas, femininas.

Não poderia deixar de me referir à colega Francilda, escritora reconhecida, que me inspirou, sem saber, com sua irreverência feminina sobre a envelhecência, a escrever Efeito cruzado. Singular ocasião.
A minha querida D. Mirtes, e o saudoso Dr. Lauro, pais de Dayse, Vera, Norminha, Vânia, Mirtinha, companheiras de infância e adolescência, inspiradoras da crônica As tertúlias.  Memoráveis festas.  As minhas primas Margarida, Madá, Célia, presentes em Ida e Vindas. Irmão, tios, sobrinhos em O Susto e em muitas outras narrativas.
Ah! São tantas as pessoas! Desculpem-me por não citá-las nominalmente, mas tenham a certeza que está presente, de uma maneira peculiar, no meu universo afetivo.
Aos meus queridos pais, já falecidos, inspiradores da nossa vida, saudosamente os homenageio por tudo que representaram e representam em nossas histórias pessoais. A eles, minhas lágrimas, meu canto nostálgico e o nosso inexplicável sentimento de amor.
Obrigada ao Arley, meu querido marido, aos meus amados filhos: Arley, Geovanna e Giordano e aos queridos netinhos: Arley, Victor, Adriano e Gustavo, aos meus irmãos, aos meus amigos e amigas, alunos, professores, funcionários que hoje me prestigiam. Com certeza não podem avaliar o tamanho da minha satisfação em tê-los aqui, nesse evento tão especial.

 Meus agradecimentos à Direção da Unifor pela consideração e o incentivo à minha vida acadêmica. Esta universidade, que eu gosto um recanto de tantos encantos e alegrias. 

Expresso o meu reconhecimento à Célia Felismino, minha preciosa amiga das letras que escreveu carinhosamente a orelha do livro, espargindo sensibilidade:

 É que suas experiências, seus momentos de alegria forte ou pesar estão mediados pela palavra, sendo esta, em seu livro, não apenas instrumento de descrição, de relatos de acontecimentos, mas, sobretudo, de revelação do ser....
A ela, o meu muito obrigado por sua generosa atenção.
        
Expresso ainda, os meus sinceros agradecimentos a Xênia, Coordenadora do Curso de Pedagogia por sua gentileza e sua cumplicidade estética na organização dessa noite.
 
 Minha gratidão particular ao mestre Batista de Lima, o escritor que não se furtou a ajudar a amiga iniciante.

Finalmente, concluo enunciando a todos que estou muito feliz. Agradeço especialmente a Deus, presença em minha vida de modo muito singular e se eu pudesse, os presentearia com mil flores perfumadas, de cores diferentes: vermelhas, brancas, amarelas, expressão de ternura, paixão, amizade e do meu sincero
                     
                            MUITO OBRIGADA.
                      

                           Fortaleza, 16 de março de 2004

.Efêmero momento

Efêmero momento



Olhavam-nos subitamente confrontados pela realidade que se descortinava aos nossos olhos inquietos. Doce instante! Inebriados pela onda de calor que nos acalentava e na noite fria nos aconchegamos compartilhando a efêmera ocasião, tão efêmera que noite adentro se desvanecera.
 Assim sonhávamos e percorríamos os atalhos das ilusões esquecidas retornando aos projetos venturosos. As nossas representações imaginárias tornavam-se reais e se desnudavam em nossas incríveis fantasias. Pudera, quem sabe? E se não acolhemos um tempo em que o significado perde-se na sua própria história? Mesmo assim navegamos atônitos pela maré quente e morna de nossas realizações.  Mergulhando fundo na crença de uma nova paixão fomos inteiros, um no outro, muito embora depois nos despedaçássemos em desencontros cotidianos.


O  CASARÃO
                                    Regina Barros Leal
                                                          
            Silêncio no casarão. Tínhamos ido repartir os objetos: porcelanas, lustres antigos pintados. Ah! aquela mesinha de vidro... telefones antigos, retratos, espelhos, cadeiras, dentre outros, que fizeram parte de nossa história.Estávamos  desajeitados. A ampla sala, palco de muitos encontros, desnudada, refletia o abandono. O casarão tinha sido comprado e certamente  seria demolido.
             Sentamos e olhamo-nos como que perguntando por onde  começar.  Um  tempo silencioso... marejado  de reminiscências. Depois, como que para quebrar o gelo, iniciamos a partilha. Contingência. Tivemos que nos desfazer do casarão. Era uma satisfação miúda, misturada à melancolia, mas sutilmente afugentada pela satisfação de outras necessidades resolvidas.

            Enquanto meus irmãos conversavam, subi ao meu antigo quarto, colcha branca, protetora e repousante, refúgio de júbilo e aflições não ditas. As janelas descortinadas deixavam entrar os últimos raios de sol daquele fim de tarde. Recordei-me de passagens interessantes. Comecei a rebuscar minhas lembranças infantis: estórias povoadas de fadas, bruxas, princesas, piratas, fantasmas. Evocações permeadas de uma alegria  medrosa. Coisas de criança. Buliçosamente, entrevi meu passado povoado de recordações...
            Insisti. Reencontrei minha infância, saudável, naquele casarão, com minha família, onde vivi minhas experiências de criança privilegiada. Não faltavam chocolates, doces, pirulitos, brinquedos, nem tampouco amor. Que lembranças! Jogando bila com meus irmãos, brincando de guisado, organizando as peças de teatro. Eu, então, alegrava-me muito  ao cantar. Naquela época, meus pais armavam um palco numa garagem bastante espaçosa, com cortina de veludo vermelho, tablado,  tudo a que se tinha direito,  e convidavam a família. Meus tios elogiavam a atuação  dos seus pequenos artistas, alguns meio atrapalhados. 
            Como saboreava daquelas tardes compridas que se encontravam com a noite que chegava de mansinho! Recordo-as, nitidamente.  Foram  de uma beleza, ímpar porque permeados pela magia dos sonhos e das folguedos infantis. Rir, saltar, correr, pular de corda, andar de bicicleta... tudo isso naquele espaço enorme onde meu pai construíra o nosso lar. Ah! Meu pai. Homem inteligente. Personalidade marcante. Sujeito avançado, criativo, lépido  e  determinado. Seu legado de força influenciaria nossas vidas para sempre. Ele se eternizou em cada um de nós.
            As recordações brotam. Meus 15 anos! Adolescência. Os fortuitos namoros, as mãos trêmulas, os medos, as primeiras descobertas, o primeiro beijo. 18 anos. As serenatas! Minha mãe,  doce criatura, mulher sensível, compartilhava intensamente os nossos devaneios juvenis. Quando íamos às tertúlias, abria a porta devagarinho, serenamente, na ponta dos pés,  para não acordar meu pai. Em silêncio, ela nos guiava e nos acompanhava para saber das novidades. A ternura espalhada por sua presença, ora sentida, confundia-se com a beleza da noite nascida. Nossa mãe companheira brindou-nos com sua sensatez e com seu carinho. Doce mulher!  Generosa e amiga de todos, principalmente dos que a ajudavam nas tarefas domésticas.   
             Na penumbra do quarto, repassei os divertidos  finais de semana  ao chegarem os primos. Eram muitos. Ainda  mais os vizinhos, nossos companheiros de algazarra. Jogávamos ping pong, voleibol,  íamos à praia, ao cinema. Que folia!
            Vizinho ao casarão havia o cinema. Lembro-me das grandes filas, dos filmes, como: O Ébrio; Tarzan, o Rei das Selvas; Por Quem os Sinos Dobram; Os Três Mosqueteiros; além das famosas sessões de faroeste, dos longas metragens produzidos pela  Atlântida, reino de  Grande Otelo, Oscarito, Adelaide Chioso e Emilinha Borba. Como me lembro do escurinho do cinema, dos intervalos, dos namoricos! 
Éramos felizes.
            Ouvi alguém me chamando:
-           Minha irmã, desça, estamos de saída. Era meu irmão mais velho. Senti     
      sua voz trêmula, inconfundível. Ele sempre foi muito emotivo.
-           Já estou indo... respondi um pouco desorientada pelo brusco retorno ao presente.
            Fui descendo a escada. Era muito bem cuidada por minha mãe.
            Olhei para todos e percebi o quão estavam perturbados. Quem sabe, não fizeram o mesmo percurso? Meus irmãos, crianças de outrora, companheiros de brincadeiras. Hoje, parceiros da saudade.

            Saímos devagar. Ronceiros. Despedidas murmuradas.Rostos entristecidos. Gestos vagarosos.
            Chegando a casa fui guardar os objetos, testemunhos silenciosos de minha história. Não foi fácil vender o casarão, portentosa herança de nossos pais, local vivo de muitas recordações. Nós, inquilinos do passado, pagamos um  melancólico tributo pela nossa despedida.

             Nessa noite, quase não dormi. 


Apresentação do livro " RASCUNHOS DE UM TEMPO "

BOA NOITE A TODOS OS PRESENTES

EM PRINCÍPIO EXPRESSO MINHA ALEGRIA EM PARTICIPAR DESSE EVENTO TÃO ESPECIAL EM QUE SÁVIA FERRAZ APRESENTA A OBRA LITERÁRIA RASCUNHOS DE UM TEMPO NUMA CIRCUNSTANCIA PARTICULAR DE REGOZIJO. 
MEUS DIZERES SÃO DIRIGIDOS Á MULHER, Á ESCRITORA, A MÃE, ENFIM, Á AMANTE DA VIDA.
 PARA ELA O BRILHO, OS APLAUSOS, OS SORRISOS, AS REVERÊNCIAS!
INICIO MINHA FALA AFIRMANDO: SÁVIA É UMA CRONISTA E COMO TAL, SE INSPIRA NOS ACONTECERES DO COTIDIANO, NOS CENÁRIOS PARTICULARES, OS QUAIS NÃO ESCAPAM Á SUA CURIOSIDADE FEMININA.
SÁVIA CONTA EXPERIÊNCIAS INUSITADAS, LEMBRANÇAS AVIGORADAS PELA EMOÇAO, REVELANDO INTELIGÊNCIA, ARGUMENTAÇÃO E SENSIBILIDADE.
TRANSBORDA DE AMOR AO ESCREVER SOBRE OS AMORES DE SUA VIDA
RASCUNHOS DE UM TEMPO- PERCORRE O ITINERÁRIO DA MULHER QUE NARRA FATOS CORRIQUEIROS, CENÁRIOS IRREVERENTES, AS INCONTIDAS EMOÇÕES, O PRIMEIRO BEIJO, A SENSUALIDADE FEMININA, OS MEDOS, AS ANGÚSTIAS, AS PRINCIPAIS DESCOBERTAS E OS SOBRESSALTOS DIANTE DO INEXORÁVEL.
A CRONISTA RASCUNHA A VIDA INSERINDO TEMPOS DIFERENTES, TEMAS DÍSPARES, ARTICULANDO EXPERIÊNCIAS, ESTÓRIAS DE VIDA, TESTEMUNHOS E ESPERANÇA NO DEVIR. 
SÁVIA ATRAVESSA AS EMOÇÕES COM UM OLHAR FUNDANTE.
NA APRESENTAÇÃO DE SEU LIVRO ELA DESPONTA SUA AUTENTICIDADE AO EXPRESSAR:
             SEI QUE O QUE ESCREVO REPRESENTA MUITO DE MINHA VIVÊNCIA,
ASSIM, INTRODUZ O LEITOR ÀS SUAS VIVÊNCIAS, QUESTIONA, CRIA, RECRIA, REINVENTA A VIDA, SURPREENDE, AGUÇANDO A CURIOSIDADE DO LEITOR.
É UMA ESCRITA PERMEADA DE TRAVESSURAS, CONJECTURAS, REFLEXÕES E QUESTIONAMENTOS.
 NA CRÔNICA REPENSANDO REGISTRA;
IMPOSSÍVEL AFASTAR-SE DA REALIDADE DO COTIDIANO. DEIXAR DE VER, DE ESCUTAR, DE PERCEBER ATRAVÉS DOS SORRISOS E DOS OLHARES, DAS EXPRESSÕES DE ENFADO, DAS GARGALHADAS RUIDOSAS A VIDA ACONTECENDO A NOSSA VOLTA.
CORAJOSAMENTE DESCREVE, Á SUA MANEIRA, SITUAÇÕES VIVENCIADAS DE FORMA ATRAENTE, COMPARTILHA OS MOMENTOS DE SOLIDÃO, EXPRESSA SUAS DORES, SUAS ANGUSTIAS, ALEGRIAS E DESEJOS SINGULARES.
SE A MORTE ME PEGAR DESPREVINIDA NÃO QUERO QUE FAÇAM GRANDES CENAS DE DOR
SÁVIA, EM SUAS NARRATIVAS REVELA UM OLHAR EMPÁTICO AO ACOLHER OS AMIGOS, AS PESSOAS PRESENTES EM SUA EXISTENCIA.
SUAS CRÔNICAS DESTACAM REMINISCÊNCIAS, ABRE FENDAS NO TEMPO E VISUALIZA MOMENTOS DE AMOR, DE GARGALHADAS E SAUDADES DE OCASIÕES PECULIARES.
RASCUNHANDO O TEMPO - É A OBRA DE UMA MULHER RUIDOSA, PERTINENTE E IMPERTINENTE. AO HISTORIAR SITUAÇÕES DO COTIDIANO, ELA MANIFESTA A AGONIA DA SOLIDÃO, O INUSITADO DO INDESCRITÍVEL  BEM COMO ESTÓRIAS IMPREGNADAS DE SENTIMENTOS PARADOXAIS E INSTIGANTES.
AS IDAS E VINDAS DA MENINA DO INTERIOR QUE AGARRA A VIDA COM TENACIDADE E ENFRENTA A CIDADE, O NOVO, DE UMA FORMA CORAJOSA.
MÃE, PROFISSIONAL, COM VASTA EXPERIÊNCIA NA ÁREA SOCIAL, CRAVA RAIZES POR ONDE PASSA, ENFIM, UMA MULHER QUE TRANSCENDE O TEMPO.
A ESCRITORA PERCORRE O TRAJETO DA OUSADIA, DA CORAGEM AO DESNUDAR  SEGREDOS E EMOÇÕES PARTICULARES.
CONTA, DE FORMA SINGULAR O SEU MERGULHO LITERÁRIO, OS SEUS PRECIOSOS LIVROS, A SUA FOME PELAS LETRAS. DESCREVE QUE ATÉ BULAS DE REMÉDIO NÃO ESCAPARAM À SUA GULA.
ESCREVE E DEDICA SUA OBRA ÁS MULHERES, Á SIMONE DE BEAUVOIR EM PARTICULAR, DESTACANDO PERPLEXIDADE AO DESCOBRIR SUA PRÓPRIA FEMINILIDADE, SUA SENSUALIDADE E AO CRIAR SUAS FANTASIAS.
AS CRÔNICAS FAZEM UMA VARREDURA NO COTIDIANO QUE A ESCRITORA OBSERVOU E VIVENCIOU AO LONGO DE SUA HISTORIA E, DE FORMA PESSOAL, PARTICULARIZA SITUAÇÕES FAMILIARES, AMORES, O SENTIMENTO MATERNAL, OS ACERTOS E DESACERTOS EXISTENCIAIS, AS EXPERIÊNCIAS PARADOXAIS, EFÊMERAS, ETERNAS E DENSAS NA CIRCUNSTANCIA VIVIDA. DIANTE DA INEXORÁVEL FINITUDE HUMANA.
EU PODERIA ESCREVER MAIS SOBRE A ESCRITORA E SUA OBRA RASCUNHOS DE UM TEMPO, ENTRETANTO, VAMOS ESTENDER UM TAPETE VERMELHO E DAR PASSAGEM A ESCRITORA, A CRONISTA QUE TERÁ MUITO QUE DIZER, E, COM CERTEZA, SORVEREMOS SUAS PALAVRAS COMO UMA BELA TAÇA DE VINHO.
É A SUA NOITE!
PARABÉNS SAVIA.
                                               REGINA BARROS LEAL


Quimera
                               Regina   Barros leal                          
Subo arrojada em seu dorso queimante
Seguro firme as rédeas de minha fantasia
Audaciosa, cavalgo confiante pelos campos distantes
Soberbo, rugindo e sacudindo a crina
Meu cavalo alazão corre pela estrada aberta das minhas ilusões
Na cavalgada alucinante busco as estrelas
 Tocando-as descubro minha alma em êxtase
 Eufórica, vejo as nuvens pairando no céu de meus desejos
Atravesso os tempos e a ancestral visão do passado me atordoa por segundos
Respiro sorvendo o ar que enche meus pulmões de energia pulsante
Na impetuosa aventura vou cortando os edens de minhas quimeras
Delírios reticentes
 Abro fendas no tempo enfrentando as tormentas do medo
Seguro as rédeas do meu sonho para não cair no precipício da alucinação
O vácuo, a leveza do corpo me entontece.
 Suave sensação de liberdade!
Sorvo o vinho paradisíaco da magia do passeio encantador
Estou em paz e tudo se harmoniza
Acordo em sobressalto com o barulho dos ventos de verão


Delírio

Delírio

                                               Regina Barros Leal

Tão diferente do ontem!
O hoje e o  amanha.
Artimanhas do tempo!
 E eu o espreito.
Busco desvendar o insondável mistério do infinito
Mas não cabe no finito de minha compreensão
Sonho e em cada sonho me vejo surpreendida pelo inexplicável
Ao adentrar o imaginário encontro minhas loucas fantasias!
Brinco com as estrelas e escorrego nas lâminas do raio fulgurante
A luminosidade espalha-se na imensidão do mundo!
 Choro de alegria
Envolta no véu , rasgo as vestes frágeis do ceticismo que me obstrui a visão.
Limpo a areia dos meus olhos lacrimejantes e vejo as cores do universo
Não consigo segurar as rédeas de minha imaginação!
Um dia eu tocarei os ventos!
Quem sabe?


quarta-feira, 1 de maio de 2013

O poder da validação



O poder da validação


Todos nós precisamos ser validados pelos outros, constantemente.


Todo mundo é inseguro, sem exceção.

Os super confiantes simplesmente disfarçam melhor. Não escapam pais, professores, chefes nem colegas de trabalho.

Afinal, ninguém é de ferro.

Paulo Autran treme nas bases nos primeiros minutos de cada apresentação, mesmo que a peça que já tenha sido encenada 500 vezes.

Só depois da primeira risada, da primeira reação do público, é que o ator se relaxa e parte tranquilo para o resto do espetáculo.

Eu, para ser absolutamente sincero, fico inseguro a cada novo artigo que escrevo, e corro desesperado para ver os comentários postados.

Insegurança é o problema humano número 1. O mundo seria muito menos neurótico, louco e agitado se fôssemos todos um pouco menos inseguros. Trabalharíamos menos, curtiríamos mais a vida, levaríamos a vida mais na esportiva. Mas como reduzir esta insegurança?
Alguns acreditam que estudando mais, ganhando mais, trabalhando mais resolveriam o problema. Ledo engano, por uma simples razão: segurança não depende da gente, depende dos outros. Está totalmente fora do nosso controle.

Por isso segurança nunca é conquistada definitivamente, ela é sempre temporária, efêmera.

Segurança depende de um processo que chamo de “validação”, embora para os estatísticos o significado seja outro. Validação estatística significa certificar-se de que um dado ou informação é verdadeiro, mas eu uso esse termo para seres humanos. Validar alguém seria confirmar que essa pessoa existe, que ela é real, verdadeira, que ela tem valor.
Todos nós precisamos ser validados pelos outros, constantemente. Alguém tem de dizer que você é bonito ou bonita, por mais bonito ou bonita que você seja. O autoconhecimento, tão decantado por filósofos, não resolve o problema. Ninguém pode autovalidar-se, por definição.


Você sempre será um ninguém, a não ser que outros o validem como alguém. Validar o outro significa confirmá-lo, como dizer: “Você tem significado para mim”.

Validar é o que um namorado ou namorada faz quando lhe diz: “Gosto de você pelo que você é”. Quem cunhou a frase “Por trás de um grande homem existe uma grande mulher” (e vice-versa) provavelmente estava pensando nesse poder de validação que só uma companheira amorosa e presente no dia-a-dia poderá dar.

Um simples olhar, um sorriso, um singelo elogio são suficientes para você validar todo mundo.
Estamos tão preocupados com a nossa própria insegurança, que não temos tempo para sair validando os outros.
Estamos tão preocupados em mostrar que somos o “máximo”, que esquecemos de dizer aos nossos amigos, filhos e cônjuges que o “máximo” são eles. Puxamos o saco de quem não gostamos, esquecemos de validar aqueles que admiramos.
Por falta de validação, criamos um mundo consumista, onde se valoriza o ter e não o ser. Por falta de validação, criamos um mundo onde todos querem mostrar-se, ou dominar os outros em busca de poder.

Validação permite que pessoas sejam aceitas pelo que realmente são, e não pelo que gostaríamos que fossem. Mas, justamente graças à validação, elas começarão a acreditar em si mesmas e crescerão para ser o que queremos.

Se quisermos tornar o mundo menos inseguro e melhor, precisaremos treinar e exercitar uma nova competência: validar alguém todo dia. Um elogio certo, um sorriso, os parabéns na hora certa, uma salva de palmas, um beijo, um dedão para cima, um “valeu, cara, valeu”.

Você já validou alguém hoje? Então comece já, por mais inseguro que você esteja.


O desfecho


O desfecho
Regina Barros Leal

A festa acabara e alguns dançavam felizes
Outros bebiam, conversavam e o tempo passou silente
A noite despedira-se e a madrugada assolava o portão do clube
A banda silenciara e os instrumentos  recolhidos
 Caixas de som  cobertas pelo pano gasto pelo uso
 Pela porta de entrada o amanhecer anunciava um dia sonolento
A chuva caia fina e ,sem alarde , molhava a grama do pátio azul, antes encantado!
Pessoas saiam e as palavras soltas jorravam de suas bocas descoloridas
Cada um,  surpreendido, olhava distraído o dia chegando
Jovens cansados tiravam os saltos altos e as gravatas do colarinho
Camisas abertas, corpos suados e vestidos de noite já molhados
 Despenteados, com os ombros baixos atravessavam a rua
Olhando do outro lado da calçada, ela percebeu
A tristeza entranhava-se nas pedras da calçada escura de lodo
As portas dos carros abriam-se ao som dos alarmes frenéticos
Motoristas desatentos e alcoolizados choravam solidão
Meninas de saias curtas ruminavam decepção e saiam apressadas
Fim de festa!
Ainda bem que tinha o caldo de peixe no Bar do seu Malaquias

O processo motivacional em sala de aula



O PROCESSO MOTIVACIONAL EM SALA DE AULA: o que fazer?



Regina Lúcia Barros Leal da Silveira

Resumo; O estudo aborda questões relacionadas à motivação dos alunos nos cursos de graduação, alguns fatores motivadores e desmotivadores, evidenciando a experiência de professores que participaram do curso de Formação Pedagógica - O Processo Motivacional em sala de aula e de alunos da disciplina de Psicologia da Aprendizagem, 2007/01. Trata-se de um estudo descritivo-exploratório com abordagem qualitativa utilizando-se de trabalhos em grupo através de questões dirigidas, em ambiente de sala de aula, Os participantes do estudo revelaram sua visão sobre as questões postas. Para os professores e os alunos informantes, ambos, com sua linguagem própria, consideram indispensável à motivação para aprendizagem e reconhecem sua influência na prática docente. As falas revelam que ambos se incomodam com a falta de motivação em sala de aula. Como conclusão do estudo destaca-se o significado pedagógico da motivação em sala de aula, como um dos fatores essências ao processo ensino-aprendizagem. Desta forma, considera- se essencial, do ponto de vista da formação docente, a discussão sobre o tema nos curso de formação continuada, em reuniões de professores, seminários docentes, encontros pedagógicos, programas de apoio ao aluno, palestras e colóquios, entre outros espaços educativos.



Palavras-chave: Motivação. Sala de aula. Ensino. Aprendizagem

Introdução

A motivação em sala de aula tem sido uma questão discutida pelos professores , em todos os níveis de ensino, como um fator determinante para garantir resultados satisfatórios no processo ensino-aprendizagem.

O presente estudo procurou compreender o significado da motivação para o ensino aprendizagem, atribuído pelo professores e  os alunos investigados. Para a investigação, utilizou-se  de uma metodologia qualitativa, realizando  trabalhos em grupo para o debate de questões dirigidas. O estudo foi realizado com os alunos da disciplina Psicologia da Aprendizagem da Universidade de Fortaleza 2007.2, e com os professores que participaram do curso de formação pedagógica O processo Motivacional em sala de aula realizado na Faculdade Integrada do Ceará- FIC. A pesquisa na FIC foi desenvolvida no primeiro semestre de 2007,

Para os professores informantes, a temática é interessante e crucial para o êxito do aluno e a satisfação docente com relação à sua prática. Consideram indispensável à motivação para  que aconteça a aprendizagem dos alunos.  Reconhecem a importância  do planejamento de ensino, como meio para organizar situações de ensino motivadoras.             Para falas revelam que ambos se incomodam com a falta de motivação em sala de aula.
Para os alunos, eles expressam que motivação e estímulo tem o mesmo significado  e suas as falas indicam a necessidade de que os professores sejamestimuladores com aulas interessantes e  motivadoras.
           Desta forma, considerando os resultados da investigação, do ponto de vista da formação docente, faz-se necessária a inserção do tema nos cursos de formação pedagógica, de educação continuada, nas reuniões de professores,  nas orientações das assessorias pedagógicas, nos seminários para docentes e discentes, nos encontros pedagógicos, nos programas de apoio ao aluno, nas  palestras e  nos colóquios científicos, entre outros espaços e cenários  educativos.
      Como conclusão do estudo, destaca-se a significação pedagógica do processo motivacional em sala de aula, como sendo um dos fatores fundamentais ao processo de ensino-aprendizagem.


Metodologia

Trata-se de  um estudo descritivo-exploratório de abordagem qualitativa. Conforme Leopardi (2002), a pesquisa qualitativa é apropriada, no caso de buscar conhecer o que uma variável representa, e não o número de vezes em que esta aparece.

A coleta de informações dos professores foi realizada na turma do curso Processo Motivacional em Sala de aula, da Faculdade Integrada do Ceará - FIC e de alunos da disciplina Psicologia da Aprendizagem da Universidade de Fortaleza - UNIFOR, que agrega alunos de variados cursos, com predominância do curso de Educação Física. Foram sujeitos da pesquisa 25 professores, com titulação de especialistas, mestres e doutores, com tempo de experiência na docência de dois meses a 20 anos, lecionando em cursos diferentes e em disciplinas diversas; Direito Constitucional, Hotelaria, mecânica entre outros. Os alunos com idade entre 21 a 30 anos, estudantes dos cursos de Fisioterapia, Farmácia, Educação Física, Letras, Sociologia da Unifor, no horário EF tarde.
O estudo seguiu as recomendações éticas da resolução 196/06 (Brasil, 2000), que trata de pesquisas envolvendo seres humanos. Os Professores declaram a sua livre participação, resguardando-se a privacidade e o sigilo. Os informantes receberam uma denominação de Participação a fim de não serem identificados.
Para coleta das informações utilizou-se a técnica de estudo em grupo com pergunta dirigida para os docentes que seguiu as seguintes etapas: 1. Formação em grupos.  2. Debate sobre os fatores desmotivadores em sala de aula 3. Recolhimento das respostas para discussão em aula posterior. 4. Apresentação dos resultados em sala pelo professor do curso com debate livre sobre a temática.

Os depoimentos obtidos como resultados da dinâmica de grupo participativo e das perguntas do estudo dirigido foram organizados e analisados em sala de aula com os professores consoante a técnica de análise de conteúdo (Bardin, 1989).

Análise e discussão dos resultados

O que define a motivação?  É um estado interior que estimula, dirige e mantém comportamento do sujeito? Qual o nível de envolvimento na atividade escolhida e o que pensa e sente o indivíduo durante esse envolvimento? Sentir-se motivado é mover-se energicamente em direção a um objetivo?

Abraham Maslow centra a necessidade como explicação fundamental das motivações na sua teoria humanística. Este sugeriu que as pessoas têm uma hierarquia de necessidades, que varia das necessidades de nível mais baixo, como a sobrevivência e a segurança às necessidades de nível mais alto, como a conquista intelectual e a auto-realização. Maslow organizou estas necessidades em forma de pirâmide com o intuito de sugerir que a nossa motivação para satisfazer as necessidades do topo (necessidades de ser) só surgirá, quando as da base forem satisfeitas (necessidades de carência), altura em que a motivação para a satisfação destas descerá. Tal não implica que mesmo quando satisfeitas as necessidades do topo, a nossa motivação cesse. Pelo contrário, ela aumenta, na busca de maior satisfação. A sua teoria foi criticada porque a realidade mostra exemplos de pessoas que não seguem tão rigidamente a sua hierarquia. No entanto, a sua teoria serviu para mostrar como as várias necessidades do ser humano estão todas interligadas e que a motivação de alunos para aprender será mais baixa se outras necessidades de base não estão satisfeitas. Por isso, o professor deverá iniciar os seus esforços nas necessidades de base (WOOLFOLK, 2000).


 O que vem ser a motivação de aprendizagem? Um campo de estudo da Psicologia? Da Pedagogia? Da Andragogia?  Um método de trabalho em sala de aula? Um desafio para os docentes que lidam com os jovens alunos? O interesse do aluno? A paixão do professor por suas aulas?
 Os elementos que compõem a motivação para aprender são os planejamentos, a concentração no objetivo, a consciência do que se quer aprender e como fazê-lo (metacognição), orgulho, satisfação, ausência de ansiedade ou medo do fracasso, a busca ativa de novas informações e o discernimento eficaz do feedback. Não basta, portanto querer aprender. Há também uma exigência no nível da qualidade do esforço mental do aluno (WOOLFOLK, 2000).



Considerando  a afirmação do autir, Nas instituições do ensino superior a discussão sobre o tema se faz presente em várias situações o que revela o seu valor para o aluno e, especialmente para os professores,  como um componente irrefutável à sua competência docente.

Mas o que vem a ser motivação e porque tanta importância?

A motivação para realizar encoraja a motivação para aprender, enquanto ansiedade e medo de fracasso diminuem-na. Finalmente vamos ver a necessidade da autodeterminação. Esta é a necessidade de experimentar escolha no que e como fazemos. É o desejo de que sejam os nossos próprios desejos a determinarem os nossos ações, em vez de serem recompensas ou pressões externas. (WOOLFOLK, 2000).

Motivação não se constitui  um fato isolado do contexto didático pedagógico, não é um ato fragmentado da aprendizagem do aluno. Motivação é um processo significativo na aprendizagem, bem como na prática docente, conforme expressaram os professores informantes da pesquisa.

-Os alunos estão desmotivados para estudar, isso nos inquieta
-Faço o que é possível para motivar meus alunos. Mas, parece que é difícil mesmo- -Tudo concorre para que eles não se interessem. Solicitação demais!
- São muitos os problemas que enfrentamos. Os alunos estão desestimulados para estudar. –
 --Tudo é mais importante que o texto a ser lido e discutido em sala de aula
                                      -Eles parecem não entenderam e ficam no mundo da lua
-Não sei mais o que fazer para os alunos gostarem de ler os livros e os textos indicados.
- Copiar e colar são   as práticas comumente utilizados, daí sua importância em  discutir com os alunos
.
Como entender essa questão? A prática docente apresenta uma especificidade que exige do professor competências e habilidades didático-pedagógicas. A docência é uma ação que requer de quem a exerce,  um saber diferenciado, não só nos aspectos didático-pedagógicos e do conhecimento especifico de sua área de trabalho, mas um saber fundamentado numa visão interdisciplinar da ciência, na competência interpessoal.

Distinguir e associar e não disjuntar e reduzir. Os inimigos da complexidade geralmente têm medo da confusão do todo que há em tudo e vice versa! Mas absolutamente, não se trata de misturar as coisas, trata-se de distingui-las e associa-las. Há um principio de complexidade que, em minha opinião, é igualmente um principio primário. (PETRAGLIA, 84)

       
          O que caberia ao professor e ao aluno?

    Segundo Henrique Enrique Caturk Fita  existe classes de motivação para a conduta do homem e pára aprendizagem:
1. Motivação relacionada com a tarefa ou motivação intrínseca. A própria matéria de estudo desperta no indivíduo uma atração que o impulsiona a se aprofundar nela e a vencer os obstáculos que possam ir se apresentando ao longo do processo de aprendizagem. O aluno encontra reforço no processo à medida que avança, ao verificar que o domínio de alguns conceitos e técnicas abre-lhe as portas para novos conceitos e técnicas que lhe permitirão ir aprofundando e dominando a matéria objeto de estudo.

2.  Motivação relacionada com o eu, com a auto-estima. Os processos de aprendizagem incluem muitos aspectos afetivos e relacionais. Os êxitos e fracassos que obtemos vão definindo o conceito que temos de nós mesmos (autoconceito). Quando se tenta aprender e se aprende, vamos formando uma imagem positiva de nós mesmos que sem dúvida nos ajudará a realizar novas aprendizagens, já que gerará em nós uma confiança e uma auto-estima positiva que nos impulsionarão a seguir adiante.
O autoconceito (FIERRO, 1990) inclui um conjunto amplo de representações (imagens, juízos, conceitos) que as pessoas têm sobre elas mesmas, englobando aspectos corporais, psicológicos, sociais, morais e outros. O autoconceito inclui juízos de valor (auto-estima). As crianças e os adolescentes com alto nível de auto-estima obtêm melhores resultados na escola.
Como diz I. Sole (1993), o autoconceito funciona em alguma medida como um esquema cognitivo. Quando ele é negativo, as expectativas negativas tendem a se confirmar, o que reforça uma baixa auto-estima, estabelecendo-se assim um círculo vicioso difícil de quebrar. As experiências, os êxitos e os fracassos, a opinião que os outros têm de nós colaboram de forma considerável para definir nosso autoconceito e auto-estima.
3.  Motivação centrada na valorização social (motivação de afiliação). Satisfação afetiva que produz a aceitação dos outros, o aplauso ou a aprovação de pessoas ou grupos sociais que o aluno considera superiores a ele. Esse tipo de motivação manifesta algumas relações de dependência.
4.  Motivação que aponta para a conquista de recompensas externas. Prêmios, dinheiro, presentes que serão recebidos ao se conquistar objetivos de aprendizagem.



Mas o que entendem os professores e os alunos sobre motivação? Quais os fundamentos que  a sedimentam na prática docente e na processo ensino-aprendizagem?

Pelas respostas dos grupos pesquisados, a motivação para os professores é algo que vem de dentro, ela nasce do desejo de aprender, expressando o interesse do aluno.
           Para os alunos, a motivação depende do professor, das aulas motivadoras, do interesse pelos conteúdos, de recursos tecnológicos e metodologias estimulantes.

Maslow cita o comportamento motivacional, que é explicado pelas necessidades humanas. Entende-se que a motivação é o resultado dos estímulos que agem com força sobre os indivíduos, levando-os a ação. Para que haja ação ou reação é preciso que um estímulo seja implementado, seja decorrente de coisa externa ou proveniente do próprio organismo. Esta teoria nos dá idéia de um ciclo, o Ciclo Motivacional (SERRANO 2000).


  Segundo o autor, se o ciclo motivacional não acontece, vem à frustração e poderá gerar no individuo diversas atitudes, tais como comportamento que não apresenta logicidade ou normalidade; agressividade por não dar vazão à insatisfação que foi contida; insônia, nervosismo, distúrbios variados, desinteresse, baixa auto-estima, pessimismo, negativismo, insegurança entre outros. Muito embora se a necessidade não for satisfeita,  isso também não significa que ele permanecerá sempre frustrado. De alguma forma, ele compensará essa frustração, canalizando-a para outros interesses. Assim, o autor explicita ser a motivação um estado cíclico e constante na vida do sujeito.

Conclusão

Verifica-se então que um dos problemas enfrentados pelos docentes é a falta de interesse do aluno em sala de aula. Por outro lado, os alunos enfatizam as aulas desmotivadoras. Essa, portanto, é uma questão atual e pertinente no contexto universitário.
O estudo revelou que
Os alunos referem fatores desmotivadores, reclamam dos  textos longos para estudarem, das aulas monótonas e repetitivas, do uso exagerado de recursos áudios visuais,
Reclamam de aulas fragmentadas, do excesso de provas e  das cobranças;
Registram a mesmice pedagógica dos professores e o desestímulo de alguns. da monotonia e do tédio gerado pela desmotivação;
Sugerem mudanças na sala de aula por parte dos professores realizando aulas mais ativas, participativas, estudos de campo, pesquisas, textos breves e consistentes, livros acessíveis,  entre outras sugestões.

Por outro lado os docentes expressam:

Insatisfação quanto à participação dos alunos nas aulas, o desinteresse pela leitura dos textos e dos livros indicados na bibliografia dos projetos de ensino;
Enfatizam a ausência dos alunos revelada pelo silencio, como uma linguagem, entendida na visão dos professores, como desinteresse para aprender.
Ressaltam a fraca participação dos alunos nos debates e nos trabalhos de equipe;
Evidenciam a desmotivação do aluno para tarefas acadêmicas
Destacam o mal estar face ao desinteresse manifesto dos alunos pela leitura;
Faltas excessivas e justificativas de ausências as aulas.


          Desta forma, conclui-se ser que a motivação tem um significado pedagógico, sendo um dos fatores essênciais ao processo ensino-aprendizagem. Daí ser capital, do ponto de vista da formação docente, avigorar a discussão sobre o tema nos curso de formação continuada, em reuniões de professores, pesquisa de opinião, seminários docentes, pedagógicos, programas de apoio ao aluno, palestras e colóquios, entre outros eventos educativos.


Referencia bibliográfica

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: edições 70, 1977
TAPIA, Jesus Alonso e FITA, Enrique Caturla. A motivação em sala de aula: o que é e como se faz? São Paulo: Loyola, 2004.

PETRAGLIA, Isabel Cristina, MORIN, Edgar – A Educação e a Complexidade do Ser e do Saber. São Paulo: Vozes, 2008.

SERRANO, Daniel Portillo Teoria de Maslow - A Hierarquia das Necessidades www.portaldomarketing.com.br, 02/07/2000


















PERGUNTA QUE OS PROFESSORE RESPONDERAM

Estudo dirigido


— O que um professor pode fazer para que seus alunos se interessem por sua matéria?
— Como assegurar que os alunos serão capazes de realizar o esforço sistemático que o estudo e a compreensão dos principais temas requerem?
— Por que determinado aluno não avança em minha matéria quando as capacidades que intuímos nele são mais que suficientes?
— Como poderia conseguir que o interesse que determinado aluno tem por outra matéria o tivesse também pela minha?
— De que maneira deveria organizar minha sala de aula para que a maioria dos alunos se interessasse pelas atividades e tarefas realizadas?
— Que conteúdos são mais adequados para que nossos alunos realizem uma aprendizagem significativa?


PERGUNTAS QUE OS ALUNOS RESPONDERAM

Quais os fatores desmotivadores na sala de aula?



Eu
Regina Barros Leal

Eu nasci, sorri com as rosas e dormi na noite vestida de estrelas
Eu acordei e olhei para o céu em chamas
Eu andei e encontrei o amigo que corria nas manhãs de chuva
Eu chorei e me banhei em lágrimas de pérolas
Eu me vi e encontrei uma mulher em combate
E ai o que fazer se não encontro as águas da cachoeira mágica?
Aquela que transforma maus em bons
Revi
Escondendo nas almofadas os meus dentes de leite
Mas passei despercebida no reino encantado das fadas dos dentes
Vexame de criança desolada!
Eu cresci nas terras de ninguém e encontrei a vastidão humana
Venci as dores do mundo, navegando nos mares ditosos
Dormi nos braços de Orfeu sem desvendar os mistérios da lua

Trêmula ao vento



Trêmula ao vento
                       
      Regina Barros Leal

Sinto-me diferente com os ventos de verão

Qual pena sem rumo levada a ermo

Entontecida, deixo-me desfolhar

E vou me sentindo nua

Visto-me  de sonhos largos
 
Mas os fortes ventos me entontecem

Vigorosa ventania !

Resiliente , continuo firme
Assim, o tempo passa

Permaneço debaixo da árvore que eu encontrei no caminho
 
Recolho-me à sua sombra e busco a proteção dos anjos

As vestes de sonhos me aquecem
Sinto- me uma calma, sem aflições  inquietantes



A varredura da mente


A varredura da mente: um desafio

Estava sentada pensando na vida e me veio a mente o livro de Yalon:   A cura de Schopenhauer quando o psiquiatra Julius,  em seu grupo psicoterápico ,ouvia os depoimentos dos participantes, sua angustias, medos e tantas outras circunstâncias humanas... Lembrei-me de Pan, uma das pacientes que buscava a acalmar sua mente através da técnica da meditação budista: Vipassana. 
A Varredura da mente, realmente é um estado de plenitude circunstancial, a meu ver. Em todas as experiências com meditação, na Yoga, em momentos diversos, não conseguia varrer da minha mente os meus mil  pensamentos. Eles iam e viam com uma rapidez flutuante. Em algumas ocasiões, eu alcançava por , alguns minutos,   o descanso ao imaginar uma luz azul entre meus olhos. Mas era rápido, pois as idéias, as imagens chegavam devagarzinho e depois flutuavam aflitos em minha mente em desalinho. Respirava e continuava tentando. Conseguia por alguns segundos... E, novamente, me sentia invadida por  pensamentos paradoxais. Meu Deus! Essa realidade me cansava e resolvi sair da Yoga e arriscar outras maneiras de meditar.
Hoje tento praticar com meus alunos, quando estou proporcionando  um relaxamento em sala de aula. Outras vezes, em casa, escutando músicas  e na praia à tarde vendo o por do sol.
No entanto, em circunstancias outras, não obtenho nenhum resultado e termino no computador escrevendo crônicas, poesias e estórias de tantos outros momentos.
Compreendo a complexidade humana, suas inquietações existenciais, as dores que nos abatem, os medos que nos cercam e a esperança que não nos deixa desistir de viver na plenitude circunstancial, eternizando cada momento vivido.

  14 de outubro 2012

Desconcertada


Desconcertada
   
Regina Barros Leal


Retirou do guarda-roupa as blusas, os lenços coloridos...
De um por um, tentava vestir  o corpo cansado
Reflexo incontestável, não deixava duvidas
Os braços enormes e o corpo mais largo.
Rosto redondo e as  marcas do tempo
Desconcertou- se frente ao espelho
O humor desencantado revelava-se
Mas calou sua dor
O céu escureceu e a tristeza veio vestida de cinza
Melancólica, aceitou a circunstancia de aflição
Então, refletiu de imediato, tudo passa...
Há momentos de prazer, dizia para si mesma.
E vieram...
No outro dia
Sorriu com as borboletas coloridas
Olhou-se no espelho encantado
Nadou no rio da esperança
Cantou melodias de amor
Percebeu-se
E a beleza do tempo surgiu vigorosa
E o riso fácil abriu-se como pétalas de rosa

Quem sou eu

Minha foto
Fortaleza, Ce, Brazil
Sou uma jovem senhora que gosta de olhar o mundo de um jeito diferente, buscando encontrar o indecifrável, o indescritível, o inusitado, bem como as coisas simples e belas da vida.