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quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Regozijo

 

 Regozijo

                                       Regina Barros Leal

 

Ah! Meu coração deflagra alegria

Suspiro forte, abafando um ar que não vejo

Sinto minhas emoções, espargindo euforia

E o corpo avigorado, se expande benfazejo

 

As lágrimas de alegria são abundantes

Enquanto eu, vivo momentos intrigantes

A esplêndida natureza, permanece em regozijo        

Pasma, vi o legítimo e o inexorável infinito

 

Nesse instante, da mais pura transcendência

No encontro de mim mesma, busco o silencio

O Divino me alcança, em sua benevolência

 

O júbilo me invade e não vejo fronteiras

Aquieto meu corpo, com boas maneiras

Serenidade descubro, no olhar sem viseiras

 

 

 

REGINA BARROS LEAL Oficina de poesia)

2018

 

 

 

MÃE DOCE LEMBRANÇA

 

 

MÃE! DOCE LEMBRANÇA

                                                         

Organizando as gavetas dos armários deparamo-nos com o passado

A camisola branca, de fino algodão com os graciosos bordados à mão! 

Cheiramos as peças antigas, brancas, delicadas e preciosas

Sentirmos o aroma de talco e sabonete. Pura imaginação!

As lembranças explodiam como tintas jogadas na tela da existência

Uma rajada de calor envolveu o ambiente de ternura

Surgindo impetuosas, as recordações flutuavam no ambiente

O quarto transfigurou-se aportando-se ao singular passado

Emoção e saudade! Amor incondicional!

Os gestos delicados, afagavam-nos e alçávamos um voo delicado

Vieram as lágrimas e a ternura alastrou-se no quarto.

Mamãe, com seu lindo sorriso no agora!

Ali estava com seu jeito meigo, os gestos de amor envolventes, cálidos!

Proteção! Entendimento, Compreensão. Maternidade!

Ouvíamos contando suas estórias infantis! Teatralizando a emoção!

Príncipes, duendes, magia, fantasia, cavalos alados, lirismo...  Mil contos!

Minutos que se eternizaram ...em nossas vidas

Alguém nos chamou!

Rompeu-se a ponte que nos lançou ao local longínquo

Saudades!

Anotações- Na casa da Heloisa (minha irmã Heloisa) olhávamos peças de roupa Entre elas, camisolas, robes e lenços da mamãe. Heloisa guarda há tempo. Recordamos situações!  Mamãe, terna, benevolente e ingênua, escrevia estórias infantis. Daí o poema inspirado na saudade

 

O CASARÃO REVISITADO

 

 


                             

                                                

          Silêncio no casarão. Tínhamos ido repartir os objetos: porcelanas, lustres pintados. Ah! Aquela mesinha de vidro. Telefones antigos, retratos, espelhos, cadeiras, dentre outros, que fizeram parte de nossa história. Estávamos desajeitados. A ampla sala, palco de festas e reuniões, desnudada, refletia o abandono. O casarão tinha sido comprado e certamente seria demolido.

           Sentamos e olhamo-nos como que perguntando por onde começar.  Um silêncio... Marejado de reminiscências. Depois, como que para quebrar o gelo, iniciamos a partilha. Contingência. Tivemos que nos desfazer do casarão. Era um contentamento miúdo, misturado à melancolia, mas sutilmente afugentada diante da satisfação de outras necessidades resolvidas.

          Enquanto meus irmãos conversavam, subi ao meu antigo quarto, colcha branca, protetora e repousante, refúgio de júbilo e aflições não ditas. As janelas descortinadas deixavam entrar os últimos raios de sol daquele fim de tarde. Recordei passagens singulares. Comecei a rebuscar minhas lembranças infantis: estórias povoadas de fadas, bruxas, princesas, piratas, fantasmas. Evocações permeadas de uma alegria medrosa. Coisas de criança. Buliçosamente, entrevi meu passado povoado de fantasias.

          Insisti. Reencontrei minha infância, saudável, naquele casarão, com minha família, onde vivi minhas experiências de criança privilegiada. Não faltavam chocolates, doces, brinquedos, nem tampouco amor. Que lembranças! Jogando “mãos ao alto” com meus irmãos, brincando de adulto, organizando peças de teatro. Eu, então, alegrava-me ao cantar. Naquela época, meus pais armavam um palco numa garagem bastante espaçosa, com cortina de veludo vermelho, tablado, tudo a que se tinha direito, e convidavam a família. Meus tios elogiavam a atuação dos seus pequenos artistas, alguns meios atrapalhados, pequenos iniciantes, amadores. Era um momento mágico, onde a fantasia corria nos campos da imaginação. Quase indescritível.

          Como saboreava aquelas tardes compridas que se encontravam com a noite que chegava de mansinho! O entardecer.  Recordo-as, nitidamente.  Foram de uma beleza, ímpar porque permeados pela magia dos sonhos e dos folguedos infantis. Rir, saltar, correr, pular de corda, andar de bicicleta... Tudo isso naquele espaço enorme onde meu pai construíra o casarão. Ah! Meu pai. Homem inteligente. Personalidade marcante. Sujeito avançado, criativo, lépido e determinado. Um visionário. Seu legado de força influenciaria nossas vidas. Ele se eternizou em cada um de nós.

            As recordações brotam. Meus 15 anos! Adolescência. Os fortuitos namoros, as mãos trêmulas, os medos, as primeiras descobertas, o primeiro beijo. As serenatas!  As canções apaixonadas e os corações saltitando sob as camisolas de seda. Janelas descerradas e olhares de paixão. Ali escutávamos os trovadores juvenis. Minha mãe, doce criatura, compartilhava de nossas emoções. Sua presença confundia-se com a magia da noite. Afetuosa mulher

           18 anos! O caminho das rosas que perfumam e como pássaros, ferem as almas com seus voos vazantes. Descobertas adultas e corpo de mulher. Pensamentos e sonhos imprudentes!  Tempo dos ventos de verão, das tormentas, do paraíso florido nos sonhos fartos e generosos. Os namoros povoavam meus devaneios, Ilusões.  Mas a efemeridade os jogou nas fendas dos sonhos.  Lembrou Victor Hugo: “Sede como os pássaros que, ao pousarem um instante sobre ramos muito leves, sentem-nos ceder, mas cantam! Eles sabem que possuem asas”. Iria voar nas asas das quimeras e adentrar os momentos de fragilidade e transcender o cotidiano na preciosa imaginação e na singular fantasia. 

           Na penumbra do quarto, repassei minha vida e chorei!  Não só pela despedida do casarão, também no adeus aos tropeços da meninada, as esgarçadas relações que se diluíram na distância. Chorei os afetos perdidos, as intrigas não resolvidas, os perdões esquecidos. Sorri, gargalhei com a primavera, com os amores correspondidos, sorri com a chuva de prata dos dias de lua cheia em que namorávamos escondidos, das sessões da tarde no Cine Atapu, os filmes dos faroestes, os românticos, os épicos, e dos heróis. Ainda as novenas da Igreja de Fátima e das missas assistidas. Éramos felizes.

          Ouvi alguém me chamando:

-         Lucia, estamos esperando, desça. Era meu irmão mais velho. Senti sua voz trêmula, inconfundível. Ele sempre foi emotivo.

-         Já estou indo! Respondi um pouco desorientada, face ao brusco retorno ao presente.

          Fui descendo a escada de mármore. Era tão bem cuidada por minha mãe! Aquele mármore branco, reluzente, já desfeito pelo desgaste do desuso.

          Olhei para todos e percebi o quão estavam perturbados. Quem sabe, não fizeram o mesmo percurso? Meus irmãos, crianças de outrora, companheiros de brincadeiras. Hoje, parceiros da saudade.

          Saímos devagar. Ronceiros. Despedidas murmuradas. Rostos entristecidos. Gestos vagarosos.

          Chegando à casa fui guardar os objetos, testemunhos silenciosos de minha história. Não foi fácil vender o casarão, herança de nossos pais, local vivo de muitas recordações. Nós, inquilinos do passado, pagamos um melancólico tributo pela nossa despedida.

           Nessa noite, quase não dormi. 

 

 

EU

 

 

EU

 

Eu nasci com as rosas e dormi na noite vestida de estrelas

Eu acordei e olhei para o céu em chamas

Eu andei e encontrei o amigo que corria nas manhãs de chuva

Eu chorei e me banhei em lágrimas de pérolas

Eu me vi e encontrei uma mulher em combate

E aí, o que fazer se não acho as águas da cachoeira mágica?

Aquela que transforma maus em bons?

Revivi, escondendo nas almofadas, os meus dentes de leite,

mas passei despercebida no reino encantado das fadas!

Vexame de criança desolada!

Eu cresci nas terras de ninguém e encontrei a vastidão humana

Venci as dores do mundo, navegando nos mares d

Dormi nos braços de Orfeu, sem desvendar os mistérios da lua

Pura imaginação! Ou fantasia?


Regina Barros Leal

 

 

 

CORES E ALVORES

                                                          

 Imaginei e fiz uma caminhada em pomares florescidos

Na cena deslumbrante, os matizes e os tons coloridos

Renascimento avigorado! Sorri no garboso passeio

Primavera afinada, qual dardo certeiro, atirado ao vento.

Na sutileza da chegada, o belo se expande em cores

No firmamento, na terra, os seus admiráveis alvores

Vi o trajeto de luzes e, pus a fé no coração

A natureza cintila, germinando compaixão

No acalento do vento, brotam plantas sem temores

No silencio da chegada, o natural pleno de ardores

A primavera nasce sem alarde, quase em surdina

Na esperança do mundo repleno, de energia divina

Assumindo o folego, mergulho nas águas puras

O sol fulgente, causa impressões duradouras

As lindas borboletas voejam no meu jardim

Imersa na intuição, sinto cheiro de jasmim

A água nos córregos, preenchem os sulcos fecundos 

Os cheiros, as orquídeas e a diversidade dos mundos

Eis aí a primavera ao som de Vivaldi!

 

Regina Barros Leal

Quem sou eu

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Fortaleza, Ce, Brazil
Sou uma jovem senhora que gosta de olhar o mundo de um jeito diferente, buscando encontrar o indecifrável, o indescritível, o inusitado, bem como as coisas simples e belas da vida.