Tempo
Regina Barros Leal
Foi-se o tempo de encontros infinitos. Foi-se o momento da revelação
sublime. A cotidianidade permitiu o desvanecimento dos sonhos infindáveis. Ah!
Quem sabe o que virá depois? Eternos gestos de cumplicidade vãs ou finitos
sentimentos de perdas recorrentes? Não sei se a vida se nos revela como uma
incógnita perdida na irremediável capacidade de sonhar. Há tantas coisas que
não se compreende pela racionalidade humana, bem como tantas outras que se
explicam. Veja, se a dor que nos acompanha não se resguardasse nos recantos de nossa
alma, como poderíamos ser felizes, nem que fosse por um instante? Viver significa morrer a cada dia, mesmo
assim insistimos, e é a aventura de viver e a capacidade de nos sentirmos
eternos que marca e singulariza a existência humana.
Creio ser hoje um daquelas ocasiões em que nos reconhecemos frágeis,
infinitamente frágeis pela certeza de nosso tempo finito. Percebo que este
momento me faz pensar em outros que virão e, é essa certeza que me permite
continuar sendo. Mesmo assim, infindáveis indecisões me acercam a alma
atribulada pela dúvida e por não tocar as estrelas e sentir o indecifrável
revelado no sentido cósmico.
Tanta racionalidade e emoções efêmeras quando da
constatação da irremediável partida. A consciência do limite me embaça os olhos
e não me deixa ser tranquila neste instante. Choro a convicção da perda, da
saudade e do sentimento de ausência dos que se fizerem presentes em minha
existência.
Nem
sei se deveria escrever sobre tal emoção doída, mas como negar o que se passa n
‘alma? Um lamento silencioso se espalha e encontra refúgio, e não sei ao certo
onde ele se esconde.
É
tempo de dor, de alegria, de sentimentos contraditórios! É tempo de reconhecer
um tempo que esvairá no tempo. A temporalidade existencial é farta de significados
humanos. Não é só a cronologia que define o tempo, mas, sobretudo o valor que a
emoção lhe confere. O tempo de hoje, para mim em especial, tornou-se um tempo
envolvido de dúvidas, da certeza das incertezas, de um tempo que ainda não
defini. Não será essa perplexidade que faz do tempo uma eternidade?
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