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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Fui te buscar


Fui te buscar
                                   Regina Barros leal
Fui buscar na noite o teu rastro
Olhei o mar, o céu e a terra.
Senti a brisa do teu olhar perdido
E ai encontrei vestígios do amor
E os nossos sonhos encheram a noite de estrelas mágicas
Encontrei a lua nos meus longos cabelos de rosas
Sorri diante do inevitável encontro com o tempo do amor
Ah! Senti então meu corpo brilhando com as estrelas
Iluminada, subi nas asas dos meus sonhos
Busquei a magia do vôo da águia para além do horizonte
E te encontrei nas passagens de meu bater de asas

Pura fantasia de amor!

Efemeridade de um sonho

Efemeridade de um sonho

                                   Regina Barros Leal

Como desejaria alugar minha alma
Para alguém cuidá-la
Conservá-la limpa
Sem manchas
Sem sombras
Imaculada na esperança
Plena no tempo do devir
Estreita na efemeridade dos sonhos vãos
Ah! Que me dera repousar nas águas das cachoeiras
Banhar os cabelos
Molhar o corpo
E, enquanto outros trabalham
Eu descanso na fantasia



O Casarão revisitado
                                 Regina Barros Leal
                                                          
            Silêncio no casarão. Tínhamos ido repartir os objetos: porcelanas, lustres pintados. Ah! Aquela mesinha de vidro. Telefones antigos, retratos, espelhos, cadeiras, dentre outros, que fizeram parte de nossa história. Estávamos desajeitados. A ampla sala, palco de muitos encontros, desnudada, refletia o abandono. O casarão tinha sido comprado e certamente seria demolido.
             Sentamos e olhamo-nos como que perguntando por onde começar.  Um tempo silencioso... Marejado de reminiscências. Depois, como que para quebrar o gelo, iniciamos a partilha. Contingência. Tivemos que nos desfazer do casarão. Era uma satisfação miúda, misturada à melancolia, mas sutilmente afugentada pela satisfação de outras necessidades resolvidas.
            Enquanto meus irmãos conversavam, subi ao meu antigo quarto, colcha branca, protetora e repousante, refúgio de júbilo e aflições não ditas. As janelas descortinadas deixavam entrar os últimos raios de sol daquele fim de tarde. Recordei passagens singulares Comecei a rebuscar minhas lembranças infantis: estórias povoadas de fadas, bruxas, princesas, piratas, fantasmas. Evocações permeadas de uma alegria medrosa. Coisas de criança. Buliçosamente, entrevi meu passado povoado de fantasias.
            Insisti. Reencontrei minha infância, saudável, naquele casarão, com minha família, onde vivi minhas experiências de criança privilegiada. Não faltavam chocolates, doces, brinquedos, nem tampouco amor. Que lembranças! Jogando “mãos ao alto” com meus irmãos, brincando de adulto, organizando peças de teatro. Eu, então, alegrava-me muito ao cantar. Naquela época, meus pais armavam um palco numa garagem bastante espaçosa, com cortina de veludo vermelho, tablado, tudo a que se tinha direito, e convidavam a família. Meus tios elogiavam a atuação dos seus pequenos artistas, alguns meio atrapalhados, pequenos iniciantes amadores. Era um momento mágico onde a fantasia corria pelos campos da imaginação. Quase indescritível.
            Como saboreava aquelas tardes compridas que se encontravam com a noite que chegava de mansinho! O entardecer.  Recordo-as, nitidamente.  Foram de uma beleza, ímpar porque permeados pela magia dos sonhos e dos folguedos infantis. Rir, saltar, correr, pular de corda, andar de bicicleta... Tudo isso naquele espaço enorme onde meu pai construíra o casarão. Ah! Meu pai. Homem inteligente. Personalidade marcante. Sujeito avançado, criativo, lépido e determinado. Seu legado de força influenciaria nossas vidas para sempre. Ele se eternizou em cada um de nós.
            As recordações brotam. Meus 15 anos! Adolescência. Os fortuitos namoros, as mãos trêmulas, os medos, as primeiras descobertas, o primeiro beijo. As serenatas!  As canções apaixonadas e os corações saltitando sob as camisolas de seda. Janelas descerradas e olhares de paixão. . Ali escutávamos os trovadores juvenis Minha mãe, doce criatura, compartilhava de nossas emoções. Sua presença confundia-se com a beleza da noite. Afetuosa mulher
             18 anos! O caminho das rosas que perfumam e ferem as almas com seus voos vazantes. Descobertas adultas e corpo de mulher. Pensamentos e sonhos impudentes!  Tempo dos ventos de verão, das tormentas, do paraíso florido pelos sonhos fartos e generosos. Fred, Marcelo povoavam meus devaneios. Mas a efemeridade os jogou pelas fendas do tempo.  Lembrou Victor Hugo: “Sede como os pássaros que, ao pousarem um instante sobre ramos muito leves, sentem-nos ceder, mas cantam! Eles sabem que possuem asas”. Iria voar nas asas das quimeras e adentrar os momentos de fragilidade e transcender o cotidiano na preciosa imaginação e na singular fantasia. 
             Na penumbra do quarto, repassei minha vida e chorei!  Não só pela despedida do casarão, mas pelo adeus ao tempo, aos tropeços da meninada, as esgarçadas relações que se diluíram na distancia. Chorei pelos amores perdidos, as intrigas não resolvidas, os perdões esquecidos. Entretanto sorri, gargalhei com a primavera dos amores correspondidos, sorri com a chuva de prata dos dias de lua cheia em que namorávamos escondidos, das sessões da tarde, das missas assistidas. Éramos felizes.
            Ouvi alguém me chamando:
-           Lucia, estamos esperando, desça. Era meu irmão mais velho. Senti sua voz trêmula, inconfundível. Ele sempre foi muito emotivo.
-           Já estou indo! Respondi um pouco desorientada pelo brusco retorno ao presente.
            Fui descendo a escada de mármore. Era tão bem cuidada por minha mãe! Aquele mármore branco, reluzente, já desfeito pelo desgaste do desuso.
            Olhei para todos e percebi o quão estavam perturbados. Quem sabe, não fizeram o mesmo percurso? Meus irmãos, crianças de outrora, companheiros de brincadeiras. Hoje, parceiros da saudade.
            Saímos devagar. Ronceiros. Despedidas murmuradas. Rostos entristecidos. Gestos vagarosos.
            Chegando a casa fui guardar os objetos, testemunhos silenciosos de minha história. Não foi fácil vender o casarão, herança de nossos pais, local vivo de muitas recordações. Nós, inquilinos do passado, pagamos um melancólico tributo pela nossa despedida.

             Nessa noite, quase não dormi.  

Sem rumo certo

Sem rumo certo
                                                           Regina Barros Leal
                Vinha andando distraída consigo mesma. DE quando em vez, envolvida em seus pensamentos perdia direção do rumo certo. Surpreende-se com o lugar. Com certeza não era este o seu destino. Mas, veio à tona uma vontade de conhecer o local, até então desconhecido. Parou o carro. Olhou em volta e deu-se conta. Era um daqueles bairros desolados pelo abandono. Pessoas perambulando. Chamou-lhe atenção uma velhinha simpática e sorridente cantando uma bela musica. Rosa.  Percebeu... Fazia tempo que não via uma cadeira de balanço ocupada por alguém cantarolando, sobretudo na calçada.  Parou extasiada diante da cena. Márcia aquietou-se e ficou ouvir àquela senhora de cabelos brancos amarelados pelo mau trato. Depois de certo tempo, alguém apareceu e fitou Márcia com um olhar assustado, diante da cena: uma jovem senhora, bem vestida, de saltos altos, saia e blusa de linho branco e com um perfume de rosas.  Diante da cena, algumas pessoas pararam e começou um vozerio. Foi quando ela, a senhora que cantarolava viu Márcia e deu-lhe a mão pedindo ajuda para levantar-se. Assim ela o fez. A velhinha entrou de mansinha na casa ao lado. Findou o tempo.

                Márcia saiu silenciosa.

O inusitado

 INUSITADO
Regina Barros Leal

Era uma daquelas noites de insônia... Estava inquieta, com vontade de descansar, mas o sono, tão avidamente desejado, não chegava. Tentando afastar minha irritação que tendia perigosamente a exacerbar-se, procurei refúgio em minhas recordações. E foi acontecendo... lembranças muitas, da infância, da adolescência, dos meus tempos no colégio. Ah! Que saudade! Presente na doce reminiscência do meu tempo juvenil senti as afáveis memórias de quando era adolescente!
E assim fui-me aventurando nessa caminhada no tempo. Ria pelo inusitado da descoberta de emoções esquecidas, mas não perdidas. Lembrara-se da queda na calçada, com o sorvete respingando na blusa branca de seda, da farda de gala do colégio... Que rubor!

Meu corpo foi relaxando e invadiu-me uma sensação de conforto. Eis que de repente o fato se achega. Aproxima-se, eu o acolho e resgato a emoção da circunstância vivida. Recordava o local, os detalhes, a hora, o constrangimento. Saltei da cama, já em desordem pelos movimentos de desassossego. Olhei para o relógio. Eram 2 horas da manhã de quarta-feira do dia 17 de março de 1998. Guardei o dia, pois se tornaria, dali em diante, um marco em minha vida, embora somente o soubera depois...
Vi o computador. Puxa vida! Lancei um olhar atrevido e gostei de saber que poderia utilizá-lo no tempo certo. Eu tinha a decisão. Comecei, então, a escrever. O mais interessante é que tudo fluía de uma forma tal que, em algumas vezes, me atrapalhava, em face da enxurrada de lembranças.
Entranhada no passado fui, aos poucos, me reconhecendo. Os dedos febris, saltitavam nas teclas numa velocidade até então desconhecida; eu não podia perder segundos dos preciosos registros da memória. Perplexa, fui deixando acontecer e o texto foi se arrumando. Desconcertada pelo que acontecia, parava algumas vezes, mas por frações de segundos, pois logo me via impelida a continuar. E assim aconteceu. Foi pulsante. Ao terminá-lo, tive uma sensação agradável de realização. Descobrira que o prazer tomara conta de mim e que essa situação destacava-se de tantas outras por sua diversidade singular. Eu encontrara, em mim, algo, a satisfação de escrever, não os escritos acadêmicos, técnicos, mas um texto especial; outro modo de me expressar. Gostei do que fiz. E naquela noite produzi minha primeira crônica: “Desencontro”. Voltei para a cama e dormi serenamente.
De lá para cá não consigo parar. Não sei ao certo se é pelo entusiasmo que me envolve, ou, talvez, por encontrar refúgio de tantos sentimentos, mas sinto uma vontade frenética de escrever. O quê? Quem sabe? Mas, sei que vou continuar...
Ah! Disso tenho a mais sincera convicção.

Estranhamento

 Estranhamento
                            Regina Barros Leal
Márcia pensava sobre as ondas fugazes do tempo que passam e nem conseguimos alcança-las. São movimentos velozes que nos deixam perplexos! 50, 60 anos chegam tão rápidos!
Ouvia o vento uivando na janela semiaberta do quarto! Percebia as folhagens irrequietas enroscando-se nos jarros da varanda bem cuidada.  Sentada e olhando a singular circunstancia ela presenciava o momento fascinante.
Os ventos de verão na irreverência da natureza, balançavam a estante de madeira, os jarros de flores, os enfeites da mesinha de vidro. Como se todos reverenciassem sua majestosa e fascinante presença. Legítima beleza! Os objetos moviam-se com as rajadas de seus suspiros. Era madrugada e a janela da sala estava aberta deixando que invadissem o recanto com seu perfume natural e a selvagem forma de adentrar o ambiente.
Solitária, com os braços enroscados em si mesma, sentia o corpo estremecer de frio. Não agasalhara-se naquela noite. Desatenta ao tempo, pousara aventureira na sala, como as borboletas que em voos errantes ferem suas belas asas, as quais machucadas, perdem o brilho colorido em sua forma original. Pobres seres distraídos!
Lia avidamente o romance intrigante e, de repente, ouviu o som ruidoso vindo de seu quarto. Aflita levanta-se e, mais do que rapidamente subiu os degraus de madeira, adentrando impulsivamente no quarto azul de cortinas coloridas, leves e esvoaçantes!
Susto! Notou o belo afresco de Siqueira, que tanto gostava, esparramado no chão, juntamente com o vazo de cristal com as belas orquídeas que recebera de presente. O vento os derrubara violentamente, sem mesuras ou qualquer outro cuidado. O vento que tanto amava!
Sentada no chão chorou, não pelos artefatos caídos e espedaçados, mas por seus sentidos afetivos. Como a tempestade veem sem aviso, suas lagrimas banharam seu rosto aflito. Meu Deus! O quadro que concebia a essência do pintor, do amigo que já se fora. O jarro de cristal, lembrança terna de sua mãe que partira sem dizer adeus. Convulsivamente deixara-se tomar pelo pranto e soluçava. Nem sabia se era pela forte emoção da saudade, do significante da circunstância ou porque naquele dia não se percebia plena.
Marcia, perplexa alcançou uma lembrança.  Seu avô contava sobre uma experiência ao precipitar-se no açude perto de sua casa situada numa pequena cidade do interior. Viu-se enrolado em galhos verdes, vegetação traiçoeira no cenário do medo. Em pânico e sufocando não conseguia subir à margem. Seu irmão o salvara do afogamento iminente.
Recordando do fato adentrou no silencio. Ah! Aquele silencio do finito, do não descrito, da perda, do inevitável. Durou segundos! Levantou-se e olhando-se no espelho percebeu sua agonia e refez-se.

E ai? Foi um estranha emoção. 

Patricia

Patrícia
            Noite agradável. Os ventos de verão assobiavam nas janelas e, ao penetrarem no ambiente derrubavam objetos mal colocados. Cantavam, choravam, como uma orquestra afinada. Clarisse fundia-se no clima solto dos ventos e sonhava.
            Como de costume abriu a caixa e retirou um colar colorido de carnaval de sua caixa de lembranças. Patrícia sempre a chamava para irem aos clubes em Laranjeiras. Tinha um grupo de amigas que brincavam e, ela, divertia-se com aqueles sons de batuque dos negros na passarela e as marchinhas. Laranjeira enchia-se de bandeiras coloridas e confetes, As praias lotadas de foliões, os bares e restaurantes tocavam constantemente, buscando a animação carnavalesca.
            Os pais de Clarisse amavam os bailes de máscaras e não perdiam a folia. Muita festa, alegria e lança perfume. Os clubes lotavam e os carnavalescos animam a cidade.
            Nas praças, à tarde, a bagunça dos foliões do  mela ..mela. Uma de loucura total. Clarisse levava os filhos e Ronaldo detestava O palco das ruas bagunçava-se de maizena, ovos quebrados e, confetes.
            E as escolas de samba do Rio de janeiro? Festa deslumbrante que enchia os olhos de magia e encantamento. A letra de cada escola e o motivo escolhido quase sempre destinava-se aos artistas famosos da Globo, aos temas impactantes do país. Ronaldo a acompanhava, muito embora não tivesse paciência. Quase sempre dormia.
            Vestida de Odalisca, Patrícia arriscou a sair do clube Atlântico com um rapaz que conhecera na festa. Não avisou aos pais. Meia noite e ela aparece completamente alcoolizada. Desmaiou e foi levada às pressas ao hospital por seus pais, Amália e Rogério. Entrou em como alcoólica. Um grande susto que deixou todos atormentados A festa acabou para ambas famílias. Carnaval que não findou na quarta feira de cinzas. Frustação.
            Ao voltar para casa, Patrícia, envergonhada, pediu suas desculpas e fechou-se para os amigos. Seus pais a castigaram por seis meses. Não participou de festas, nem de aniversários aos domingos, dos familiares. Castigo cumprido.  
            O que mais aborreceu sua família foi saber que o rapaz era um aventureiro, marginal que entrara no clube como penetra e a seduziu com seu sotaque estrangeiro. No outro dia a polícia descobriu que ele era um assaltante  fichado na cidade vizinha,



Mulher

Mulher!
                        Regina Barros Leal

Eu senti um gosto de cereja em minha boca sedenta
Cortei as rosas brancas para fazer um buque
E me presenteei
 Avermelharam-se com minhas lágrimas de amor distribuído
Corri então pelos campos e varri a areia dos meus olhos de esmeralda
Ardiam e não me deixavam ver o sol nutrindo a terra de possibilidades.
Passei as mãos calejadas de luta pela liberdade na tentativa de romper a escuridão
Nas frestas do espaço construído pelas ilusões, adentrei nas bolhas de sonhos coloridos.
Encontrei minhas duvidas cortantes, minhas paixões alucinantes, meu Eu, minha agitação.
Vi-me mulher! Combativa! Desiludida. Esperançosa.
Laçando esperanças na estrada e com a espada dilacerava a terra em sulcos profundos
Forte e frágil, triangulo e quadrado, nada e plenitude.
Observei e sorri! Grande e pequena, meiga e cruel, mas mulher.
Aí vi a diferença de nem sei o que!
Gostei e se eu pudesse nasceria de novo.
Com a alma diluída nos fluidos amorosos
A feminilidade umedecida de quimera, do complexo e do real.
Mulher simplesmente mulher


                                              


Quem sou eu

Minha foto
Fortaleza, Ce, Brazil
Sou uma jovem senhora que gosta de olhar o mundo de um jeito diferente, buscando encontrar o indecifrável, o indescritível, o inusitado, bem como as coisas simples e belas da vida.