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sábado, 19 de novembro de 2011

A FESTA DE CASAMENTO




                                                           Regina Barros Leal

Uma tarde de domingo. A meninada corria na praça ao lado. A vila estava em festa. Era o dia do casamento de Lucinha, a garota mais bonita de Suruaru. Bem-nascida, filha do Coronel Sinhô, ela espargia cheiro de rosa por onde passava. Todos os rapazes sonhavam casar com ela. Só sonhos. Lucinha iria esposar o bacharel em direito, Dr. Eduardo, moço bonito das bandas da capital. Rapaz engomado, com ar de opulência escancarada. O pessoal de Suruaru não simpatizava muito com o seu jeitão de menino mimado. Mas, o que fazer? Iria assistir à chegada dos noivos, do lado de fora da igreja, pois que só entrariam os convidados do Coronel: a gente importante da cidade. Um magote de gente fina, embestados, assim dizia Zé Mãozinha, apelidado por conta de um defeito de nascença. Sua mão esquerda era  pequena e com os dedos encolhidos em concha.
           
            A vila toda estava do lado de fora da igreja, com exceção do padre, do juiz, com sua mulher e filhos, do promotor, dos deputados, do Dr. Soluço, médico da cidade que herdara o apelido pelas frequentes noites de boêmia. Além deles, os ricos da cidade. Foram esses os convidados. Aos outros, fora-lhes dado o direito de assistirem à entrada e à saída dos noivos e convidados.

            18 horas. Os sinos tocaram anunciando um tempo de festa.  Aperreados, o padre e o sacristão apareceram na frente da igreja. Faltara a Amelinha, a moça que parecia um rouxinol ao cantar. Maria, sua amiga de infância, acalmando os ânimos, afirmava para não se preocuprarem. Amelinha era assim mesmo, agradava- lhe chamar a atenção.  Pouco tempo depois, dissipando as dúvidas, ela descia do Jipe, acompanhada de sua mãe, Dona Emengarda, costureira famosa da região.

            19 horas. Os convidados, mulheres, homens e crianças, arrumados de tal maneira que mais pareciam manequins de lojas chiques, desdenhavam as mulheres fofoqueiras de Suruaru.

Os carros encostavam e, de dentro deles, desciam senhoras cheias de paetês e plumas, magras, opulentas, caminhando com pouca desenvoltura sobre sapato de salto alto e de bico fino; homens de ternos escuros, crianças e jovens coloridos e sorridentes. Não havia indícios de escassez, muito pelo contrário, era uma festança, assinalando uma riqueza atordoante.

 O casamento era de arrebentar! Afinal, ela era a filha do coronel Sinhô, o homem mais poderoso daquelas bandas.

            20 horas. O noivo aparece de fraque branco e cabelos brilhantes. Irradiava alegria e certo toque de esnobismo.



 21 horas. E a noiva não aparecia. O burburinho da igreja já ecoava. Os convidados, desassossegados, mexiam-se nas cadeiras. Alguns haviam chegado às 18h30min. Que desperdício de tempo! Resmungavam. O calor desmanchava os penteados de algumas convidadas que exageraram no laquê. O noivo, a essa altura, enxugava a testa molhada de suor, já brilhando ao efeito da luz da capela, que, por sinal, estava enfeitada com flores do campo e rosas vermelhas.

O tempo passava inexorável, e nada da noiva! Nisso, chegou correndo um menino da fazenda. Era o Tonho. Procurava o Coronel. Foram para a sacristia. O noivo, já pálido, pedia um copo com água. A mãe, quase desfalecendo de ansiedade, embaraçada pelo vexame, não sabia onde colocar as mãos trêmulas pela aflição da espera.

O Coronel chamou o noivo, e conversaram baixinho. Zombeteiros, os convidados já cochichavam maliciosamente, afirmando que a noiva não viria, desistira de casar.

 Passaram cinco intermináveis minutos. Logo depois, voltando da sacristia, o noivo demonstrava alívio. Parecia estar mais calmo. Seu rosto expressava um sorriso amarelo. Algo estranho teria acontecido, mas o problema já fora solucionado. Dessa forma, retorna ao seu lugar, muito embora abatido.

 O coronel, ressabiado, dirigindo-se aos convidados com um gesto de mão, comunicava que a noiva estaria vindo.

Poucos minutos depois, eis que ela chega. Desce do carro. Os cabelos soltos, adornados por uma linda tiara, desciam sobre os ombros. O vestido era branco, de renda francesa, bordado de pérolas e pedras. Circulava o boato de que o coronel o encomendara de Paris. Lucinha, a noiva, descorada, um pouco atordoada, revelava um rosto contorcido por algum desconforto. Adentrou a Igreja, ao som da marcha nupcial, devagarzinho, segurando o braço do coronel.  Seu andar vacilante, desengonçado, denotava insegurança. Conseguiu, a muito custo, chegar ao altar, revelando esgotamento pelo visível esforço.

           O padre iniciou a celebração. Todos acompanharam a missa. Lá para as tantas, o coronel deu a entender ao celebrante que fosse mais rápido. Pronto atendimento. Terminou a cerimônia. Nem a cantoria aconteceu. Os noivos se beijaram e, desajeitados pela pressa, quase escorregaram ao sair da igreja. Pareciam consternados. Nem as flores jogadas fizeram brilhar os seus rostos aflitos. Tampouco compareceram à recepção.

            Comentaram que Lucinha tinha sido acometida de uma forte diarréia. Comera um queijo arruinado. Era tamanha a dor de barriga que quase não conseguira ficar em pé. Foi necessário usar uma fralda da avó que sofria de incontinência. Falaram até que o vestido de noiva ficou uma desgraceira.

Pior! Dizem as más línguas que, naquela noite..., o noivo passara o tempo abanando o vento.

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Fortaleza, Ce, Brazil
Sou uma jovem senhora que gosta de olhar o mundo de um jeito diferente, buscando encontrar o indecifrável, o indescritível, o inusitado, bem como as coisas simples e belas da vida.