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terça-feira, 15 de abril de 2014

Emoções em forma de palavras


                                                                       Aíla Sampaio


Itinerários vem confirmar o talento de Regina Barros Leal para transformar emoções em palavras, com a sensibilidade dos seres ímpares que já nascem predestinados a viver em carne viva. Ela capta a essência de tudo que a cerca e toma como suas as dores do mundo, cumprindo, em sua travessia existencial, os preceitos filosóficos de Sartre, para quem o homem, estando condenado a ser livre, carrega nos ombros o peso do mundo inteiro: é responsável por si mesmo e pelo outro.

O conjunto de crônicas que compõem o volume parece arrancado das páginas de seu diário e permite que vasculhemos sua intimidade e nos inteiremos de suas verdades e angústias. Disfarçada em Márcia ou Lúcia, contando histórias vividas, vistas, ouvidas, desnudando dores suas e alheias, ela põe o dedo em feridas não cicatrizadas e fala de perdas como algo inaceitável. Regina recusa o sofrimento e, em suas “madrugadas gordas de insônia” (Outra vez), confessa o seu cansaço, a sua impotência ante o incognoscível. A insônia, sempre epifânica, leva-a à Clarice numa tentativa de desapriosionamento, na ânsia de aceitar a própria condição de uma existência perecível e efêmera.

É a tristeza diante da confirmação dessa perecibilidade que lhe indica a escrita como forma de catarse, o que ela faz conscientemente, sem pretensão de ingressar em Academias ou receber o reconhecimento da crítica literária. A sua criação transcende rótulos intelectuais, se impõe como forma de sobrevivência de um ser em busca da aceitação da dor inevitável que é viver.  Parafraseando Fernando Pessoa, ouso dizer que ser “escritora” não é uma ambição dela, é a sua maneira de estar sozinha. E é essa solidão (muitas vezes povoada) que traça seus Itinerários, os caminhos, os atalhos e as veredas de uma alma nua tentando desvendar os enigmas e suportar a força dos vendavais, certa de que “não se reescreve a história da vida” (Tormento), mas se pode viver plenamente os seus mistérios.


Embora muitas vezes tristes, suas confissões e histórias não contaminam o leitor com pessimismo, elas revelam que a vida “é truculenta na perda, mas deslumbrante na dádiva de continuar vivendo” (A perda do amigo). Assim, seu senso de humor vai driblando os desencantos, seu desejo de continuar a caminhada sufoca o medo da morte e suas (tantas) noites de insônia possibilitam as perscrutações que a fazem essa mulher extraordinariamente sensível e bela na grandeza da sabedoria que só a maturidade e a reflexão concedem. Contemplemos sua nudez espiritual, que é só luz o que ela irradia!  E, não posso deixar de dizer, juventude, porque “não é só a cronologia que define o tempo, mas, sobretudo o valor que a emoção lhe confere” (Tempo).    

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Fortaleza, Ce, Brazil
Sou uma jovem senhora que gosta de olhar o mundo de um jeito diferente, buscando encontrar o indecifrável, o indescritível, o inusitado, bem como as coisas simples e belas da vida.