Regina Barros Leal
A cabeça
doía. Sentia-se incomodada por um cansaço aborrecido... Essa sensação de
mal-estar indisciplinava seu espírito e ficava a fazer mil e uma promessas para
o outro dia. Quase sempre não as cumpria. Adentrando a madrugada via o dia
chegar sem conciliar o sono. Mais uma noite de insônia! Só essa sensação de
gosto amargo, a noção da impotência diante do fato e a certeza que não
conseguiria dormir. Meu Deus, isso é terrível!
De novo. O tempo se arrasta preguiçoso. Insípida insônia. Esforçava-se
para controlar sua mente dominada por ideias inúteis. Márcia sentia sua cabeça
girar... girar..., enroscando-se nos mesmos pensamentos enfadonhos e
descoloridos... preocupações, problemas irresolutos, medidas tardias, emoções
enfraquecidas pelo exercício em vão de senti-las. Um torvelinho de sentimentos
contraditórios habitava sua alma esvanecida. Assim, a angústia se acercava e
colava-se ao seu corpo quase sufocando. Nem Machado de Assis, Carlos
Drummond... nem Chico Buarque, Gonzaguinha enganavam a maldita visitante. Era
insistente. Tentou, inclusive, despistá-la, mas nada. Continuava sem conciliar
o sono e a nuca retesada pelo estresse reclamava atenção cuidadosa. Resolvera
então sair do quarto e sentar na varanda... pior porque teve os medos de
sempre... assalto... violência... preferiu, então, tomar um copo d’água.
Sentou-se à mesa da cozinha e fumou seu cigarro solitariamente. Seu corpo
exigia a cândida presença da paz que o bom sono permite. Qual o motivo de tanta
insônia? Preocupação, excesso de atividades? Ou a incômoda menopausa? Algumas
amigas afirmaram que além do fogacho, há a falta de sono. Ah! o que o tempo
carrega com ele às vezes é tão enfadonho... tantas mazelas dispensáveis! De
súbito sentiu o quanto se pode usufruir da insônia e resolveu escrever sobre
ela mesma. Não lhe era indiferente. Foi
ao seu quarto e dedilhou sua narrativa insone.
O tempo entregou-se ao seu deleite e criou um texto, misto de torpor e
vivacidade. E lá estava Márcia, nos seus 50 anos, parindo palavras impregnadas
do vivido!
Amanhecera
o dia.
Esgotada pela travessia indesejável, retoma as
suas atividades. Enfrenta o trânsito insuportável, um frenesi desmedido dos
apressados e a mesmice de todos os dias.
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