A FUGA DE JOANA
Regina Barros Leal
Eu buscava entender aquele ato imprevisível
e escorregava na incapacidade humana de assim fazê-lo.
Resolvi,
então, sentir com intensidade a minha inquietação. Meu Deus! Pensava, e não
conseguia compreender. Quem diria, Joana, tão generosa! Ninguém imaginaria,
diziam. Que lástima! A insensatez do seu gesto perturbara a todos. Estavam
atônitos, particularmente os que privavam de sua amizade, de sua companhia.
Perplexidade! Ninguém poderia supor tanto descabimento!
Valdir
entristecera, e, cabisbaixo, resmungava desconsolado. Alimentara durante esses
últimos anos de convivência, uma paixão recolhida.
Seu
José, o motorista, não queria nem acreditar... afirmava que era conversa de
gente má. A moça não seria capaz de tanta insensatez.
As
meninas da outra sala riam baixinho.
Lamentavelmente,
muitas vezes, o infortúnio de alguém gera a alegria de outrem. Pobres seres humanos!
Perdidos em si mesmos.
E o que
acontecera? Perguntavam os distraídos.
Seu
Murilo, o zelador do prédio, levantando as sobrancelhas e deixando escapar um
certo riso amarelo, abriu o bocão de uma só vez:
-
Foi a Joana. Aquela meiga mocinha do bairro vizinho.
Foi embora. Partiu sem despedidas. Que desgraceira!
O fato é que Joana fugira com o seu
patrão, abandonando sua mãe, uma velha senhora de 85 anos, doente, enrijecida
pela artrite impiedosa, quase cega e paralítica. Deixou apenas um bilhete:
- Perdão, mãezinha. Mas fugi para
liberdade. Te amo!
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