Prefácio
A ESCRITURA
DE REGINA BARROS
LEAL
Batista
de Lima
Regina
Barros Leal está estreando em Literatura. O gênero escolhido é a crônica.
Cronista, uma espécie de jornalista da literatura, é, no entanto, o literato do
jornalismo. É, pois, a crônica, um gênero à deriva entre as subjetividades da
narrativa e a temporalidade da informação.
As
crônicas de Regina Barros Leal são garimpadas no latifúndio da memória, esse
inesgotável cenário encravado na nossa mente e alimentado pelos rios do tempo e
riachos das experiências pessoais. Cada um traz em si esse depositário de
vivências que são captadas pelos radares dos sentidos ao longo da vida. Nos
textos em estudo, são as retinas que demonstram ter atuado com mais perspicácia
pelo longo dos dias. Afinal, Regina é detalhista e retém na mente, todos os
contornos dos espaços que palmilhou um dia. Desses espaços, a casa é o mais
vasculhado. A autora, que viu a sua casa de moradia da infância e da
adolescência ser demolida pela especulação imobiliária, agora ergue aquela
construção com todas as suas fundações, na arquitetura textual.
Através
do texto de Regina Barros Leal, adentra-se o seu teto. É até possível se fazer
uma topoanálise envolvendo teto, texto e autora. Os três estão imbricados numa
trindade tão intrínseca, que se tornam inseparáveis, indissociáveis.
O
Atapu teve seu tempo de glória, e Regina viveu esse tempo. Foram os seus anos
dourados, onde a inocência da adolescente tinha como ninho de seu existir, a
casa poética, na esquina da rua Visconde do Rio Branco com a Avenida 13 de
maio, a Igreja de Fátima com suas quermesses e o Colégio das Dorotéias para
moças fortalezenses de fino trato.
Além
desse triângulo do seu espaço existencial, em forma de coração, ainda há a
influência do cinema nos belos anos da autora, tendo em vista que seu pai era
proprietário de uma rede de casas de projeção, em Fortaleza. Seu contato íntimo
com o cinema tornou a adolescente sonhadora mais aproximada do mundo da
fantasia, o que é um alicerce para um dia se entender o mundo da realidade.
Para
qualquer um que não teve a oportunidade de vasculhar o casarão da família
Barros Leal, no Atapu, não tem problema. Toda aquela exuberância arquitetônica
está restaurada, com seus cheiros, seu mobiliário, seus dois pavimentos, o
sítio em volta, ocupando uma quadra da rua, e principalmente, a cozinha de onde
vêm as terrinas de comida bem temperada e dos doces confeccionados com as
frutas do pomar.
Para
conseguir tudo isso, sem perder nada, basta abrir a porta da frente e entrar;
aliás, não a porta da frente, mas a primeira página do livro, e começar a ler.
Regina construiu sua casa com fios de ternura na escrita textual. E agora ela
fica indestrutível.
M